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O Tiozão da Hornet é o cara mais louco do YouTube

Motofilmador, empresário, sucesso no YouTube, ex-motorista e amigo do Chorão. Entrevistamos Kleber Atalla, um cara que curte tirar racha com Ferrari e postar na internet.

Motofilmador, empresário, sucesso na internet, ex-motorista e amigo do Chorão, do Charlie Brown Jr. - inclusive, a primeira pessoa a encontrar o corpo do cantor. Esse cara, mais conhecido como "Tiozão da Hornet", fala alto, com as mãos. Vez ou outra batendo abruptamente na mesa e enfatizando o que diz. "Eu sou transgressor. Eu sou fora da lei no trânsito", esbraveja.

Por trás da cadeira onde ele está sentado, vejo uma placa comemorativa recebida do YouTube, celebrando os primeiros 100 mil inscritos em seu canal. Até essa madrugada, ele contabilizava 370 mil. Mas a conta foi removida pela segunda vez - provavelmente pelo alto número de denúncias. Provando que ele é maluco mesmo, um canal substituto já está no ar. "Ganhei sete mil inscritos em duas horas. Fã é fã", celebra. Entramos em contato com a assessoria do YouTube, mas até o fechamento da reportagem não recebemos resposta sobre o acontecido.

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Menos de quinze segundos de vídeo e o Tiozão se acidenta.

Kleber Atalla começou pilotando uma mobilete na década de 70 às escondidas. O pai repudiava o veículo de duas rodas. Hoje, grisalho aos 53 anos, ele conta que andar de moto não era pra qualquer um. "Era sofrido, e não essa gozolândia que é hoje." Atualmente sua menina dos olhos é uma Tyffany turquesa de 600 cilindradas. "Só comprei essa moto porque ganhei na loteria federal: R$ 125 mil reais. Só de equipamento ela tem R$ 8 mil* investidos." É muita história prum homem só.

Munido de uma GoPro e de um microfone que entra pelo capacete, ele fala todo e qualquer absurdo que vem à cabeça enquanto acelera pelas ruas da cidade, costurando os carros no trânsito e tirando rachas. "Dou vários conselhos sexuais, comportamentais. E nada é planejado. Monto na moto e vou desenrolando." Drogas, dengue, política, acidente de trânsito: tudo é assunto pro Tiozão.

No 2:16 ele avista uma Ferrari e propõe um racha.

As estripulias motorizadas no YouTube, que soma(va)m mares de visualizações, renderam várias dores de cabeça. Desde ameaças de motociclistas, que o consideram persona non grata e uma vergonha para a categoria, até uma intimação policial. O Tiozão foi indiciado por apologia ao crime. E só descobriu isso num dia trágico: quando teve de comparecer à delegacia depois de atropelar um homem na Avenida Duque de Caxias, no centro da cidade de São Paulo. O farol estava verde para os motoristas. Mesmo assim, o sujeito atravessou pela faixa e acabou sendo atingido pelo carro que Atalla pilotava. Uma reportagem da Record diz que ele cometeu uma infração ao mudar de faixa.

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O caso foi dado como homicídio culposo (quando não há intenção de matar). "Me sinto péssimo até hoje. Culpado ou inocente, uma vida foi tirada. Vou responder por tudo isso, fazer o quê? O mais importante é você assumir os seus atos."

Pela velocidade nos vídeos ele ainda não foi julgado, mas sabe que pode perder a carteira de habilitação para sempre. "Antes eu começava os meus vídeos assim: 'Não façam o que eu faço. Esse modo de pilotagem é arriscado. Não é pra ser copiado. Pode causar a morte.' Mas não sei até que ponto servia. É um conflito em mim."

Outro caso emblemático na história do Atalla é sua amizade com Chorão. "Ele era genioso, arrogante em certos sentidos. Era o jeito do cara. Mandão, centralizador. Fizemos uma amizade legal pra caramba", diz. Motorista do cantor por quase dez anos, ele foi a primeira pessoa a encontrar o músico morto depois de sofrer uma overdose em casa, no ano passado.

O motociclista explica que quando ficou preso por causa de drogas, entre 1999 e 2003, foi o cantor quem o ajudou com grana, oferecendo-lhe, então, um emprego: o de motorista. "Ele era loucão. Passional em tudo que fazia. Desde tomar refrigerante até comer, tomar medicamentos, droga, mulher." Hoje, todas as motos dele trazem um adesivo com a foto do Chorão.

Depois da morte do amigo e patrão, o Tiozão resolveu levar a sério algo que já fazia pela internet: vender escapamento. A peça (que custa R$ 900) é seu ganha-pão. "Quebrei o mercado. Cheguei com um produto de valor muito mais baixo que o deles. É um escapamento artesanal. Tem público que não quer sofisticação, acabamento, e sim um preço legal. E que faça um barulho que ele está procurando."

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As 37 milhões de visualizações em seu canal no YouTube também rendiam uma graninha. "Eu era monetizado", explica. Sua mais recente empreitada é a candidatura a Deputado Estadual. Ele diz que caiu de gaiato nisso, mas acha que poderá dar uma ajuda à classe motoqueira se for eleito.

Mesmo sendo um maluco indiscutível, o Tiozão sabe que velocidade e risco são amigos prazerosos - ainda que fatais. "Acho que não vou morrer correndo. Quero ter uma morte sem dor. Dormir e não acordar mais seria o ideal."

* Correção: diferentemente do informado na primeira versão da reportagem, o valor de R$ 8 mil corresponde ao investimento feito pelo Tiozão na moto, e não ao valor total do veículo.

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