No dia 31 de agosto de 2016 acontecia o terceiro protesto contra Michel Temer, empossado presidente após o impeachment de Dilma Rousseff. Era também a terceira manifestação a deixar um saldo sanguinolento após violenta repressão pela Polícia Militar (PM). O fotógrafo Vinicius Gomes, 19, e sua câmera também foram vítimas nesse dia.
“Desce um cop e, sem motivo algum, sem dizer nada, começa a me dichavar na porrada”, relata Vinicius, fotógrafo freelancer da VICE Brasil e integrante dos coletivos Remirar e Afroguerrilha. “Levei um golpe de cassetete na cabeça que me derrubou e, mesmo assim, sem reagir e no chão, continuei apanhando absurdamente dos policiais, vendo minha câmera ser destruída e algemado.” Segundo relatos, um dos policiais teria pisado na câmera de Vinicius e uma viatura teria passado por cima do equipamento. Fato é: não sobrou muita coisa.
Videos by VICE
As agressões aconteceram por volta das 21h30. O profissional, que apresentava um grande sangramento na cabeça, ainda foi algemado e colocado na viatura junto com o também fotógrafo William Oliveira — eles foram levados até a Praça Princesa Isabel. Lá, os PMs os remanejaram para uma outra viatura, levando-os para o 78º DP.
Na delegacia, Vinicius disse que gostaria de ser levado para um hospital pois continuava sangrando muito. Os policiais demoraram um bom tempo para encaminhá-lo até o pronto-socorro mais próximo. E o atendimento só veio pro volta da meia-noite, junto com quatro pontos na cabeça.
De volta para o 78º DP, um Boletim de Ocorrência foi registrado. Nele, constam informações desencontradas da PM, dizendo que os dois detidos haviam “incitado violência” e “arremessado pedras e garrafas”, porém nenhum dos policiais presentes no registro do BO presenciaram os fatos.
Ambos os fotógrafos foram liberados somente às 5h da manhã do dia seguinte (1º).
Foto: Reprodução do Boletim de Ocorrência.
Enquanto a detenção de Vinicius se desenrolava, o jornalista Fernando Sato encontrou a câmera do fotógrafo completamente destruída. O cartão de memória com as fotos estava ainda dentro da câmera, arranhado, mas estava lá.
O jornalista, então, colocou os pedaços dos equipamentos em uma sacola plástica que passou por várias mãos até chegar no também fotógrafo Ignacio Aronovich que recebeu o cartão com as fotos daquela noite. Milagrosamente o cartão funcionou e as poucas fotos que foram apagadas pelos PMs foram recuperadas.
“Não quero ser simplesmente aquele fotógrafo que se fodeu e que a polícia quebrou a câmera. Sou o fotógrafo doidinho que tá na correria fazendo uns GIFs e umas fotos. Quero que as pessoas lembrem não só da situação, mas do meu trabalho. Deixa que as fotos falem por si só”, finaliza o jovem fotógrafo.