Alaska Thunderfuck 5000 fala sobre sexo, política e Brasil


Poucos reality shows causam tanta comoção na atualidade como RuPaul’s Drag Race. Indo, na gringa, para sua 9ª temporada em 2017, e com o final da 2ª temporada da versão all stars (a que reúne as melhores e maiores queens que já passaram pela competição), nos EUA, o programa da produtora World of Wonder exibido no canal norte-americano Logo TV rendeu recentemente ao seu apresentador RuPaul Charles o Emmy de melhor apresentador.

Com algumas das oito temporadas disponíveis no Netflix e fãs como Björk (que assiste as desventuras das queens em família) e Marc Jacobs (que já chegou a ser jurado de um episódio), o reality show acompanha RuPaul, a drag mais famosa do planeta (“supermodel of the world”), na busca por novas rainhas através de provas de habilidades e talentos, cheias de humor, premiando, como ela gosta de dizer, “carisma, singularidade, coragem e talento” de suas discípulas.

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Acompanhada por seus fiéis jurados como Merle Ginsberg, Santino Rice, Michelle Visage, Ross Matthews e Carson Kressley, MamaRu (como é carinhosamente chamada) já coroou até hoje oito rainhas: Bebe Zahara Benet (1), Tyra Sanchez (2), Raja (3), Sharon Needles (4), Jinkx Monsoo (5), Bianca Del Rio (6), Violet Chachki (7) e Bob The Drag Queen (8), além de Chad Michaels, primeira integrante a vencer o spin-off RuPaul Drag Race All Stars em 2012, estreando no hall da fama do programa e aí ficando isolado por quatro anos até a chegada da segunda edição da atração, que foi ao ar nos EUA até pouco tempo causando frisson em todo o mundo.

AVISO DE SPOILER: Se você ainda não viu a 2ª temporada de ‘RuPaul Drag Race All Stars’, saiba que o restante do texto e a entrevista contém spoilers.

Fotos: Divulgação/Reprodução.

Reunindo o “crème de la crème” das temporadas passadas, o RuPaul Drag Race All Stars 2 reuniu nomes memoráveis como Alyssa Edwards, Detox ou Roxxxy Andrews. Mas ninguém foi páreo para Alaska Thunderfuck 5000, grande ganhadora coroada pelo programa.

Alaska, ou “a 49º Estado”, como é chamada por Ru, ganhou destaque na 5ª temporada que participou por uma série de razões: havia se candidatado pra todas as seasons sem nunca conseguir passar; era namorada do vencedor da 4ª e mais recente temporada, a assustadoramente divertida Sharon Needles; e possuía um humor, um talento pra atuação e um timing de comédia como poucos.

Atrapalhada pelo clique entre as amigas (que ganhou o nome de “Rolaskatox”), Alaska Thunderfuck 5000 (cujo nome original é Justin Honard) só agora recebeu os louros da vitória. Em RPDRAS2, ela venceu quatro desafios e mostrou versatilidade e um vasto repertório aos juízes e Ru, com destaque para sua Bette Davis em uma das provas, sua Mae West no Snatch Game e sua Lil’ Poundcake, personagem baseada em uma boneca que ela mesma criou na sua temporada original.

Apesar de um chilique infantil condenado por muitos no penúltimo episódio, do qual se arrependeu logo depois, a participação de Alaska foi quase impecável no reality.

Em uma das primeiras entrevistas após o programa (na verdade, solicitamos a entrevista antes de sabermos que ela seria coroada, mas quando os caminhos já indicavam para isso), Alaska fala com exclusividade para a VICE sobre sexo, drogas, o reality show que a alçou para a fama, política, visibilidade e Brasil — a queen veio para cá para festa Priscilla, que traz para o eixo Rio-SP ex-participantes do programa de RuPaul. Entrevistando Alaska, como diria ela mesmo, “anusthing is possible”.

VICE: Quais são suas primeiras memórias como drag queen?
Alaska: Eu me apresentei há oito anos no concurso Fishbowl, de Chi Chi LaRue, em Pittsburgh. Eu usei um cabelo gigante e um vestido feito de sacos plásticos. Não mudou muita coisa de lá pra cá.

Por que seu sobrenome, Thunderfuck 5000?
Maconha.

Como foi a experiência de voltar a sala de trabalho e reencontrar as queens (algumas de sua temporada) no RuPaul Drag Race All Stars 2? O que você aprendeu da sua temporada que mais foi útil agora?
Voltar pro Thunder-Dome foi igualmente excitante e assustador. Há muito mais em risco na segunda vez. Mas aprendi na 5a temporada a não duvidar de mim e de fazer apostas na passarela (parte final do programa).

Você pode nos contar um pouco mais sobre sua drag house? E também sobre Jer Ber Jones?
Jer Ber Jones me inspirou muito porque ela era uma personagem completa: uma ex-mórmon convertida em modelo com poder telecinéticos. Ela fazia música e shows ao vivo e me deu uma de minhas primeiras oportunidades como performer. Eu escrevi a música “A Coisa Mais Gay Que Você Já Viu” para um de seus shows e ainda me apresento com essa música.

Como é sua relação com Sharon Needles hoje? Vocês são amigas após o fim do relacionamento?
Ela é provavelmente a pessoa mais engraçada que conheço. Somos estranhas e nos fazemos rir com coisas estúpidas. Ela me inspira muito e ainda somos muito amigas.

Muito prazer, Alaska Anus. Foto: Divulgação/Reprodução.

Qual a importância do Emmy recebido por RuPaul e do programa hoje para as novas gerações?
Nós não vamos ver todos os efeitos de algo como RuPaul Drag Race por muitos anos. Pensar em mim criança, podendo assistir algo como é o programa, onde um homem chama outro de “ela” e você é incentivado a explorar a fluidez de gênero e empoderar a feminilidade… não consigo nem imaginar! RuPaul merece esse Emmy porque ele é um mestre e o que ele faz ainda permanecerá por muito tempo.

O que ninguém sabe sobre a vida sexual de uma drag queen?
Eu tinha minha fase “sex pig” e fui uma vagabunda promíscua no passado. Mas agora estou numa relação monogâmica e sou muito discreta sobre minha vida sexual.

Qual é sua relação com e opinião sobre drogas?
Descubra o que funciona e o que não funciona para você. Nós temos substâncias disponíveis e que são úteis de algumas formas e de outras não. Não use crystal meth. Maconha não é droga – é uma benção. Use de maneira inteligente.

Quem são seus ícones completos?
Divine, Britney Spears, Whitney Houston, Cher.

Como a visibilidade do programa te deu como voz e como você a usa?
Eu estou feliz de ter uma plataforma onde o que eu penso é levado em consideração, onde minha voz é ouvida. Black Lives Matter. As mulheres deveriam receber salários iguais.

Toda produzida em RuPaul’s Drag Race All Stars. Foto: Divulgação/Reprodução.

Qual é seu conselho para uma drag queen iniciante, que recém começou a se montar?
Aposente-se!

Como você vê o movimento genderfuck dentro do mundo drag?
Eu acho que um show de drag queen sempre abre um espaço onde o gênero é menos rígido. Pessoas hétero ficam menos hétero e pessoas queer ficam livres para ser o que quiserem. Isso é colocar energia boa no mundo para um futuro melhor.

O que você gostaria de ver na 9ª temporada de RuPaul Drag Race?
Eu desejo muita sorte para as novas garotas que virão e espero que elas entrem nessa de forma aberta e honesta. Se você é uma vaca, seja uma vaca. Se você é uma monstra, seja uma monstra. E se você é legal, seja legal também.

Você se candidatou para todas as temporadas do programa até conseguir entrar na 5ª temporada. Como a perseverança ajudou Alaska/Justin?
Ouvir “não” várias vezes é um grande motivador. Me fez continuar crescendo e aprendendo mais sobre ser drag. Ainda estou aprendendo. Há muito por aprender.

Alaska como Lil Pond Cake, puppet criada por ela em um dos desafios do reality. Foto: Divulgação/Reprodução.

Onde você busca inspiração, online e offline?
Eu amo Jackie Beat, Love Connie, Lady Bunny. Ou qualquer show de drag, que me inspira imensamente.

Que livro, álbum e filme mudaram sua vida?
Quando Tudo Se Desfaz, de Pema Chödrön; Tragic Kingdom, do No Doubt; e Rocky Horror Picture Show.

Quais foram suas impressões do Brasil depois de se apresentar aqui? Você segue alguma queen brasileira?
Os fãs brasileiros são obsessivos e atentos. Eles prestam atenção no trabalho e na arte da drag, e possuem um entusiasmo que é contagiante. Eu amo o Brasil e amei me apresentar aí. Tenho até uma música no meu álbum novo chamada “Come To Brazil” (disponível no iTunes). Ah, e uma queen brasileira que amo é a Chloe Van Damme.

Nesse momento de onda conservadora no mundo, especialmente com o Trump eleito presidente dos EUA, o quão importante é ser uma drag politizada?
Eu nem vejo como politizada — eu acredito que é escolher entre o certo e o errado. Eu acho que as pessoas deveriam ser tratadas igualmente e com respeito e afeto. Temos muito trabalho há fazer, mas temos que estar do lado certo da história e tornar o mundo um lugar melhor.

Que música você dublaria por sua vida ou pelo seu legado?
Eu amo “Run To You” da Whitney Houston e “Don’t Cry Out Loud”, da Melissa Manchester.

Quais são os planos do 49º Estado (risos) pro futuro?
Eu acabo de lançar meu segundo álbum, chamado Poundcake, e está no iTunes. Fiquem ligados porque vem novidades. No meu site, alaskathuderfuck.com é possível descobrir quando eu irei para alguma cidade perto de você. Já falei que eu amo o Brasil? Xoxo

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