Todo mundo adora fotografia analógica.
“É mais tosco. Adoro as imperfeições”, diz seu namorado, que trabalha com relações-públicas mas foi na exposição do Wolfgang Tillmans no Tate uns anos atrás e agora tem um Instagram separado para “fotos de Yashica T5” (102 seguidores, aproximadamente 10 milhões de fotos borradas de lixo na rua).
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Mas o filme não preserva lembranças apenas pra você, eu e todo mundo que acabou de comprar uma câmera de filme basiquinha usada na internet e buscou no Google o que significa “abertura”. Ele também preserva as lembranças de gente estranha. Talvez porque é mais fácil destruir um filme que uma fotografia digital. Ou talvez porque você pode deixar a câmera largada por aí sem ninguém entrar no seu arquivo de fotos e descobrir as nojeiras que você anda fazendo.
Seja lá o que for, parece que tem alguma coisa no filme que o torna o meio preferido de velhos esquisitos, manic pixie dream girls wannabe que só namoram traficantes de cocaína, entusiastas de BDSM de meia idade e caras de vinte e poucos anos que eram um pouco obcecados demais por Jackass na adolescência.
O que me fez pensar: que tipo de bagulho depravado teve que ser testemunhado pelos coitados dos técnicos que revelam os nossos filmes? Pedimos a alguns deles pra contar suas piores histórias, garantindo anonimato total para que eles não sejam demitidos.
‘Uma delas tinha um cocô no travesseiro do lado da cabeça de um cara dormindo’
“Uma vez revelei umas cinco câmeras descartáveis ao mesmo tempo das férias de um grupo de caras. Acho que era uma despedida de solteiro ou algo assim, porque tinha um monte de fotos de zoeiras de bêbado. As coisas normais tipo fantasias idiotas, fotos de grupos grandes de terno, fotos de pegadinhas, bundas e tudo mais.
“Mas também… bom, uma delas tinha um cocô num travesseiro do lado da cabeça de um cara dormindo. Eu não estava trabalhando quando o cara que trouxe as câmeras veio buscar as fotos, o que é uma pena, porque eu ia adorar ver a cara de pau dele quando eu entregasse as fotos. Agora não parece uma ideia tão boa assim, né? Espero que a mulher dele tenha visto e dado um tabefe nele!”
– Angela
‘A mulher nas fotos, com o pai dele, definitivamente não era a mãe’
“A maioria das fotos que a gente revela é de férias normais, fotos de família, filhos das pessoas, etc. As mais interessantes são de pessoas que trazem rolos de filme bem velhos que acharam em casa, guardados anos atrás, e não fazem ideia do que tem neles.
“Teve uma vez que um cara chegou com um filme que achou limpando a casa do pai depois que ele morreu. O rolo tinha principalmente fotos de família, nada de especial, mas achei que seria uma coisa bem legal pro filho dele ter. Quando o cara veio buscar, revisei as fotos com ele pra ver se ele queria imprimir alguma num formato maior. Aí ele ficou meio quieto, o que achei estranho. Depois de um tempo, ele disse que não reconhecia ninguém nas fotos, só o pai. A mulher nelas definitivamente não era a mãe, e ele só tinha irmãs, mas tinha três meninos nas fotos. Foi bem estranho, e ele foi embora logo depois e nunca fiquei sabendo o resto da história. Uma segunda família secreta, talvez? Estranho…”
– Lisa
‘Já vi muita genitália; e uma ou duas cenas íntimas’
“Não sei se eu devia estar te contando isso, mas meu gerente ainda não chegou, então… temos que ver as fotos, porque ajustamos o brilho se a imagem ficou muito escura. Geralmente só preciso olhar as primeiras e as últimas, então aqui vai um conselho se você tem alguma foto estranha que quer revelar: esconda as esquisitas no meio do filme!
“Você acha que as pessoas teriam vergonha de trazer o filme pra revelar se tem algumas fotos picantes, mas nem sempre. Já vi muita genitália; e uma ou duas cenas íntimas. Só digo isso.”
– Richard
‘Um cara trouxe vários rolos com fotos de bonecas em diferentes posições sexuais’
“Eu trabalhava num laboratório de fotos de uma farmácia na faculdade, e a gente via todo tipo de merda estranha e nojenta. Muita coisa sexual, e tinha um cara bizarro que trazia rolos e rolos com mulheres jovens posando de calcinha. Ele devia dizer que era fotógrafo ou agente de modelos? Sei lá. Depois de um tempo, eu só mandava um colega homem atender o cara – ele era muito esquisito. E tinha outro cara que às vezes trazia rolos cheios de fotos de bonecas em diferentes posições sexuais. Honestamente, aquele trabalho me expôs a uns caras muito lixo.”
– Marta
‘Era só uma pilha de fotos de vômito’
“Onde trabalho agora, temos uma política de não olhar as fotos privadas das pessoas, e mantemos isso. Mas você ficaria surpreso como a maioria das coisas são chatas: férias de família, formaturas, aniversários… e quando você já viu um casal, já viu todos.
“Mas onde eu trabalhava dez ou 15 anos atrás, a cultura era muito mais relaxada e eu vi algumas coisas estranhas. As pessoas usavam mais câmeras descartáveis na época também. Uma coisa que sempre lembro era uma pessoa que documentava toda vez que passava mal, era só uma pilha de fotos de vômito. Prefiro pensar que era algum tipo de projeto de arte, mas não tem como ter certeza. Tinha sempre umas fotos de sexo no meio também, mas aí já era de se esperar, né?”
– Reece
Matéria originalmente publicada na VICE Inglaterra.
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