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Música

"Tenho Feito Música de um Jeito Egoísta": Uma Entrevista com Lee Bannon

Apesar de seu primeiro lançamento ter acontecido há pouco tempo, em janeiro, ele já faz planos para o futuro e confessa que frequentemente pensa sobre o legado que vai deixar.
Todas as fotos nessa matéria por Mich Chiu.

"Você já viu aquela entrevista que o Beck joga um sapato no cara?" pergunta Lee Bannon. O produtor, nascido em Sacramento e hoje morando em Nova York, está sentado no terraço da cobertura do Museu de Arte Contemporânea de Montreal, onde mais tarde vai tocar um set implacável de drum and bass, jungle breaks, e sua releitura distorcida de "Bound 2", de Kanye West (que infelizmente não está mais disponível no seu SoundCloud), no Festival MUTEK da cidade.

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O primeiro gosto que teve do sucesso foi fazendo batidas para o rapper Joey Bada$$, e saindo em turnê com o pessoal do Pro Era, um assunto desde então abordado ad nauseam pelos entrevistadores, a tal ponto que não daria para culpar Bannon por querer tirar o calçado e jogar nos outros, como Beck fez durante uma entrevista no programa 120 minutes, em 1994, com Thurston Moore, do Sonic Youth. Mais que tudo, a anedota de segunda mão prova que o produtor é um erudito da música ("Eu tenho uma playlist sinistra no YouTube, com tipo uns 180 documentários e músicas", diz ele), e um artista que impõe critérios muito exigentes à própria música.

Apesar de Alternate/Ending, seu primeiro lançamento pelo respeitado selo independente Ninja Tune, ter saído há pouco tempo, em janeiro, ele já faz planos para o futuro e confessa que frequentemente pensa sobre o legado que vai deixar. Conversamos sobre sua produção prolífica, sobre o que motiva sua música, e a experiência da turnê com o falecido DJ Rashad. Estamos estreando também "Deep/Future", a colaboração de Bannon com o DJ Earl, pioneiro do footwork em Chicago e membro do Teklife, que sampleia um cover de Nina Simone e surgiu da troca de ideias por e-mail entre os dois.

THUMP: Para você não é novidade tocar em Montreal, tendo se apresentado aqui outono passado, no Pop Montreal. O que faz o público daqui diferente dos públicos de outras cidades que você tocou?
Lee: Os três melhores públicos que tive foram o japonês, a galera do Low End (as festas do Brainfeeder em Los Angeles) e em Montreal. O que todos eles têm em comum é que chegam sabendo o que vão ver, não caem no lugar de paraquedas porque estavam lendo um monte de blogs ou sei lá o que, eles fizeram a pesquisa mesmo. O pessoal fica ligadão e curte a música.

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Você passou do hip-hop para o drum and bass e uma música mais no estilo jungle. Aonde você planeja ir depois de Alternate/Ending?
Para ser sincero, tenho recusado um monte de ofertas e oportunidades de trabalhar com os outros fazendo hip-hop. Atualmente tenho feito música para mim mesmo, dum jeito bem egoísta. Estou com um novo projeto, que acabei de concluir, nunca fiz nada tão forte em música quanto esse agora. É um gênero com o qual venho experimentando desde Alternate/Ending, meio que uma música monótona, de ambiente, duma certa maneira quase com umas vibes pós-rock. Não é certo que vai sair esse ano, mas estou trabalhando numas coisas para o fim do verão e para o outono.

Quanto material não-lançado você tem?
Tenho conteúdo para dias inteiros. Um dos meus computadores provavelmente tem tipo mil músicas e batidas guardadas. No meu quarto tem um caderno de ideias para certos discos que não quero lançar antes dos 27 anos, outros que não quero que saiam antes de eu fazer 32, só porque faz mais sentido, em termos de ordem.

Você vê algum futuro em que o jungle possa ser cooptado por artistas mais mainstream?
Eu sinto que quem realmente gosta do estilo é exatamente quem eu quero que goste, seja drum and bass, ou jungle, ou IDM. São fãs sérios e que não têm planos de ir embora, a perspectiva deles é de longo prazo, não são volúveis. É uma base de fãs leal, e eu prefiro ter cinquenta fãs leais, que compram cada disco novo que sai ou vão a todos os shows, do que ter cem fãs volúveis.

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Quais são as suas inspirações musicais nesse momento?
O disco Spirit of Eden, do Talk Talk, é fantástico, com certeza está no meu top cinco discos de todos os tempos. Coisas mais recentes… gosto de B L A C K I E, Sd Laika, o disco novo do Ben Frost é excelente.

Você esteve em turnê com o DJ Rashad antes dele falecer. Como você foi apresentado à Teklife, e onde estava quando soube da notícia?
Recebi um e-mail dizendo que eles estavam ouvindo o Alternate/Ending e membros do Teklife começaram a me seguir no Twitter. Acho que o DJ Earl foi o primeiro a puxar conversa comigo, daí fomos para o Gchat. Acho que éramos duas pessoas com ideias parecidas, e tínhamos sofrido as mesmas influências. Todos eles têm um conhecimento histórico em relação ao tipo de música que estão fazendo, techno, footwork, jungle, eles conhecem a porra toda de trás pra frente. Com certeza não é um pessoal fake. Eu tinha ouvido falar neles e ouvido as músicas uns anos antes, mas quando saiu "Let it Go" do Rashad, foi essa que me marcou mesmo.

Quando ele morreu, foi um choque para todo mundo, ninguém esperava. Num minuto você está lá com ele, e no instante seguinte… A gente estava em Denver, e ele tinha esquecido uma das malas no quarto de hotel. Já estávamos atrasados para o voo, então ele disse para mim e para o Spinn já irmos para o terminal enquanto ele esperava pelo motorista. Uma coisa muito bizarra aconteceu, o motorista mandou pra todos nós uma foto de um festival do Shakespeare, tinha gente vestida de Shakespeare por todo canto, e ele não conseguia sair do trânsito para pegar a bagagem. Então o Rashad perdeu o voo e acabou que fomos só eu e o Spinn no show de Toronto. A gente tomou café da manhã e eu peguei meu voo de volta, mas o telefone estava desligado e eu descobri pelas mensagens de texto, logo na hora que o avião pousou. Foi muito doido.

Qual a memória favorita que você tem dele?
A gente estava comendo umas panquecas e falando dumas paradas boas, do Aphex Twin, eu fiz umas perguntas, fumei maconha pra caralho, fiquei bêbado. Foi divertido, simplesmente isso. Que isso tenha acontecido especialmente no início da turnê, o que ele estava fazendo pelo som era muito importante, ele é o motivo que a coisa funcionou para mim. Eu sei que meu som e o dele são completamente diferentes, mas ele estava fazendo uma plataforma maior para o som. Eu aprendi muito com aquilo, e estou aplicando essa lição às músicas novas.

Max Mertens é escritor e mora em Toronto. Ele está no Twitter: @Max_Mertens

Tradução: Marcio Stockler