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Artistas do pornô italiano falam sobre seus outros empregos

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Itália .

Semana passada, os melhores da indústria pornô italiana foram homenageados numa cerimônia em Milão, durante os Prêmios do Pornô Italiano. É um evento bastante festivo, mas trabalhar no pornô na Itália não é tão glamouroso quanto costumava ser.

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A disponibilidade de pornô grátis na internet tem dificultado a sobrevivência das produtoras profissionais na Itália, o que é verdade em qualquer outro país, inclusive. Poucas produções profissionais estão sendo feitas e os mais amadores estão tentando conseguir um lugar na pornografia. Muitos atores desistem depois de alguns meses, mas os que continuam na batalha muitas vezes precisam ter um segundo emprego para pagar as contas.

Para entender como vivem os astros do pornô italiano moderno, abordei seis atores famosos no evento.

LUCA FERRERO

VICE: Como e quando você decidiu entrar no pornô?
Luca Ferraro: Por volta de 2013. Foi um tempo difícil para a minha família, porque a empresa de construção do meu pai estava fechando. Tive que trabalhar como garçom. Enquanto estava de férias com um amigo em Budapeste, trombei com o produtor pornô Mario Selier. Nos encontramos num café e ele perguntou se eu estava interessado em tentar. Eu nunca tinha pensado em ser ator pornô. Mas fui bem no teste, e foi assim que comecei.

Você continuou trabalhando em outros empregos?
Sim, porque o dinheiro que as produções pornô pagam não é muita coisa e eu tinha pouca experiência. Em alguns casos, até trabalhei de graça. Acontece — até conheço alguns caras novos que pagam para fazer pornô. Na Itália, é difícil continuar só no circuito nacional porque não há mais muitas produções rolando. Então continuei trabalhando como garçom e ajudei meus pais quando eles abriram um supermercado. Agora trabalho para a XTime, uma das maiores companhias de pornô da Itália. Considerando como é difícil fazer seu nome na indústria, tive muita sorte.

Quando você trabalhava como garçom, seus colegas e clientes sabiam sobre seu outro emprego?
Sim, assim que eu passava num teste, quase todo mundo da minha cidade, Riva Ligure, ficava sabendo. As pessoas estavam curiosas, mas me respeitavam. Nunca me senti julgado. Garotas me reconheciam, mas não aconteceu nenhuma loucura — eu já era casado antes mesmo de começar no pornô. A maioria das pessoas que entram em contato comigo com propostas indecentes são homens aliás, e fazem isso pela internet, não pessoalmente.

Para um aspirante a ator pornô, é realista esperar trabalhar em tempo integral nessa indústria na Itália?
É muito difícil. Tem muitos atores amadores que fariam qualquer coisa para estar num filme profissional. Como muitas pessoas querem fazer isso, o pagamento caiu muito. É uma época complicada para a indústria, especialmente na Itália. Pra realmente ganhar a vida no pornô, você precisa de muito talento e um pau enorme. De outro jeito, você vai acabar fritando hambúrguer pra sobreviver.

CRISTINA MILLER

VICE: Qual é seu outro trabalho?
Cristina Miller: Nos últimos oito anos, faço controle de qualidade para uma empresa de plásticos. Comecei nesse trabalho quase imediatamente depois de chegar da Colômbia, e gosto muito.

Então como você acabou no pornô?
Eu costumava trabalhar como modelo. Um dia, meu marido perguntou se eu não estava interessada em fazer pornô, porque ele achava que meu visual e meu corpo eram perfeito para isso. Eu estava realmente interessada, e não demorou muito para achar uma produtora e filmar minha primeira cena. Agora estou em contato com produtoras norte-americanas também.

Seus colegas na fábrica sabem da sua outra carreira?
Não, só dois grandes amigos meus lá sabem que estou fazendo isso. Eles me seguem no Facebook e se atualizam com as coisas que lanço. Não conto aos outros sobre isso.

MAX CAVALLIS

VICE: Como você acabou no pornô?
Max Cavallis: Comecei em outubro de 2015, através de uma agente de elenco. Sempre foi um sonho secreto meu, mas nunca tive os contatos certos. Mesmo em convenções pornô, é difícil cruzar com produtores interessados em novos atores. Mas acabei encontrando uma agente, e ela me ajudou a entrar na indústria.

No que você trabalhava na época?
Quando comecei, eu trabalhava como faxineiro para uma empresa que fazia a manutenção de vários prédios. No momento, estou desempregado e procurando uma nova oportunidade.

Então você não ganha o suficiente com a carreira no pornô para se manter?
Não, a competição é muito grande e há poucas ofertas de trabalho. É impossível viver como ator na Itália agora — você teria que ter uma sorte incrível e achar uma produtora que oferecesse um acordo de exclusividade por alguns anos. Freelancers, como a maioria de nós, não conseguem trabalho suficiente para ter uma estabilidade financeira.

HEIDY CASSINI

VICE: Você entrou para o pornô um tempo atrás, numa época em que a internet não tinha tido um impacto tão grande na indústria. Você tem um segundo emprego hoje em dia, ou trabalha no pornô em tempo integral?
Heidy Cassini: Era uma época muito diferente. Fazer pornô era muito mais lucrativo que agora, havia poucos atores no circuito, e eram todos profissionais. Entrei para o pornô depois de muitos anos trabalhando no teatro, televisão e cinema, mas consegui manter as duas carreiras ao mesmo tempo.

Como você fez isso? Seus colegas de fora da indústria te julgavam?
Não, nunca enfrentei nenhum estigma. Sempre tive sorte de encontrar pessoas inteligentes, que nunca questionaram minhas habilidades profissionais como apresentadora e atriz só porque fiz pornô.

Você é uma das organizadoras dos Prêmios do Pornô Italiano — como é para os atores agora tentando dar certo na indústria?
Pouca gente na indústria consegue viver só disso. A maioria dos atores que tentam não duram mais de um ano, mas as mulheres muitas vezes trabalham como strippers para ter uma renda extra. Muitos amadores hoje acham que esse é um jeito fácil de ganhar dinheiro — eles logo se desiludem quando as coisas não funcionam como eles planejavam. No passado, as pessoas faziam pornô porque queriam, ganhar muito dinheiro era um extra.

SEBASTIAN BONOMETTI

VICE: Que outro trabalho você tem além do pornô?
Sebastian Bonometti: Sou personal trainer em academias e faço outras coisas aqui e ali. Comecei fazendo strip em 2002, e ganhei alguns prêmios com isso. Foi o strip-tease que acabou me levando para o pornô.

As pessoas te reconhecem quando você está trabalhando na academia?
Sim, e quando reconhecem, elas me olham diferente na hora. Já teve gente desesperado para ser meu amigo, gente me oferecendo dinheiro por sexo. Os caras são sempre muito simpáticos, e apesar das mulheres se mostrarem um pouco desinteressadas em público, é muito diferente quando você fala sobre isso com elas em particular.

MARIKA VITALE

VICE: Você começou no pornô recentemente. O que você fazia antes?
Marika Vitale: Já trabalhei em tanta coisa — como cabeleireira, assistente de vendas numa loja de brinquedos — trabalhos bem normais. Mas sendo honesta, eu sempre quis fazer pornô. Jenna Jameson é um ídolo para mim, sempre quis ser como ela. Em certo ponto, comecei a trabalhar como lap dancer, e alguns anos depois tive a oportunidade de passar para o pornô hardcore.

É possível não ter um segundo emprego trabalhando com pornô na Itália?
Dificilmente. Você pode tentar trabalhar no exterior, como em Praga, Budapeste ou Los Angeles, mas na Itália com certeza é uma luta. No passado havia grandes produtoras italianas, mas isso morreu hoje. Poucos filmes estão sendo produzidos e pagam pouco.

Era isso que você esperava quando se juntou à indústria?
Eu com certeza imaginava que seria muito mais lucrativo e fácil. Os fãs acham que esse emprego é pura diversão e dinheiro, mas não é esse o caso. Não sei quanto tempo vou poder trabalhar na indústria. Não importa quanto eu amo esse trabalho, ainda preciso pagar as contas. Espero fazer algo completamente diferente quando me aposentar.

Tradução do inglês por Marina Schnoor.

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