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O coronavírus vai ser a nova grande doença

Vamos todos morrer.

Questões como uma chuva de meteoritos numa vila remota na Rússia ou um ditador norte-coreano com o dedo no gatilho podem parecer como o início de uma crise que levará o mundo à beira de um abismo catastrófico. Mas os verdadeiros indícios para o fim-do-mundo são coisas bem menos espectaculares (e bem mais perigosas), que emergem do mundo dos vírus. A mais recente é uma variação do coronavírus, um vírus mortal que ganhou esse nome por causa dos espinhos em forma de coroa na sua superfície. (Não, não foi por causa de nenhum patrocínio infeliz.) Há umas semanas, no hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, o novo coronavírus fez a sua sexta vítima global. Mas há mais: no mês passado, dois membros da família de uma das vítimas contraíram o vírus, o que leva os cientistas a suspeitar que esta nova infecção pode ser transferida de humano para humano — sim, sabemos que estas não são as notícias mais animadoras de sempre. A questão é que este vírus mortal que tem potencial para matar toda a gente que conheces, portanto presta atenção. As autoridades ainda não se passaram, mas os novos desenvolvimentos devem, certamente, elevar o nível de ameaça, explica David Quammen, autor de Spillover: Animal Infections and the Next Human Pandemic. “Isto faz soar o alarme por razões óbvias, a possibilidade de transferência de humano para humano é um dos passos que um vírus precisa de dar para se transformar numa pandemia.” A descoberta do coronavírus deu-se em Setembro de 2012, quando um homem do Qatar foi transferido para Londres para receber tratamento para uma doença misteriosa. De acordo com Quammen, a questão levantou preocupações entre os especialistas desde o início. “Há certas famílias e grupos de vírus que estão na nossa lista de observação por causa do seu potencial para causar o próximo grande surto, que se pode tornar numa epidemia, ou até mesmo numa pandemia. O coronavírus faz parte dessa lista.” O David Quammen. Até agora, apenas 12 casos confirmados de coronavírus foram comunicados publicamente — e um terço das vítimas está no Reino Unido. Tal como o vírus da gripe das aves que assolou a Ásia há uma década, o coronavírus também provoca problemas respiratórios que causam complicações renais, dificuldades em respirar e febre. Até agora, metade de todos os casos conhecidos foi fatal. E um novo estudo revelou que o vírus reproduz-se no corpo humano mais rapidamente do que a SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave, mundialmente conhecida como SARS) e que pode esquivar-se do sistema imunológico tão facilmente como uma gripe comum. Apesar de as autoridades médicas garantirem que o vírus oferece, actualmente, um baixo risco para a população em geral, a verdade é que, na sua fase inicial, é impossível determinar exactamente o quão perigoso pode ser. Um porta-voz da HPA, a agência britânica de saúde, afirmou: “Tratando-se, realmente, de um novo tipo de vírus, não se sabe o perigo que ele representa, porque quando a amostra de casos é tão pequena, somos induzidos a pensar que ele comporta-se de certa maneira. Mas isso pode, claro, alterar-se. Os vírus mudam frequentemente e, às vezes, um novo vírus pode surgir. Da mesma maneira, um vírus pode aparecer depois de um longo período de tempo com poucas mutações. É muito difícil dizer.” Independentemente deste coronavírus acabar na boa ou a causar estragos graves, os cientistas acreditam que é só uma questão de tempo até surgir a nova pandemia global. O David Quammen explica: “Os especialistas dizem que sim, que é muito provável que novas doenças continuem a surgir. Estou a falar da Nova Grande Doença, a NGD. É quase tautológico que haverá uma próxima NGD. A questão é qual será e quão grande?” Surtos de novas doenças são mais comuns do que se pensa. Só nos últimos meses, uma variedade de tuberculose completamente resistente a medicamentos começou a espalhar-se pela África subsariana e o número de infecções por gonorreia incurável subiu significativamente nos EUA. Contudo, mais do que qualquer um desses casos, o coronavírus tem potencial para tornar-se num problema global. Outra bonita foto do vírus que te pode desligar o sistema respiratório. “Os especialistas questionam-se sobre os grupos de vírus que entram na categoria de NGD?”, diz Quammen. “E uma das infecções que eles apontam são os coronavírus. É por isso que estamos muito preocupados, ou pelo menos muito atentos a isto — porque o coronavírus encaixa-se bem na zona alvo que os especialistas esperam que venha a ser a nova grande doença perigosa.” As pessoas mais ansiosas tentam acalmar-se, acreditando que as novas tecnologias médicas irão, certamente, conter a propagação do surto. De facto, os avanços modernos podem realmente ajudar, bem como impedir, a propagação do vírus. Na verdade, a própria natureza do nosso mundo, cada vez mais interligado, cria condições perfeitas para que novos vírus se espalhem, qual herpes labial. “Existem sete mil milhões de humanos e estamos muito, muito interligados. Viajamos pelo mundo, enviamos produtos para todo o globo, tudo é transferido pelo mundo de maneira rápida”, explica Quammen. “Ou seja, se uma nova doença chegar até nós, também ela vai ser transferida pelo mundo muito rapidamente. Somos como uma floresta de árvores, de vegetação rasteira muito secas, só esperando por um raio que a acerte.” É claro que, com apenas um punhado de casos confirmados até agora, seria muito prematuro começar a entrar em pânico imediatamente. O que não quer dizer que a Nova Grande Doença não esteja no horizonte. E se isso realmente atacar, o impacto será dramático. “Acho que é razoável afirmar que o coronavírus pode matar milhões de pessoas”, disse-me o Quammen. “Lembras-te como a sida era algo que nem podíamos imaginar até o início dos anos 80? Só que depois ela cresceu e, até agora, já matou 33 milhões de pessoas, havendo outras tantas infectados. É possível que outra epidemia do género se espalhe entre os humanos e que mate, velozmente, 33 milhões de pessoas? Claro, por que não?”