Foto por Joel Fowler, Design de Christopher Classens.
À medida que 2015 foi chegando ao fim, nos demos conta de que ele foi um ano bastante movimentado para a música eletrônica e a dance music. Por isso mesmo o THUMP vai relembrar os bons e maus momentos do ano nesses finalmentes de 2015 — começaremos nesta segunda (14) com o nosso ranking das 50 melhores faixas do ano. As faixas selecionadas nesta lista refletem um ano marcado não só por produções e inovações fantásticas, mas também pelo fato de que as linhas entre os gêneros e cenas ficaram mais tênues do que nunca. Desde as máximas espalhafatosas do EDM até os estrondos subterrâneos do dubstep, esta lista demonstra que, em 2015, não importa quem estava por trás da música — o importante é que ela fosse boa D+.
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50) Sudanim – Seydou
Sudanim, o produtor do sul de Londres e fundador da Her Records, traz à tona fúria e trovoadas em sua faixa “Seydou”. Sua paleta de sons com uma pegada brass, grime e com polirritmos intrincados forma uma parede de som de seis minutos que funciona super bem tanto numa cena de clímax em um filme quanto no auge da noite numa pista de dança. Seus movimentos ondulados parecem alcançar um patamar cada vez mais alto de energia por meio de seus picos e pausas. Assim como o Hans Zimmer foi de encontro a geração de nerds, o Moombahton encontrou o Game of Thrones. — Gigen Mammoser
49) Florist – Marine Drive
O Florist é um designer gráfico de Vancouver e o EP Phenomena é seu primeiro lançamento. Com sua linha de baixo pensativa e o break filtrado de “Think”, a faixa “Marine Drive” soa como algo que ouvi através das paredes de quartos escuros que frequentei durante boa parte do verão. E isso faz sentido porque, no encarte do disco, o Florist diz que se inspirou numa filmagem de uma festa de veraneio numa fábrica em um aeroporto próximo a Londres em 1989, durante a segunda edição do infame fenômeno social Verão do Amor. — Joel Fowler
48) Eric Prydz – Opus (Four Tet Remix)
Poucas faixas na nossa lista são tão atreladas a uma experiência ao vivo quanto a releitura tortuosa de “Opus”, do Eric Prydz, feita pelo Four Tet. O crescendo claramente é o centro das atenções aqui. Como relatei há alguns meses, o comprimento quase absurdo da faixa inspirou uma descrença genuína e inédita entre os baladeiros — todos esperando ansiosos pela batida. Se a faixa superou as expectativas dos ouvintes e foi bem recebida e compreendida todas as vezes que ela tocou é outra história, mas num ano em que a fronteira entre a cultura de clubes alternativa e mainstream ficaram cada vez mais tênues, a releitura do Four Tet de um trecho com uma aura espalhafatosa do Euro-house se provou uma conquista histórica. — Angus Harrison
47) FKA Twigs – Glass and Patron
Esta faixa ser considerada minimamente pop já é, por si só, uma vitória para a cultura pós-pós-moderna. No clipe da FKA Twigs, dirigido por ela mesma, a iconoclasta criada na Inglaterra dá luz a um bando de dançarinos que posteriormente performam uma coreografia super fierce. A faixa chega no auge na metade de sua duração. À medida que a música pop vai ficando mais e mais esquisita, a FKA Twigs nos recorda que os fãs realmente inusitados estão ficando cada vez mais difíceis de serem afastados — ao ponto de que só ela mesma consegue. — Jemayal Khawaja
46) Hunee – Rare Happiness
A faixa “Rare Happiness”, do Hunee, o coreano-alemão baseado em Amsterdã, está no tão aguardado álbum de estreia do artista que sairá pela holandesa Rush Hour. O som tem seu pontapé inicial com alguns gemidos vocais picados antes de chegar, lentamente, ao ápice por meio de sons criados a partir de sintetizadores e baterias ressonantes. Quando finalmente chega ao ápice — em meio a grandes níveis de uma contenção prazerosa — você é abatido por um house groove embaralhado e violento e uma bomba de êxtase. Um título irônico (felicidade rare), para dizer o mínimo. — David Garber
45) Denis Sulta – It’s Only Real
Deliberadamente ou não, a natureza praticamente indetectável da faixa “It’s Only Real” do Denis Sulta o transformou no monstro que ele é hoje. Ela se tornou o fantasma de 2015 — empesteando track ID groups no Facebook e enchendo a caixa de entrada dos DJs que tocam a faixa. Deixando o hype e o mistério de lado, é bem óbvio por que o talentoso produtor de Glasgow ficou tão entranhado na rapeize. A melodia descomunal que rasteja por aquela bateria estrondosa não tá pra brincadeira — é o tipo de som que você ouve uma vez e passa os dois meses seguintes tentando reproduzir para as pessoas, sem nunca de fato conseguir recriá-lo. E então, numa noite qualquer, sem nenhum sinal aparente, ele volta à sua mente e é como se nunca tivesse saído. — Angus Harrison
44) Jack J – Thirstin’
Ser capaz de criar uma faixa depois da hipnotizante “Something on My Mind” poderia ser uma tarefa quase impossível. Entretanto, o Pender Street Steppers não só o fez, como fez com estilo. Mais uma vez inserindo uma pegada leve e relaxante na melancolia house típica da sua região — dessa vez através da label Future Times, de Washington D.C — o Jack J apresenta seus próprios vocais suaves e românticos numa faixa que flutua verticalmente enquanto também penetra suas veias. Sem falar naquela linha de baixo! Que linha de baixo! — David Garber
43) Empress Of – Kitty Kat
“Let me walk away/let me walk away” (“Me deixe ir embora/me deixe ir embora”), é o que canta a Empress Of, de Nova York, na faixa “Kitty Kat”. Mas não vai achando que é uma música sobre mimimi de fim de relacionamento. A faixa é sobre como os homens que cantam as mulheres nas ruas diariamente são um tormento. Empress Of faz um poderoso apelo às pessoas para que se manifestem contra o sexismo, fazendo com que você realmente se obrigue a pensar no assunto depois do fim faixa, que tem apenas 2:26 de duração. — Dylan Coburn
42) M.E.S.H. – Epithet
O produtor M.E.S.H (aka Jamie Whipple), que vive em Berlim, produz faixas arrebatadoras e com uma atmosfera de balada que recriam o espaço e o ritmo na dance music. “Epithet”, a faixa de abertura do seu álbum de estreia Piteous Gate, que tem essa fusão de gêneros e foi lançado pela PAN, une diferentes velocidades rítmicas através de síncopes, criando contrastes dissonantes entre sons de sinos ondulantes e padrões de bateria abrasivos. O efeito é uma visão musical inquietante que reflete a instabilidade da era digital. — Claire Wang
41) Prurient – Frozen Niagara Falls (Portion One)
O Dominick Fernow é um daqueles caras descolados que usa várias roupas de couro e faz uma música comicamente intensa essencialmente direcionada a outros caras descolados que usam várias roupas de couro. O que, todos concordamos, é que trata-se de um tipinho bem ultrapassado hoje em dia: caras descolados vestidos de couro dos pés a cabeça “quebrando barreiras” e “explorando transgressão” pararam de ser interessantes em, hmmm, 1987, por aí. Mas relevando o SIMBOLISMO CHOCANTE e a INTENSIDADE EXTREMA, você se dá conta que produtores como o Fernow ainda conseguem misturar um som pesado com formatos totalmente novos. Ele teve um ano relativamente calmo sob seu “disfarce” como Prurient, lançando apenas dois álbuns: o Cocaine Daughter, disponível apenas em cassete, e o Frozen Niagara Falls. O mais recente é caótico, com escaladas arrebatadoras, e esse trecho é o puro fedor infernal. No bom sentido. — Josh Baines
40) DJ Richard – Savage Coast
“Ele é tão bizarro e ainda assim me atrai que nem um ímã com uma vagina”, é o que diz um comentário do YouTube no clipe da música “Savage Coast”, uma preciosidade presente no disco de estreia do DJ Richard, o produtor baseado em Berlim pela lançou Grind pela Dial Records. E nós concordamos totalmente com o autor, uma vez que a faixa basicamente define o que você testemunhará no disco: um surto de synths que caem como um efeito dominó psicoativo, e o resultado pode ser uma faixa que funciona tanto numa pista de dança quanto num quarto exótico — você decide. — Juan Pablo López
39) Galcher Lustwerk – Parlay
Ok, ok, nós sabemos — todo mundo já ouviu essa aqui na mixtape icônica do Galcher Lustwerk, a 100% Galcher, lá em 2013, e mesmo naquela época a faixa já tinha um ano de idade. Mas se liga: ele decidiu lançá-la em vinil em 2015 e ela ainda é tão boa quanto dois anos atrás. Todo mundo junto, vamo lá: I rock the drop top down/hanging out/you know when we come through/we bang it out. — Josh Baines
38) Cooly G – Booboo
No Armzhouse, seu último EP, Cooly G — o pilar fundamental da label Hyperdub — trouxe sua abordagem obscura e excêntrica de volta ao clube, lançando cinco faixas ligeiras de house music entre as quais, a estrondante “BooBoo” é um dos destaques. A faixa, que é ideal para ser tocada na metade de um set, é capaz de fazer você se jogar na pista de dança e te segurar lá com sua irreverência. Com seu groove escaldante e samples cativantes, “BooBoo” é o tipo de música que já está dançando sozinha e te pede para entrar no flow. — Michael Scott Barron
37) Rex the Dog – Sicko
“Sicko” parece uma música meio desajustada. Uma traquinagem escabrosa pelo território distorcido e industrial, o lançamento do Rex the Dog (Jake Williams) pela Kompakt testemunhou as habilidades do produtor ao usar os materiais mais simples e grosseiros: um único synth sufocado que cacareja e rosna contra kicks barulhentos.
Desde o seu lançamento, a faixa vem sendo tocada por todos desde o Jackmaster até o Joy Orbison, provocando efeitos devastadores e distorcidos. Seu som inimitável foi muito bem sintetizado pelo próprio produtor quando ele apresentou a faixa ao THUMP. “Imagine um robô drogadão”, disse, “ele socaria a cara de várias pessoas sem nem perceber”. — Angus Harrison
36) Kelela – Rewind
Nas primeiras vezes que ouvi a faixa “Rewind”, achei que a Kelela estava cantando a palavra “Greenpoint”, que é o nome do bairro que eu moro no Brooklyn. Quando uma música realmente te invade, fica fácil de interpretar o que você ouve de um jeito meio egocêntrico, mas o som da Kelela — e mais especificamente essa baladinha do EP Hallucinogen, da cantora de Los Angeles — realmente parece algo feito sob medida para você.
Produzida em parceria com a Kingdom e Nugget, a faixa é repleta de vocais arrastados e ventilados e reviravoltas melódicas imprevisíveis envoltos em uma auréola de reverbs que contém todo o mistério e apelo de uma pista de dança esfumaçada. Sua letra é contraditória, alternando entre a vontade de se amalgamar com outra pessoa completamente (“Baby, don’t blink when I’m watching you”/”Baby, não pisque enquanto eu te observo”), e o desejo de desacelerar (“I can’t rewind”/”Eu não posso voltar no tempo”). O efeito que se acumula é de indecisão e questões que permanecem em aberto — o que você sente quando está se apaixonando, e como na maioria dos casos de amores recentes, projeta todo tipo de situação. — Emilie Friedlander
35) Axel Boman – 1979
O produtor sueco Axel Boman respira novos ares neste ano com a faixa “1979”, que saiu pela label Pampa Records do DJ Koze. O som é uma jornada de dez minutos que se desenrola através de ritmos hipnóticos e synths flutuantes. É uma produção afinada e atemporal, com ondulações saudosas e synths estelares ritmados por bleeps idiossincráticos. Mais uma vez o Boman provou sua habilidade excepcional em criar mundos sônicos e com atmosfera de sonho hermeticamente isolados do barulho exterior. — Valeria Anzaldo
34) Fort Romeau – Saku
Uma das preciosidades pós-rave mais fundamentais deste ano vem do artista Fort Romeau (aka Mike Greene) que vive na Inglaterra. “Saku” começa com um padrão de beats que remete às produções da banda Metro Area e é lentamente abastecida de efeitos sonoros cósmicos antes de abordar temas ainda mais dreamy. Os tons contagiantes da faixa são uma homenagem ao Fairlight — um synth essencial dos anos 80 que também deu nome ao EP. Ah, e vale dizer que a melhor maneira de aprecia-la é assistindo aos primeiros raios de sol refletindo no teto da balada depois de uma noite muito, muito longa. — Tom van Haaren
33) Leon Vynehall – Midnight on Rainbow Road
A “Midnight on Rainbow Road”, do Leon Vynehall, foi a faixa de destaque da na compilação de músicas para ouvir na rodagem intitulada Music For Autobahns 2, criada pelo Gerd Janson. E isso não é qualquer coisa, levando em conta que o disco aclamado pela crítica inclui faixas de artistas como Joy O, Bicep e Fort Romeau. Mas a contribuição do Vynehall, que por sinal encerra a músicas com sons de carro zunindo, se destacou ao canalizar aquela sensação inconfundível de quando se está em êxtase num carro, rodando a esmo pela noite, em rumo ao paraíso dos synths — ou a qualquer outro lugar que a estrada do arco-íris irá te levar. Nem mesmo um cinto de segurança conseguiria te privar de viajar muito ao som desta faixa. — David Garber
32) Sophie – MSMSMSM
As melodias 8 bit açucaradas do Sophie irão permear seu cérebro e te fazer cantarolar que nem um idiota, você fazendo parte da piada ou não. Essa faixa, que está na compilação PRODUCT do produtorx londrino é repleta do estilo — apesar do som não ter muito a ver — da música pop com uma pegada indiferente do Wharol, que o Uffie e a Ed Banger Recods estavam lançando uns dez anos atrás. Ela é, de várias formas, um mashup cultural e sônico, tipo um Nintendo num beco escuro em Atlanta. Apesar da faixa contar com synths 808 e arpejos com uma pegada halloween do início ao fim, seus revés menor electro felizmente nunca chega a flertar com clichês trap redundantes; há também um momento de quebra da quarta parede no meio da faixa, onde o lance todo é interrompido por um trecho ambiance paradisíaco. Original, pertinente e esquisita pra cacete, “MSMSMSM” — assim como a maioria dos trabalhos do Sophie — tem profundidade para estar à altura do seu tipo de som minucioso. — Gigen Mammoser
31) Jimmy Edgar – Let Me Tell U
“Let Me Tell U” é uma aula de simplicidade — e uma das faixas mais acessíveis da carreira do provocateur de Detroit Jimmy Edgar. A música se repete por mais de sete minutos, mas sem ficar enjoativa, assim como a sua forma que muda ao longo da construção do som. O vocal principal do refrão cria uma aura de estabilidade em meio a ritmos staccato, e quando os arpejos começam a ressoar quando a música marca seis minutos, você já está se jogando na pista há muito tempo. — Jemayel Khawaja
30) Arca – Vanity
As paisagens sônicas do Arca (AKA Alejandro Ghersi) te deixam de estômago embrulhado e vão desde a margem do underground até o pop mais vanguarda — Björk, Kanye West, Kelela e FKA Twigs, todos se beneficiaram desse toque distorcido. O som hipnótico e futurista do Ghersi alcança velocidade máxima em “Vanity”, um embate violento entre synths trêmulos e outros dissonantes no seu disco intitulado, de forma apropriada, Mutant. O abandono expressionista e abstrato onde os sons distorcidos do Ghersi habitam denuncia como ele se tornou um dos ingênuos mais requisitados da indústria da música. — Claire Wang
29) Drippin – Silver Cloak
Os países nórdicos produzem, sem sombra de dúvida, algumas das melhores faixas de club music que são lançadas hoje em dia. “Silver Cleak”, a faixa que dá nome ao EP de estreia do Drippin, é um belíssimo exemplo da club music dos países nórdicos — sintetizadores etéreos vocalizados e a programação de bateria invocam desde a drill music de Chicago até o reggaeton. Mas o mais fascinante em relação ao Drippin e seus chapas como o Slick Shoota, Kid Antoine, Toxe e Dinamarca é que sua identidade sônica característica daquela região é a prova de que a dance music não está sendo engolida pelo buraco negro fragmentado de gêneros #hashtag Internet — pelo menos não por enquanto. —Dylan Coburn
28) Nicolas Jaar – Fight
O Nicolas Jaar passou grande parte deste ano satisfazendo e confundindo o público com uma série de sets laboriosos em festivais pela América do Norte. Quase todos os sets eram ancorados ao redor da estreia da faixa “Fight”, uma obra de oito minutos e meio com múltiplos movimentos, todos apresentando samples de vocais gaguejantes, atmosferas quase aleatórias e um toque delicado que fez as plateias ficarem com sangue nos olhos. “Fight” será um marco na carreira de um dos produtores mais desafiadores dessa geração. — Jemayel Khawaja
27) Kamixlo – Paleta
Kamixlo é um garoto pixie de cabelo azul metade chileno e metade inglês que mora na Inglaterra. De vez em sempre, ele se reúne com seus chapas e produz uma festa chamada Endless numas quebradas bem longe dos grandes clubes — como, por exemplo, em um complexo de escritórios no sudeste de Londres. Os ambientes são escuros, cheios de vapor e sem seguranças e o sistema de som é uma bela bosta. Todo mundo dança enquanto o Kamixlo discoteca com ajuda de um laptop em cima de uma mesinha e a sua faixa “Paleta” é o hino da rapeize — uma ótima faixa para esquentar um clube latino e que sampleia uma música do Wisin y Yandel apresentando ninguém mais ninguém menos do que o mestre da zueira Daddy Yankee. Misturando grime, industrial, kuduro e cumbia, o Kamixlo faz parte da nova onda de jovens produtores que estão tentando arrancar a dance music britânica dos braços de seus astros meia boca. E eles estão quebrando tudo durante o processo. — Michelle Lhooq
26) Tiger Stripes – Brrr
O produtor sueco Tiger Stripes tem uma habilidade fantástica em mandar ver em músicas que funcionam muito bem no ápice da balada, mas essa faixa é a mais viciante que ele produziu até o momento. Durante a minha primeira viagem à Ibiza no início deste ano, “Brrr” foi minha fiel escudeira tanto em clubes super bombados como nos rolês underground nos quais a pista de dança era do tamanho da minha sala. Nos momentos de incerteza, aquele “brrrrrrrrr!” inconfundível me lembrava que, sim, aquela bendita música estava tocando novamente. Como a maioria das músicas que ficam grudadas na cabeça, o refrão de “Brrr” é extremamente irritante e me faz lembrar do meu irmão enfiando o dedo no meu ouvido. Mas quanto se trata de músicas de balada e peripécias da infância, não há motivo para brigas, o jeito é se entregar. — Michelle Lhooq
25) Commodo Gantz Kahn – Bitchcraft
Se “Bitchcraft” foi a faixa que representou o dubstep em 2015, então ela representa também a reimersão gradual do gênero em algo novo e conquistador. A épica faixa é parte integrante do Volume 1, o álbum colaborativo do recém-formado supergrupo de dubstep, Commodo, Gantz & Kahn. Apesar de o disco ser peso pesado, há um dance delicado que toma forma em “Bichcraft”. Ela arde na medida certa e com precisão, carregando seu peso com uma qualidade de alta definição e agregando um drama austero a um som que muitas vezes é incompreendido e tido como limitado e obscuro. — Angus Harrison
24) Fatima Yamaha – What’s a Girl to Do (DJ Haus 4/4 Edit)
Vamos direto ao ponto: DJ Haus, o homem por trás da Hot Haus Recs e da banda Unknown to the Unknown desenterrou o clássico de fim de noite da Fatima Yamaha e transformou sua aura introspectiva de música de balada eletrônica em um hino definitivo de Ibiza. Às vezes é necessário jogar a delicadeza pela janela. — Josh Baines
23) Nick Hoppner – Relate (The Black Madonna Remix)
O Folk, do Nick Hoppner, é uma daquelas coisas bem raras: um disco de house fantástico e sem mimimi. Talvez isso não devesse ser uma surpresa, já que ele comandava uma das labels de house e techno mais prestigiadas do mundo, a Ostgut Ton da Berghain. Deixe sob a responsabilidade da nova DJ favorita da galera, a norte-americana Black Madonna — que vem marcando presença atrás dos decks da balada berlinense — transformar a faixa “Relate” numa versão muito mais solta e divertida que tem sido estouro nas festas dos últimos meses. — Josh Baines
22) Shed – Amen Garage
O que estou ouvindo é uma música nova ou das antigas? Se você estiver ouvindo algum dos alter egos do René Pawlowitz, essa é uma pergunta pertinente. No caso de “Amen Garage”, a pergunta deve ser feita ao PCK, em um disco chamado For The Kingdom, o segundo lançamento da sua label The Final Experiment, que inclui “umas paradas de uma galáxia chamada Hardwax, localizada em Berlim”. Esta faixa representa uma revitalização do garage britânico e breakbeats, aliada à severidade e a resistência do Shed durante seus dias meio treta. Coisa fina. — Jaun Pablo López
21) Kornel Korvacs – Pantalon
O trabalho do chapa do Studio Barnhus já é de longa data, tendo lançado um EP fantástico por esta label, criado o melhor cover de house melancólico de todos os tempos — da faixa temática de um filme infantil sobre basquete e o pernalonga — e casualmente lança as maiores jams de verão desde… hm… “Summer Jam”. “Pantalon”, que surgiu em junho graças a label escocesa Numbers, é o som daquele verão que você sempre sonhou. É uma slab irresistível, nonsense, acrobática, absurda, deliciosa e brincalhona de um freestyle flutuante que não saiu da sua cabeça desde que você ouviu pela primeira vez. É muito fácil esquecer que a dance music pode ser poderosa, arrojada, boba e incrivelmente divertida, mas músicas como a “Pantalon” são exemplos perfeitos do poder que tem o prazer sincero. — Josh Baines
20) Pender Street Steppers – The Glass City
O epicentro sônico da label de Vancouver Mood Hut, Jack J e Hashman Deejay, que formam o Pender Street Steppers, produzem faixas que representam a vibe da sua cidade e região — alegre, bem de boa e totalmente maravilhosa. Mesmo com um título confuso que não tem nada a ver com a cidade dos caras (curiosidade: na verdade é um apelido para Toledo, Ohio), “The Glass City” representa de forma precisa o temperamento único da cidade através de uma sedutora linha de reverb, beats de house nebulosos e um piano delicado. Não importa se a faixa toca no início, meio ou no fim do set: é o tipo de jam que você nunca quer que acabe. — David Garber
19) Oneohtrix Point Never – Sticky Drama
Há muitas músicas mais bonitas do que “Sticky Drama” no álbum Garden of Delete. Na verdade — com sua melodia vocal esganiçada do Chipspeech, bateria abrasiva e a referência do título a um dos blogs de fofoca sobre celebridades mais grotescos da história — “Sticky Drama” é o exato oposto de ‘adorável’, mas é justamente por isso que ela é tão incrível. Levando em conta a intenção declarada do Oneohtrix Point Never de explorar as experiências emocionais e físicas da puberdade, existe algo encantadoramente honesto nessa homenagem eletrônica arrebatadora aos excessos do rock alternativo das rádios nos anos 90. Afinal de contas, nós já sabíamos que o Lopatin era capaz de fazer os detritos da cultura pop soarem cativantes e belos — o que nós não imaginávamos é que ele também se sairia tão bem. — Emilie Friedlander
18) Julio Bashmore – Holding On
A faixa “Holding On” do produtor inglês de Bristol é um flerte com a disco music presente no álbum Knockin’ Boots, lançado este ano. Foi baseada num sample instrumental de uma faixa de 1981 da banda Inner Life, chamada “Make It Last Forever”, revigorada com os dotes vocais do cantor/compositor de Chicago Sam Dew. Não tem nada tão surpreendente na produção prafrentex da faixa: um vocalista incrível com uma pegada inconfundível sempre soará incrivelmente bem por cima de clássicos das pistas e uma bateria afinada. Porém, não tem como negar que o todo é bem melhor do que trechos destacados. O Bashmore poderia muito bem liderar o movimento para trazer a disco music do Estúdio 54 de volta para os rankings. — Gigen Mammoser
17) Jlin – Guantanamo
A abordagem do footwork feita pela Jerilyn Patton nos atormentou ao longo de todo o ano — no bom sentido. Dark Energy, seu disco inquieto e irredutível, foi um dos nossos favoritos do ano e rolando, rolando a mau assombrada “Guantanamo” foi sem dúvida o seu ponto alto. — Josh Baines
16) Anohni feat. Oneohtrix Point Never and Hudson Mohawke – “4 Degrees”
“4 Degrees” apareceu do nada em novembro deste ano, anunciando ao mundo sua existência em uma explosão de latões sintéticos, cordas e tímpanos. Havia uma sensação de falta de ar na faixa que parecia o nascimento de algo inspirador, e de várias formas, ela de fato foi. “4 Degrees” foi a primeira faixa do Hopelessness — o “disco de dance / experimental eletrônica” que o artista antes conhecido como Antony Hegarty lançará no ano que vem sob a alcunha de ANOHNI. A voz de ANOHNI está tão agitada e misteriosa como de costume, mas veio à tona sob um novo nome e novo contexto sônico, incluindo alguns floreios de uma produção com um som consideravelmente cinematográfico do Hudson Mohawke e Oneothrix Point Never. Coincidindo com a conferência das Nações Unidas em Paris sobre as mudanças climáticas este ano, ela também pareceu anunciar o surgimento de uma nova era: onde a Terra não só fica cada vez mais quente, ameaçando ⅙ das espécies animais e vegetais do mundo a extinção, e sim uma era onde todos temos responsabilidade sobre o rumo que o nosso planeta está tomando. — Emilie Friedlander
15) Rustie – First Mythz
Chacoalhando na introdução com um vórtice de synths galáticos e golfinhos saltitantes, “First Mythz” foi um anúncio. Um anúncio do Rustie de que o EVENIFUDONTBELIEVE seria seu disco sob sua própria direção. Bizarro, frenético, engraçado, apaixonado e totalmente específico para sua visão singular, a faixa apresenta perfeitamente sua imaginação provocadora e também sua habilidade particular em canalizar euforia das formas mais esquisitas possíveis. Enquanto outras faixas como “Big Catzz” e “Morning Starr” alcançaram patamares parecidos quanto à expressão maximalista, nada no LP chegou no nível desta explosão inoportuna e tétrica de glória. Entretanto, é mais do que apenas uma releitura esquisitona de faixas hardcore mainstream. É uma das vozes mais claras e fortes desta geração provando que o seu trabalho, quando sob sua própria direção, pode decolar. — Angus Harriso
14) Kode9 – Void
Quando pediram para o Steve Goodman, responsável pela label Hyperdub, explicar o seu primeiro LP sob o pseudônimo de Kode9, ele disse ao jornalista DeForrest Brown que simplesmente precisava escolher uma premissa como porto de partida para a música. Começando com um conceito totalmente vazio, ele disse, “queria produzir uma espécie de catalisador que continha as mais variadas ideias para músicas”. Depois, ele revelou uma razão mais pessoal e devastadora: “Eu também sabia que esse álbum seria vazio para mim, porque não teria o Spaceape”.
Leia: “Morre Spaceape, o MC da Hyperdub e grande truta do Kode 9”
Assim como várias outras faixas do Nothing, “Void” — com suas pausas oscilantes e pulsos de máquinas vibrantes — permite que os espaços negativos sejam tão bem representados quanto os cheios. A diferença em relação aos espaços vazios na faixa “Void” é que, originalmente, eles deveriam ser preenchidos pelo seu grande amigo Spaceape — o MC inglês, poeta e colaborador frequente do Kode9 que partiu para outro plano em outubro do ano passado. Ao tentar imaginar como a voz do Spaceape entranharia nesses espacinhos faz você se dar conta que, às vezes, é possível dizer tudo sem falar nada. — Emilie Friedlander
13) Bicep – Just
A essa altura até a querida mamãe do Shakin’ Stevens já é fã de carteirinha desses chapas de Belfast. Desde a época em que eram grandes hitmakers na cena dos blogs — sim, blogs! — até quando conduziam basicamente sozinhos o revival da house music em meados dos anos 90 na Inglaterra, o Andy Ferguson e Matt McBriar se tornaram sinônimo de zueira. E foi justamente por isso que nos surpreendemos tanto quando “Just”, essa faixa perfeita para o pôr-do-sol, surgiu no rolê no início deste ano. Qualquer pessoa que já tenha associado a dupla a faixas avassaladoras e house music claramente não estava prestando muita atenção, mas até mesmo para os fãs mais devotos — ou seriam os mais esforçados? — do Biceps, “Just” foi um passo em direção a algo totalmente novo. Ela soa como a trilha sonora da afterparty mais perfeita que você conseguiria imaginar, e nós não conseguimos imaginar jeitos melhores de acabar uma noite. — Josh Baines
12) Hudson Mohawke – Ryderz
Com “Ryderz”, Hudmo se provou mais uma vez um raro produtor contemporâneo que fundiu com destreza o hip-hop do início dos anos 2000 com dance music eletrônica moderna. A bateria e os samples intimam memórias aconchegantes de produções vintage e obcecadas pela motown do Rockwilder, DJ Premier, Kanye West e Just Blaze — uma época em que o Beanie e o Jay ainda eram descolados e a série “Heavy Hiitas” do Funk Flex na Hot 97 era a desculpa perfeita para você sair mais cedo do trabalho (“Suckaaaaaas”). Em comparação a fórmula eficaz de festival trap, Hudmo confeccionou algo muito mais delicado, uma baladinha de fim de noite de um minuto que funciona muito bem na pista depois que as luzes do festival já foram apagadas. — Dylan Coburn
11) Four Tet – Morning Side
Uma faixa é sempre uma faixa, independente do seu comprimento. O lado A do LP Morning/Evening do Four Tet tem exatos 21 minutos, mas ainda parece muito pouco. Focado em chimbais latejantes, cordas que se curvam lentamente, notas de órgão cintilantes e com a voz do cantor hindu Lata Mangeshkar em loop, a faixa evolui assim como a manhã — desde as primeiras suaves notas do nascer do sol até um céu iluminado até onde os olhos são capazes de enxergar. — David Garber
10) Sporting Life – Badd
Apesar de ter aparecido na cena como um integrante do Ratking, as contribuições solo do Sporting Life neste ano foram, definitivamente, por conta dele mesmo. Seu disco de estreia, 55 5, é repleto de faixas ofuscantes e contorcidas permeadas por lado um emocional ousado e intenso. Ao longo de seus quatro minutos e meio de duração, “Badd” ressoa em absoluto, pegando carona em loops de vocais agudos e com uma pegada Kanye, além de breakbeats fracionados. E, é claro, ela destaca o talento do produtor, mas mais do que isso, de alguma forma, a faixa foge do escopo das cenas e apresentações de hip-hop e footwork que o público deve estar acostumado a associá-lo, em um exercício revelador de movimento catártico na música. Para uma faixa criada a partir de tantas privações do “agora”, “Badd” tem uma abordagem impressionantemente atemporal. — Angus Harrison
9) Jamie xx – Good Times
O LP de estreia do Jamie xx In Colour, lançado no fim de maio, foi um dos mais aguardados do ano. Ao mesmo tempo em que deixou os críticos divididos, ninguém seria capaz de negar que “Good Times”, que conta com a participação da rapper de Atlanta Young Thug e o ícone do dancehall jamaicano Popcaan, foi uma das jams de dance mais iluminadas deste verão. O temperamental produtor inglês conquistou nosso coração com samples gloriosos, baterias borbulhantes e bares efervescentes na medida certa para arrancar sorrisos dos críticos. — David Garber
8) DJ Koze – XTC
DJ Koze é o príncipe palhaço liderando a cena house e techno europeia. O disco do nativo de Hamburgo é repleto das melhores esquisitices possíveis, mas ele sempre alinha seu humor paspalho com uma produção suave, então a piada nunca habita um território duvidoso. Na faixa “XTC”, entretanto, ele vai direto ao ponto — para os padrões do Koze, pelo menos. Teclados de synth luminescentes se embaralham sob o tipo de percussão escorregadia que bombava quando a Kompakt estava no auge, e ainda há uma mulher de fino trato tagarelando sobre ecstasy em cima disso tudo. Em 2015 aprendemos que todo mundo na balada ama músicas sobre as drogas que a gente curte tomar na balada. — Josh Baines
7) Floating Points – Silhouettes 1,2&3
O Sam Shepard disse em uma entrevista que ele se deu conta que precisava estabelecer uma base de confiança e simplicidade com seus fãs, para que então ele pudesse apresentá-los discos com uma pegada mais esotérica que ele gostaria de tocar enquanto DJ. Me pergunto se todas as suas produções até hoje tinham a mesma finalidade, de cada melodia 4/4 da sua obra-prima “Silhouettes I, II, & III”, com suas vozes envolventes e frases de jazz delicadamente alternadas, elas representavam um amadurecimento na sua cabeça. Talvez ele só estivesse guardando-as para o momento certo no qual ele poderia finalmente mostrar ao público a sua real composição.
6) Björk – History of Touches
Se o Vulnicura é um álbum sobre a separação da Björk, “History of Touches” registra este exato momento. I wake you up, in the night feeling/ This is our last time together/ Therefore sensing all the moments/ We’ve been together (Eu te acordo durante a noite, sentindo/Este é o nosso último momento juntos/Por isso conseguimos sentir todos os momentos/Em que estivemos juntos). Comparada a outras músicas da primeira metade do disco, esta é curta e esparsa, como se quisesse enfatizar a rapidez impressionante e fria com a qual uma corda emocional entre duas pessoas — até mesmo uma que foi construída através de décadas de casamento — pode finalmente se romper. Texturas eletrônicas agitadas produzidas em colaboração com o Arca constroem um berço para a voz da Björk descansar a medida que cada tom singelo e cada trepada que ela e seu marido já tiveram aparecem para ela em forma de flashes. E assim como aquele tipo de amor que todo mundo imagina e cobiça, onde você se entrega a uma só pessoa para sempre, “History of Touches” parece perfeita — até acabar. — Emilie Friedlander
5) Rabit – Pandemic
Vivemos em um mundo onde a violência é onipresente. Assassinatos em massa são tão frequentes que, quando surge um novo, o último ainda está sendo reportado no jornal, sem termos um momento sequer para respirar entre os dois. Filmagens de cidades devastadas chegam às nossas TVs e, às vezes, uma torrente dessas guerras distantes chegam até este lado do mundo — explodindo em casa de shows e nos fazendo sentir o gosto de sangue do medo que algumas pessoas vivem diariamente.
Nessa atmosfera, “Pandemic”, a faixa de destaque presente no disco de estreia do Rabit lançado pela Tri Angle, não é apenas um pedaço particularmente brutal do noise industrial — é uma declaração política. Ela começa com um som que parece ser um compactador de lixo passando pela cidade inteira — onde estilhaços de vidro e metal são engolidos por um redemoinho mecânico. Depois, um grito descomunal desencadeia explosões de guerra entre máquinas e uma criança começa a gritar sem parar. Finalmente, uma chuva ensurdecedora de fogo de metralhadora abafa tudo antes de desaparecer em um anel misterioso. Poderia ser a trilha sonora do seu videogame favorito. Mas isso representa apenas um alívio passageiro, já que o terror na TV e no mundo real são tão similares. — Michelle Lhooq
4) Skepta – Shutdown
Esse ano, tive a sorte de assistir muitos artistas tocando seus maiores hinos de 2015 ao vivo, desde o Diplo arregaçando com “Where Are Ü Now” enquanto o Skrillex ficava pra lá e pra cá num Segway até o Jamie xx dando uma palinha daquele sample de Persuasions em “I Know There’s Gonna Be (Good Times)”.
Ainda assim, nada chegou perto da minha experiência ao ver o Skepta quebrando tudo com “Shut Down” nesse último verão — e não só apenas uma, mas duas vezes. Poucas horas depois de ter se apresentado no OVO Festival de Toronto com o Drake — que deu aquela introdução irresistivelmente besta à música — o Skepta se apresentou de novo em um clube lotado onde o suor praticamente escorria nas paredes. Enquanto outros canais de música insistem em argumentar sobre o ressurgimento da popularidade do grime nos clubes da América do Norte, o Skepta provou que o único selo de aprovação de que ele precisava era o dos seus fãs. — Max Mertens
3) Bjarki – I Wanna Go Bang
O maior nocaute techno do ano foi feito em 40 minutos pela obscura produtora islandesa durante um período miserável. “Tinha acabado de voltar para a Islândia e tinha conseguido um trabalho bem bosta”, Bjarki disse à Rolling Stone. “Fui a um show [da Mistress Barbara] — que consegui dar um jeito de entrar sem pagar — e senti muita atitude e raiva na música. Pensei, ‘Quero fazer algo do tipo’”. Sampleando a faixa “2 Be Free” (Dance Mania, 1996) do DJ Deeon, Bjarki filtrou o vocal ghettohouse em um rugido intensamente robótico. Quando o crescendo finalmente chega ao ápice, uma pitada de melodias trêmulas injeta uma onda de energia nervosa.
“I Wanna Go Bang” se tornou um clássico do horário de pico — o youtube está repleto de vídeos dos illuminatis do techno (Dettman, Rodhad, Klock, Capriati, etc) tocando essa faixa no auge da balada. Ela transformou a Bjarki numa revelação e se mantém como o maior hit lançado pela label da sua mentora Nina Kraviz, a трип. Num mundo cheio de exageros e lixos desnecessariamente pretensiosos, é confortante ouvir algo que deixa essas baboseiras de lado e vai direto ao ponto: Eu quero curtir. Afinal, não é isso que faz as pessoas se levantarem da cama diariamente ou fazerem qualquer outra coisa? — Michelle Lhooq
2) Jack Ü – Where Are Ü Now
Músicas que definem momentos no tempo raramente foram feitas para eles. Ninguém poderia prever que o Justin Bieber seria a arma secreta por trás da maior faixa de dance do ano, e o hit que fez Skrillex e Diplo chegarem mais próximo do topo nos rankings. E cá estamos nós. “Where Are Ü Now” marcou o momento onde quaisquer fronteiras que ainda restavam entre o EDM e a música pop foram oficialmente eliminadas. Mas o que faz essa faixa ser realmente excepcional é a sua habilidade em ser esquisita e ter um apelo comercial ao mesmo tempo: ela se recusa a firmar um compromisso com a sua idiossincrasia enquanto proporciona um ímpeto imediato e sob medida.
“Where are u now?“, esta pergunta tão simples se tornou uma missão declarada dolorosa e entusiasmada — um lamento feito pelas crianças de um mundo pós-guerra, pós-internet e pós-irônico e que durou um verão inteiro. E a resposta perfeitamente afiada com o nosso mal-estar da era digital foi a mais propícia possível: um golfinho tocando flauta no espaço. — Angus Harrison
1) Grimes – Butterfly
Durante este verão, eu passei alguns dias de bobeira com a Grimes em Los Angeles. Nós falamos sobre várias coisas, inclusive sobre algumas questões bem atuais, como por exemplo de que forma ela se tornou emblemática para o público, como é ser uma mulher com uma carreira tão sólida e manter um relacionamento e como ela se sente sendo uma artista da cena faça-você-mesmo canadense que da noite pro dia ficou muito, muito famosa. Às vezes, ser um jornalista musical nessa era pós-internet pode ter muito mais a ver com escrever sobre o que as pessoas representam do que sobre música em si.
Mas aí surgem músicas como a “Butterfly” e você se vê rodeado das coisas que sente falta em uma pessoa quando está tentando resumir sua carreira em apenas uma manchete ou citação. No caso desta artista, foi o fato de que a Boucher fez uma música que, lírica e sonoramente, aponta para nada, mas a alegria simples e sincera de criar e tocar música pop — no início, de igual para igual e quase formal em seguida uma escalada através de uma série de drops pesados e saltos melódicos verticais, resultando em nada menos do que um grito realmente encorpado. Não sei exatamente como descrever aquele grito, mas ele parece conter o mistério que as pessoas tanto buscam na música pop — e por que, talvez, apesar do fardo de todas as coisas que ela passou a representar, uma artista como a Boucher deveria continuar fazendo isso. — Emilie Friedlander
Tradução: Stefania Cannone
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