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VICE Sports

O mal-estar bolsonarista no futebol

Declarações inflamadas e homofóbicas pró-Bolsonaro causam constrangimento e botam em risco a evolução do esporte brasileiro.
Felipe Melo, meia do Palmeiras, é um dos apoiadores de Jair Bolsonaro, candidato conhecido por suas declarações violentas e ofensivas a minorias. Foto: Agência Palmeiras

No embalo dos cantores sertanejos, alguns jogadores de futebol e membros de torcida organizada declararam, nos últimos dias, apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro, do PSL, o recordista em denúncias no Conselho de Ética da Câmara.

Os episódios mais inflamados ocorreram neste domingo. Em entrevista após jogo contra o Bahia, o meio-campista palmeirense Felipe Melo dedicou o gol ao polêmico candidato. “Agradecer a Deus pelo gol, à família, esse gol vai para nosso futuro presidente Bolsonaro”, falou, com seu costumeiro tom colérico. O vídeo viralizou nas redes e foi estopim para um debate sobre liberdade de expressão, que resultou em nota oficial do Palmeiras garantindo que a manifestação foi particular e não representa a instituição.

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No mesmo dia, torcedores do Atlético Mineiro também se manifestaram a favor do candidato, mas de modo mais violento. Durante intervalo da partida contra o Cruzeiro, alguns torcedores cantaram: “Ô cruzeirense, toma cuidado: o Bolsonaro vai matar viado”. O grito foi motivo para declaração do Atlético Mineiro de que o canto ofensivo à comunidade LGBTQ não era opinião do clube. Ainda assim, muitas torcedoras do Atlético Mineiro se sentem constrangidas e ameaçadas pela postura nas arquibancadas.

Ambos episódios não estão isolados. Nomes como Cafu, Jadson, Kaká, Alisson e Edmundo também declaram apoio a Bolsonaro. O meia Lucas Moura, do Tottenham, foi outro que fez questão de emplacar uma grande discussão com seguidores em seu Twitter ao declarar apoio ao presidenciável do PSL. Em seu perfil, Moura postou 24 respostas em defesa do candidato em meio a mensagens de usuários que repudiavam o candidato por atitudes machistas, racistas e homofóbicas. "Não sei de onde você tirou essas conclusões, sinceramente", rebatia Lucas, aparentemente pouco informado, enquanto defendia Bolsonaro contra acusações racistas.

Segundo reportagem da UOL, o episódio rendeu bastante dor de cabeça para Moura. O time inglês blindou o jogador e as torcidas organizadas a falarem sobre isso com a imprensa ou em qualquer situação. A preocupação do clube, de grande tradição judaica, é de que este caso se espalhe na sociedade inglesa causando má repercussão.

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Para muitos comentaristas estrangeiros e nacionais, o que está em questão não é o fato de jogadores apoiarem publicamente seu candidato questionável, e sim endossarem o discurso violento de um político que já ofendeu publicamente mulheres, gays e negros e que, dias antes de receber uma facada, falou que era preciso “metralhar a petralhada”. No dia após o jogo, o jornalista Juca Kfouri se referiu aos torcedores homofóbicos do Galo como “beócios” e comparou os simpatizantes de Bolsonaro aos nazistas alemães. “Os adeptos do ‘Brasil acima de todos’ lembram os nazistas alemães com seu ‘Deutschland über alles’: Alemanha acima de tudo.” Por fim, em tom crítico, disse que “jogadores têm todo direito de se manifestar e é saudável que o façam, no exercício da cidadania e para que a sociedade saiba quem é quem”.

As declarações de jogadores pró-Bolsonaro também preocuparam as torcidas antifascistas, que tentam trazer algum progressismo ao ambiente futebolístico conhecido por ser excludente, machista e homofóbico. A página oficial da torcida antifascista do Palmeiras publicou neste domingo uma nota em que repudia a presença de Felipe Melo no time. “Sua visão de mundo não condiz com um clube que foi fundado por imigrantes, operários das Indústrias Matarazzo”, escreveram.

Em caso de gritos ofensivos a minorias, como foi o caso de parte da torcida do Atlético Mineiro no último domingo, medidas jurídicas são cabíveis. De acordo com o Estadão Conteúdo, a Procuradoria do STJD entende que o clube tem de ser responsabilizado pelo ato e anunciou ontem que o Atlético-MG deve ser denunciado por descumprimento do Estatuto do Torcedor. "No atual momento do Brasil precisamos reprimir esse tipo de atitude. A Fifa está brigando contra essa conduta dos torcedores. Os fatos serão analisados e, muito provavelmente, será deflagrada uma denúncia", disse o procurador-geral, Felipe Bevilacqua.

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