Há pouco mais de uma semana, o Centro do Rio de Janeiro, mais especificamente os entornos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), tem sido palco de diversos protestos, com carro de som, ruas fechadas e vários embates com a Tropa de Choque. Mas não se deixe enganar pelas camisetas pretas e os urros à la black bloc. Os manifestantes da vez são servidores públicos do Estado, principalmente agentes de segurança pública.

Foto: Tércio Teixeira/R.U.A Foto Coletivo/VICE
Realizados quase diariamente contra o pacote de austeridade do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), as manifestações ganharam notoriedade nacional quando, na semana passada, agentes da segurança invadiram a plenária da Alerj, quebrando móveis e destruindo documentos, num episódio que culminou com o afastamento de Rodrigo Sanglard, o comandante do Batalhão de Grandes Eventos, que na ocasião teria permitido a entrada dos manifestantes na casa, a maioria deles policiais e bombeiros militares.
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Nesta quarta-feira (16), data marcada para a votação de dois dos pontos do pacote de austeridade, houve uma nova manifestação, desta vez com diversas categorias de servidores públicos unificados, da segurança, educação, judiciário e Ministério Público, além de estudantes e ativistas de outras classes como o movimento negro.
O edifício da Alerj amanheceu duplamente gradeado, mas por volta das 11h as barreiras foram derrubadas, iniciando um conflito entre manifestantes e policiais da Tropa de Choque. Houve muitas bombas e episódios violência, há relatos de armas de fogo sendo bradadas por manifestantes e troca de tiros com munição letal.

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Há também um vídeo que mostra policiais da Tropa de Choque desertando da missão de proteger a Alerj da ação dos manifestantes — “não queremos mais participar disso”, teria dito um deles. Mesmo com inúmeros atritos, a violência cessou por volta das 13h, quando após um encontro do presidente da Assembleia, Jorge Picianni, com as lideranças do movimento, foi decidido adiar a votação do pacote de austeridade até o mês de dezembro.
Ramon Carreira, diretor geral do SINDJUSTIÇA e um dos líderes do MUSPE (Movimento Unificado de Servidores Públicos do Estado), que mancava por ter sido atingido por uma bala de borracha na perna, explicou resumidamente que o objetivo do movimento “é contra o pacote de medidas que trata de empurrar para os servidores a conta de uma crise fabricada desde 2007. O governo chama de pacote de austeridade, a gente chama de pacote da maldade, que quer vitimar os servidores e a população, fazendo desconto compulsório nos salários. O governo já recuou nesse ponto, eles queriam dar desconto de 30% no salário sendo que estamos sem reajuste há alguns anos.”

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Para Carreira “o governador diz que não tem saída, que não tem plano B, mas tem saída sim, o plano B é a suspensão e a revisão das isenções fiscais. Pois elas já deram de prejuízo ao estado 180 bilhões de reais de 2007 a 2015”. As isenções citadas, que vão de rede de salões de cabeleireiros a termas de luxo, foram citadas como uma solução possível para crise no estado por diversas das lideranças e manifestantes.
No ato desta quarta, como no de outros dias, eventualmente alguns servidores mais revoltados tomavam o microfone em tons de ameaça, “se não reverem esse pacote, em algum momento alguém vai tomar esse governo na marra” proclamou uma manifestante num dos atos da semana passada.

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Para um PM que distribuía panfletos “se aqui tivesse só policial, a gente ia resolver isso fácil, mas aqui tá um local perigosíssimo, os próprios policiais que estão do outro lado sabem disso. Eu não estava na invasão da semana passada, mas posso dizer que o comandante que estava aqui naquele dia tinha de ganhar uma honra ao mérito, ser premiado, pois ele evitou uma carnificina. Mas como praxe, ele foi afastado. Na verdade o policial é oprimido dentro do quartel, e sai pra ser oprimido na rua, esse comandante que teve uma postura humana e social, na verdade foi humilhado, é a violação dos direitos humanos.”

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O presidente da Associação dos servidores do DEGASE, João Luís Pereira Rodrigues, disse que na reunião com o presidente da câmara “diversas categorias dos servidores do Estado se reuniram, uma vez que todas foram afetadas [pelo pacote de austeridade] e isso foi positivo pois mostramos coesão num momento em que o governo tenta tirar direitos básicos da gente”, coloca. “O [deputado Jorge] Picciani recebeu nossas representações e afirmou que nada será votado no mês de novembro, que tudo será discutido em colégio de líderes com a presença dos sindicatos, deputados e líderes das bancadas e o próprio governo.”

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Luís Pereira lembra ainda que a luta da manifestação é para que o governo do estado “reveja as isenções fiscais, reveja as questões das dívidas do estados, mas não aceitamos que mexam nos direitos dos servidores públicos.”
Mesmo com o ato oficialmente encerrado por volta das 16h, às 18h várias ruas do centro do Rio permaneciam fechadas, ocupadas por policiais da Tropa de Choque e manifestantes, muitos deles com a cara esbranquiçada de leite de magnésio (para amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo).
Mais imagens do ato abaixo:

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Um novo ato unificado foi convocado por servidores para próxima terça-feira, dia 22.
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