Hoje, 8 de Março, as mulheres da redacção da VICE Espanha – que com a VICE Portugal forma a VICE Ibéria – juntam-se à #HuelgaFeminista do Dia Internacional da Mulher e, como tal, não será publicado qualquer conteúdo novo ao longo do dia, no site, ou nas redes sociais. Em Portugal, decidimos apoiar a posição das nossas colegas (equipa em que, aliás, se inclui a nossa redactora Madalena Maltez).
Em Espanha, o momento é histórico, porque, pela primeira vez, a Greve Internacional das Mulheres, convocada um pouco por todo o Mundo, conseguiu o apoio dos sindicatos, que responderam positivamente ao apelo da Comissão do 8 de Março, para que o Dia Internacional da Mulher fosse celebrado através de actos de protesto. Greve das mulheres ao trabalho, aos cuidados com os filhos, às tarefas domésticas e até às compras. No país vizinho, para além das centrais sindicais, também alguns partidos políticos dão cobertura à ideia de uma paralisação laboral das mulheres. O objectivo do movimento internacional passa por conseguir a adesão à greve em 177 países.
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E em Portugal? Bem, de acordo com declarações prestadas ao Diário de Notícias de 16 de Fevereiro, por Adriana Lopera Orta, da Rede 8 de Março, que por cá é a entidade responsável pela tentativa de organizar a greve, “as respostas positivas simplesmente não chegaram”, à excepção do apoio político declarado do Bloco de Esquerda.
“Estamos a tentar falar com os sindicatos para que apoiem a greve das mulheres, mas ainda não tivemos respostas. A paralisação é apoiada pelo BE, o único partido que temos confirmado. Mesmo que não haja uma paralisação laboral apoiada pelos sindicatos, temos sempre a possibilidade de apelar à greve das mulheres ao cuidar dos filhos ou ao trabalho doméstico, como também está a ser feito em Espanha. Ou seja, deixar de levar os filhos à escola, de lavar a louça, fazer as camas, não fazer refeições para a família e não consumir ou comprar nada nesse dia”, avançava a activista ao DN.
No território nacional, a Rede 8 de Março garante a realização de uma manifestação em Lisboa e outra no Porto… mas só a partir das 18h00. Estranho? Nada disso. Até bastante “normal”, quando olhamos para os últimos dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat) e vemos que, por exemplo, Portugal é um dos 10 Estados-Membros em que a diferenciação salarial de género mais subiu entre 2011 e 2016, cerca de 4,6 por cento – seguido pela Eslovénia (4,5 por cento) – situando-se em 2016 nos 17,5 por cento, menos 0,3 por cento do que em 2015.
Dentro da UE, ainda assim, de acordo com o Eurostat, no período descrito o fosso salarial dentro da UE decaiu 0,6 por cento, de 16,8 por cento em 2011 para 16,2 por cento em 2016, devido sobretudo às melhorias na Roménia (menos 4,4 por cento), na Hungria (4 por cento), em Espanha e Áustria (ambas com menos 3,4 por cento), Bélgica (3,3 por cento) e a Holanda (3 por cento).
Na liderança deste ranking da desigualdade salarial entre homens e mulheres, em 2016 encontramos a Estónia (25,3 por cento), a República Checa (21,8 por cento), a Alemanha (21,5 por cento), o Reino Unido (21 por cento) e a Áustria (20,1 por cento). Abaixo dos 10 por cento, temos Roménia (5,2 por cento), Itália (5,3 por cento), Luxemburgo (5,5 por cento), Bélgica (6,1 por cento), Polónia (7,2 por cento), Eslovénia (7,8 por cento) e Croácia (8,7 por cento).
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E na casa portuguesa, com certeza, também não nos deixamos ficar quando o que conta é sermos os maiores, só que ao contrário. Segundo o estudo da Eurostat A vida das mulheres e dos homens na Europa – um retrato estatístico“, realizado em 2017, tanto em Portugal, como em todos os Estados-Membros “há uma maior percentagem de mulheres do que de homens a fazer tarefas domésticas, cozinhar e cuidar dos filhos diariamente”. Parece que em Portugal, apenas 19 por cento dos homens adultos desempenha algum tipo de tarefa doméstica no dia-a-dia, em comparação com 78 por cento das mulheres.
O País ocupa, assim, a quarta posição enquanto país europeu mais desigual na distribuição de tarefas domésticas por género. Um ranking em que as diferenças só diminuem no que diz respeito a criar e educar os filhos, com 99 por cento das mulheres entre os 25 e os 49 anos de idade a afirmarem guardar tempo todos os dias para a educação dos filhos, contra 87 por cento dos homens. Vale-nos o terceiro lugar do pódio entre os países com menos desigualdade nesta questão específica.
Nada disto, no entanto, parece ser suficiente para uma tomada de posição conjunta entre a dita sociedade civil, políticos, entidades e afins. Uma posição que englobe também os homens, que seja efectivamente um “Basta” e não um “cada-um-para-o-seu-lado”, porque, lá está, cada um tem de defender os seus interesses. O país das capelinhas. Só que aqui, o interesse é de todos, caramba.
Em 2016, as mulheres portuguesas trabalharam 70 dias sem remuneração, uma desigualdade entre mulheres e homens que atingiu 19,1 por cento no ganho médio mensal. Isto é avançado por um estudo da CGTP, divulgado no âmbito da Semana de Luta pela Igualdade, que decorre até 9 de Março. E porque é que, nesta semana, a central sindical não se junta à greve internacional? Porque, como avança uma das suas dirigentes ao DN, “temos iniciativas próprias” e “não fazemos pré-avisos de greve que não tenham sustentabilidade no que são as reivindicações das trabalhadoras nos vários setores laborais”. Muito bem. É uma posição tão válida como qualquer outra, mas também não deixa de ser o clássico “cada um por si”.
Estamos em 2018, aquele ano que veio a seguir a 2017, que foi aquele ano em que a mudança global no que às questões de género diz respeito saltou definitivamente para a ordem do dia. Sair à rua é importante. Tomar posições conjuntas, globais, comunitárias, mais ainda. Em Espanha percebeu-se isso. Em Portugal, talvez um dia.
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