Se você não é pesquisador, nem um aficcionado por epidemiologia de doenças infecciosas, dificilmente já tinha ouvido o nome Celina Turchi. Quer dizer, até o fim do ano passado, quando a cientista teve que dar uma pausa nas lentes dos microscópios para posar para as da imprensa internacional. A mudança fazia sentido: ela acabara de entrar na lista dos 10 cientistas mais importantes de 2016 eleitos pela revista Nature, um dos prêmios mais prestigiados do mundo científico.
Aos 64 anos, Celina começava a flertar com uma vida mais tranquila alcançada pela aposentadoria, com menos projetos e mais lazer, quando numa tarde de outubro em 2015 recebeu um telefonema do Ministério da Saúde. A missão era objetiva: identificar a causa dos casos de microcefalia que surgiram no nordeste do país em 2015. A realidade, que mais parecia um enredo de mau gosto de filme B de terror, colocou grávidas em pânico e o País em estado de alerta. Por isso a urgência. Celina não pensou duas vezes em postergar os planos que contemplavam sombra e água fresca. “Desde aquela ligação tinha certeza que estávamos fazendo História”, conta.
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Não foi apenas o currículo respeitado que fez com que a professora titular aposentada do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás fosse o nome ideal para liderar a equipe de 30 pessoas convocadas para detectar as causas de microcefalia. (Ela é graduada em Medicina pela Universidade Federal de Goiás, mestre em Epidemiologia pela London School of Hygiene & Tropical Medicine, nos EUA, e doutora em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo.) O jeitinho de fala mansa e a preocupação em sempre conjugar os feitos no plural são apenas uma das evidências que fazem Celina se destacar também na gestão de pessoas.
Como a zika não estava no radar do governo, toda a pesquisa teve que ser começada do zero. “No começo ficávamos por volta de 10 horas por dia, muito pela demanda, mas muito porque queríamos. Cada momento era uma descoberta diferente, então era muito curioso”, fala. Foi então que o Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia foi batizado de MERG (Microcephaly Epidemic Research Group). “Era muito animado. Então você junta pessoas muito legais com descobertas muito legais. Podemos dizer que, embora exaustivo, foi muito divertido.” Só agora, um ano depois, o grupo está entrando no ritmo “normal” de pesquisa.
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