Música

A Alaska Thunderfuck, de ‘RuPaul’s Drag Race’, Lançou um Disco de Dance Bonzão

Alaska Thunderfuck, segunda colocada na quinta temporada de RuPaul’s Drag Race, e queen incrível em todos os sentidos, é dona do disco de dance music de mais sucesso nos Estados Unidos, chamado Anus. É possível supor, estupidamente, que Anus não passa de fogo de palha, ou que as pessoas o estão comprando ironicamente. Mas, quando você abandona seus preconceitos, Anus é um disco bom pra caralho. De uma faixa a outra, Alaska destrói sempre que entra, desde as batidas industriais de “This Is My Hair” até o canto sincero de “The Shade of It All” (com a participação de Willam e Courtney Act, outras ex-concorrentes da drag race). A variedade que encontramos mostra Alaska lembrando a todo mundo de que o lance dela não é só fazer um disco de “drag”, mas um disco que qualquer um possa adorar como se fosse uma criança.

Apesar de segunda colocada, Alaska foi a estrela da quinta temporada. Ela transitava sem problemas entre ser responsável pelos momentos mais engraçados do programa, como apresentar a nova melhor amiga de todas as garotas, “Lil’ Poundcake”, e ser uma das mais versáteis na passarela. Foi sua determinação que a fez arrasar em todos os desafios em que competiu, fazendo o seu melhor para desmentir rumores idiotas de que ela só estaria no programa porque seu namorado à época, Sharon Needles, vencera a quarta temporada de RuPaul’s Drag Race. Mas Alaska deixou os haters para trás e construiu uma estética toda própria. Clipes como o de “Your Makeup Is Terrible” pegam uma canção divertida e bobona e a colocam junto de um vídeo glamouroso, mas, ainda assim, aterrorizante. Ela não é derivação de ninguém.

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Falamos com Alaska sobre palavrões, as drags illuminati, e sobre como é aterrorizante conhecer RuPaul.

Noisey: Foi muito doido se ver na televisão quando a quinta temporada saiu?
Alaska Thunderfuck:
Ah, meu Deus, é esquisito demais, e é instantaneamente tipo: “Ah meu Deus, estou tão feia”. Quando montada, quero dizer. Então, depois de se ver na televisão, você começa a usar muito mais maquiagem, porque fica pensando tipo “caralho, o que eu estava fazendo?” Mas é legal. Quero dizer, eu gosto. É meu programa favorito, então assistiria estando nele eu mesma ou não.

Total. Você se candidatou para entrar no programa todos anos antes de conseguir, certo?
Ah, menina. Sim. Todo santo ano. E eu mandava uma fita, e aí conseguia avançar muito mesmo no processo. Ia para fazer a avaliação psicológica, e aí não passava para a próxima fase. E isso aconteceu por tipo, uns cinco anos consecutivos.

O que você sentiu quando foi finalmente colocada no programa?
Bom, acho que o timing foi perfeito para eles e para mim. E RuPaul já falou sobre isso no podcast dele também. É tipo: o mundo não está pronto para Alaska Thunderfuck na quarta temporada de Drag Race, mas, quando rolou a quinta, ele tinha se expandido um pouco, as pessoas estavam com a mente um pouco mais aberta. E antes eu não estava pronta. Eu teria ido para casa na mesma hora se tivesse entrado numa temporada anterior. Então, acho que o timing foi muito bom. Estou contente que tenha acontecido desse jeito. Não queria ter estado lá na primeira temporada, eu ia fazer feio.

É engraçado assistir à primeira temporada do programa, aliás. Parece meio vagabundo e bobão, e aí virou essa coisa imensa na quinta temporada, por aí.
É incrível. A primeira temporada é totalmente tipo o piloto. Tipo assim, não havia dinheiro, mas tinha algo de especial, que mesmo com um palco de merda e sem dinheiro, ainda tinha aquela porra, aquele negócio que é tão especial que você consegue sentir. E aqui estamos agora. É incrível.

Como sua vida mudou, depois de entrar no programa?
Tudo! Tudo está diferente. É tipo A.C. e D.C. É tipo antes de Drag Race e depois de Drag Race. Agora estou trabalhando, consigo fazer isso como trabalho normal. Posso viajar pelo mundo e fazer o que faço para viver, o que é um dom imenso. E sou muito grata a RuPaul e a todo o processo, e a todo mundo que assiste. É incrível. É legal demais.

Como foi conhecê-lo pela primeira vez?
O RuPaul? Ah meu Deus, muito assustador!

Sim, uns amigos meus já o conheceram. Todo mundo diz que ele é muito gentil, mas que é uma coisa aterrorizante.
Bom, eu sei, porque ele é ninguém menos do que o RuPaul, caralho! [Risos] Ele é um cara muito… Ele tem um brilho, e é uma presença realmente incrível. E todo mundo me pergunta “como ele é na vida real?”, e é tipo, não tem… Não é como se ele criasse um personagem para a TV. Ele é daquele jeito o tempo todo. Ele é incrível, e leva muito jeito no show business, e me inspiro muito nele.

Você gosta muito de ver reality shows?
Hmm, um pouco. Adoro RuPaul’s Drag Race. Adoro Keeping Up with the Kardashians. Assisto a um pouco de Housewives. Quando estou na Inglaterra, assisto a Four in a Bed e Come Dine with Me, esses meio que contam como reality.

É incrível como o programa deu visibilidade às queens. Eu cresci em São Francisco, então minha mãe curtia muito a cena drag, de modo que tenho algum conhecimento do assunto, mas agora, todo mundo com quem converso sabe falar da coisa, independentemente do lugar insano em que tenha nascido.
Com certeza. Eu sei. É como se tivesse a sua própria linguagem e fraseologia. Então fica todo mundo falando “werk” (“trabalhar”) e “hunty” (“quirida”) e “fierce” (“poderosa”), “fish” (parecer feminina).

Com certeza. Acho que “throwing shade” (gongar) entrou para sempre no meu vocabulário.
Virou uma coisa!

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Você lembra do primeiro show de drags ao qual compareceu, como espectadora?
Como gay novinho? Sim, lembro. Eu tinha tipo uns 18 anos, e estava em West Virginia, porque lá me deixavam entrar nas boates, e não na Pennsylvania, que foi onde cresci. E nós entramos e tinha uma drag queen no palco e ela era imensa e linda, mas estava dublando uma música. Fiquei verdadeiramente desnorteada. Tipo: “Por que ela não está cantando?” Porque a única drag que eu tinha visto foi em Gaiola das Loucas, em que Nathan Lane está fazendo o número dela, e cantando de verdade. Então fiquei muito pasma e um pouco decepcionada de ver aquela drag queen só mexendo a boca. Eu não entendi. É claro que agora entendo que o lipsync é uma forma de arte incrível. É maravilhoso. Mas meio que foi um ímpeto para mim começar a me montar e ser uma queen que cantava ao vivo. Gosto de usar minha voz no palco.

Sim. Acho que foi isso o que mais me chocou no disco. Já tinha ouvido música drag, mas acho que uma das canções, como “The Shade of It All”, ali você está cantando bem pra caralho mesmo, incrivelmente bem.
Ah meu Deus, obrigado. Queria fazer uma música com Willam e Courtney, mas queria fazer uma coisa muito diferente do que tínhamos feito anteriormente. Então botei meu melhor amigo Jeremy para escrever uma música no piano para mim, e aí estava no meu quarto de hotel na Suécia, e escrevi uma balada muito triste e doce. E aí entram Willam e Courtney e são tipo os anjos do backup singing. Então esse foi tipo o nosso momento vindo do coração.

É bem perfeito. Existem tipo os illuminati das drag queen?
Hum. [Risos]. Como assim?

Parece que, depois que você entra no programa, de repente todo mundo com quem você anda é superstar total, desde tipo Courtney ou Bianca.
Acho que a gente é tudo amiga porque passamos todas por essa experiência transformadora de vida. Talvez seja isso. Talvez a Beyoncé passe o tempo dela com – não sei, quem mais está entre os illuminati? Mas sabe, são pessoas com quem você tem coisas em comum. Estamos todas meio que passando pelas mesmas coisas, então somos amigas.

Então, o disco disparou, segundo lugar nos rankings de dance music para “Anus”.
Eu sei! O disco chegar tão longe no ranking tem sido incrível. Pelo visto eu amo o segundo lugar, acho. [Risos] Mas não, é incrível. E está na pré-venda ainda, então mal posso esperar pelo lançamento, dia 23 de junho. [A entrevista foi feita antes do lançamento]

Sim, vai ser foda. Qual você acha que é a maior diferença entre a dance music baunilha e a dance music de drag?
Acho que, com a música drag, o componente visual é muito importante, porque eu queria fazer esse disco, e queria ter um monte de músicas que soassem diferentes umas das outras, de modo que eu pudesse soltar vídeos com visuais muito diferentes. Minha nova droga – não uso mais drogas, mas em vez de drogas, agora faço clipes, porque eles custam muita grana e dão um barato muito grande. Então, posso fazer muitas coisas visuais que são vastamente diferentes entre si. Acho que, com a drag music, o componente visual é tão importante, se não mais, quanto a música propriamente dita.

Entrando nesse assunto, o clipe de “Your Makeup Is Terrible” – qual foi a sua visão por trás daquele início?
Uau. Bom, pus mesmo a mão na massa fazendo esse clipe, porque queria contar essa história, e queria que fosse tipo: uma noite na vida de uma RuGirl, ou uma noite na vida de Alaska. Então ela está saindo do carro, está indo para a boate, e aí ela tem um colapso nervoso e raspa a cabeça. E, é claro, a única pessoa que pode legitimamente dizer se a sua maquiagem está horrível ou não é Mathu Andersen, porque ele é o padrão da indústria no que diz respeito a beleza cosmética. E ele concordou em participar, então foi incrível. Tudo se encaixou muito bem mesmo.

Continua…

Tem várias partes do clipe que são muito impressionantes, e aí a coisa fica meio aterrorizante. O que é aquele spray sobre vocês?
É pó de giz colorido. Dá pra comprar na internet, mas é de um festival na Índia no qual por uma semana tudo no vilarejo fica coberto por aquele pó de giz, eles ficam lá jogando pó de giz uns nos outros durante uma semana, então tudo fica coberto por essa poeira colorida, mística, etérea. Foi divertido demais.

Eu estava vendo uma entrevista drag-cêntrica, você dizendo que foi o Mathu mexendo a cabeça nessa parte que fez a coisa ficar ótima.
Com certeza. Ele é brilhante mesmo. É bom trabalhar com ele, é uma pessoa muito doce e gentil.

Qual o seu palavrão favorito?
Meu palavrão favorito. Bom, eu sou da Pennsylvania. Minha mãe era muito boa em soltar palavrão na época em que eu estava crescendo. Tipo, “fuck” é uma palavra tão boa. Tem quatro letras, é forte. Então é tipo fucking fucking fucking fuck.

Massa. A cena drag da Pennsylvania é fodona?
Ah meu Deus, sim. A cena drag da Pennsylvania é tudo. Foi onde comecei a fazer drag, e aí me mudei para Los Angeles, e fiz um pouco de drag por lá, e meio que amadureci como drag queen em LA, e aí me mudei de volta para Pittsburgh, onde aperfeiçoei e refinei algumas coisas. E é tão incrível, realmente conseguimos contar histórias e ser muito visuais, e bem sujas e safadas, e sem regra nenhuma. Então sim, se você for a Pittsburgh, precisa ir ver uma drags, e se estiver na Filadélfia, vá em frente, querida, vá ver umas drags porque aí você vai saber o que é a vida.

Para quais outras músicas no disco que ainda não têm clipe você quer muito fazer alguma coisa?
Estou muito empolgada com esse clipe de “This Is My Hair”, que sai junto com o disco. E estou muito empolgada para fazer o clipe de “Anus” também, a música. E “The Shade of It All” vai ser maravilhoso, porque vou trabalhar com Willam e Courtney e elas são maravilhosas e esplêndidas. E talvez “I Love Your Pussy” também. Esse vai ser divertido. Na minha mente, vai ser uma coisa muito cor-de-rosa.

Massa. Há algum plano para “Give Me All Your Money”? Porque eu não estava esperando a porra de um trap nesse disco, o que foi muito foda.
Eu sei, aquele foi meu momento gueto, querida. Bem, eu queria muito fazer uma música com a Laganja, porque preciso começar a mandar uns cheques para ela, roubei tantas frases dela. Então essa é uma maneira de mandar alguns cheques para ela. Quero fazer um clipe com toneladas de death drops. Quero tentar quebrar o recorde mundial de death drops num clipe.

Se você fosse mostrar “Anus” para alguém na rua que nunca ouviu sua música antes, qual reação esperaria obter?
Eu esperaria que a pessoa nem pensasse naquilo como música drag. Que escutasse e ouvisse o amor e a jornada emocional pela qual o disco vai levar você. Gosto de pensar nele como no Tragic Kingdom, do No Doubt, porque quando tinha esse disco e estava na adolescência, ficava no meu quarto ouvindo infinitas vezes. Espero que seja um disco assim. Então não sei. Seja lá em que época você estiver na sua vida, vai sentir a conexão com a música, e essa música vai sempre ajudar você a lembrar do estágio de vida em que está agora, seja lá qual for. É muito pessoal, sabe? Música é uma coisa muito pessoal.

Você pode comprar “Anus” no iTunes agora.

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Tradução: Marcio Stockler