10 perguntas que você sempre quis fazer para um hooligan

hooligan

Nos preparativos para a Copa do Mundo de 2018, muitas pessoas se perguntaram se as brigas de hooligans poderiam prejudicar o torneio. Depois de conversar com *Dennis, ficou claro para nós que é uma preocupação razoável. Ele é torcedor do Dynamo Dresden, time da série B da Alemanha Oriental, e tem orgulho de ser hooligan. “Não é que eu curta machucar as pessoas”, disse ele. “Mas me divirto dando uns socos.”

Dennis comentou que seu pai se orgulha do “passatempo” e que ainda não contou para a mãe que gosta de participar de brigas entre torcidas organizadas em estádios e bosques, com mais duas dezenas de homens crescidos, tão loucos por socos quanto ele.

Videos by VICE

Segundo a polícia alemã, cerca de 3.643 torcedores do país já foram classificados como “fãs violentos” e outros milhares como “propensos à violência”. Conversei com Dennis para tentar entender por que ele gosta tanto de brigar, que tipo de ferimentos ele já teve e se ele se considera um perigo para a sociedade.

VICE: Você vai aos jogos só para brigar?
Dennis: Não, eu vou para torcer pelo Dynamo. Não tem tanta briga assim dentro de estádio mais. Já faz quase vinte anos que rolou a última pancadaria digna de nota na arena. Na época, os donos de clube encorajavam os hooligans a serem agressivos, distribuíam cerveja de graça no intervalo, antes das coisas esquentarem durante o apito final. Mas a polícia acabou com isso.

As brigas de verdade acontecem fora de estádio, geralmente em terrenos ou bosques. A maioria dura poucos minutos, mas parece uma eternidade. Na Alemanha, e em boa parte da Europa Oriental, ser hooligan faz parte da tradição futebolística. Os hooligans da Europa Oriental curtem mais hóquei no gelo, basquete, e alguns, polo aquático.

Qual foi o pior ferimento que você já provocou em alguém?
Olha, não sei, porque não me importo muito com meus oponentes. Não envio um cartão depois, para saber se estão bem. Uma vez, ouvi dizer que um cara que soquei acabou com duas fraturas na mandíbula, mas não sei dizer ao certo se foi o pior ferimento que causei. Assim que derrubo os caras e eles não se levantam mais, deixo eles lá. Nosso código de honra manda acabar nesse momento.

Alguém já morreu em uma briga?
Não que eu tenha visto, mas conheço uma pessoa que foi parar em cadeira de rodas. Eu, particularmente, já quebrei muitos ossos. Uma vez, fraturei o pulso porque bati muito forte num cara. Mas, olha, os hooligans russos e poloneses são muito piores que nós.

Foto: Hakki Topcu

Como você arruma brigas?
Todo grupo tem um líder, que contata outros líderes para organizar as brigas. Eles nunca fazem planos por celular. Na Alemanha, muitos hooligans tiveram seus celulares grampeados. Os líderes se encontram para definir onde vamos brigar e quantas pessoas devem aparecer de cada lado. Na maioria das vezes, são entre dez e vinte caras. Os líderes também discutem detalhes, para garantir que ninguém leve armas ou luvas com peso. Uso sempre um protetor para o saco. E para me preparar, não bebo, e descanso bastante nos três dias que antecedem a briga.

Os hooligans ficam mais idiotas a cada briga?
Quando estou a caminho de uma nova briga, é como… Espera, que pergunta mais besta! Você está tentando me provocar?

Você representa um perigo para a sociedade?
Talvez. Acho que mantenho certo equilíbrio na minha vida. Não saio por aí procurando brigas no meu cotidiano, mas se alguém me provocar na rua, não me responsabilizo.

Foto: Hakki Topcu

Por que você não recorre a um passatempo mais produtivo?
Gosto não se discute, acho. Algumas pessoas caçam rinocerontes na África, eu curto esmurrar pessoas. Também tenho passatempos terapêuticos. Adoro comida italiana, por exemplo.

Todos os hooligans são de extrema direita?
Não sou de extrema direita, mas dá para dizer que metade dos hooligans é, sim. Com eles, você ouve as piadas esperadas mesmo — sobre judeus, muçulmanos, Angela Merkel. Acho que não conheço nenhum hooligan de esquerda.

Existem mulheres atraídas por hooligans?
Sim, um bocado.

Você toma suplementos para ficar mais forte?
Não, não tomo suplementos de treino. Prefiro cocaína.


* Nome alterado para proteger a identidade do entrevistado.

Este artigo foi publicado originalmente na VICE Alemanha

Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter , Instagram e YouTube .
Leia mais sobre a Copa da Rússia 2018 na VICE.
Acompanhe tudo que rola dentro e fora de campo no Boletim VICE da Copa .