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Música

As malhas do japonês Jemapur merecem a vossa atenção

Até faz derramar leite na cuequinha.

Depois do tempo ter conhecido Aphex Twin, Timbaland, Dilla e os Boards of Canada, o atrevimento passou a ser uma necessidade muito maior entre os novos produtores. Se ficar à sombra de um desses sagrados não é assim tão desprestigiante, copiá-los pode ser o suficiente para que qualquer projecto nunca passe de derivativo. Para que um novo produtor marque o seu lugar, necessita-se uma das seguintes ocorrências: ou a sua música revela doses indubitáveis de frescura, ou transmite a noção de um profundo conhecedor que manipula linguagens e técnicas de produção sem nunca ficar com a pata entalada numa só.

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Porém, a excitação levanta mais alto as orelhas quando regista as duas ocorrências e dá conta de um criador tão capaz de apresentar inovação como inteligência na apropriação. Todo este leite na cuequinha serve essencialmente para apresentar o prodigioso Jemapur (27 anos), que, muito discretamente, tem vindo a revelar-se um dos mais fascinantes produtores surgidos do Japão nos últimos cinco anos.

Para Jemapur (a mãe chama-lhe Toshiaki Ooi), um novo álbum não é só mais um ponto para ser comparado aos restantes, mas sim um culminar de tudo o que foi feito até aí. A estranha novidade

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é bastante diferente do mais elegante

Evacuation

(CD+DVD), tal como esse pouco partilha com o colorido Ninja Tune (a

label

) do primeiro

Dok Springs

. Junte-se a tudo isso uma série de lançamentos raros, um ou outro EP gratuito completamente fora, uma página de

Bandcamp

apetrechadíssima, e o que temos então é um acervo já bastante considerável de música intrigante.

Tal como os melhores do seu campeonato, Jemapur consegue ser imprevisível sem ser destrambelhado. Faz isso com que a sua música tão depressa possa transformar-se num hip-hop de catacumba (semelhante ao dos dälek), como num trip-hop feito do cruzamento de um

loop

de piano com um beat capaz de fazer revirar os olhos. Para melhor entender a ambivalência (e o êxtase) de Jemapur basta então perder alguns minutos com “Untitled-Xy” e “Panter Time” (que traz um cheirinho de Takagi Masakatsu a

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Evacuation

), que não podiam ser mais diferentes entre si.

A restante atenção deve apontar ao novíssimo

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(editado na

Phaseworks

), que não precisa de mais que 27 minutos para dar excelentes indicações de que o hip-hop ganha saúde com as transfusões de sangue glitch ou o maravilhoso subliminal dos

micro-samples

repetidos por The Field. Se, num passado recente, Jemapur habituou-nos a temas em que a mariquice acústica estava sob a constante ameaça de um beat doentio,

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vai mais longe na sua anarquia e não incluí uma só faixa que diga muito sobre a próxima. Vai ser necessário mais tempo até decifrarmos

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, mas já cheira a futuro em

Jemapur

.