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Música

As bandas incríveis que os anos 80 desprezaram

Cinco bandas com que os nossos pais levaram nos cornos.

Há bandas que deveriam ter sido enormes, mas que, por uma razão ou por outra, nunca o foram — o que em muito lhes aumentou a aura e misticismo. Não acredito nos top’s em números pares, por isso cá vai o Top 5 dos anos 80. Já agora, a culpa disto é toda vossa.

1 - The Monochrome Set

Quem? A banda que os Franz Ferdinand copiaram. Estes britânicos, oriundos das cinzas de uma banda que tinham com o tipo dos Adam and the Ants (e que nem sequer se chama Adam), eram liderados por um gajo com nome de deus indiano, o Ganesh Seshadri, conhecido no meio por Bid (grande nome para capanga de máfia russa). Provavelmente desconhecedores da imensa pinta que possuíam — quem não adora um Van Gogh?—, os Monochrome Set editaram quatro discos entre 1980 e 1985, nos quais conseguiram produzir um post-punk de fino traço rockabilly, uma espécie de Gun Club sem a decadência de Lee Lewis e com a certa sobriedade de uma camisola preta de gola alta e um chá às cinco da tarde. Os Monochrome Set conseguiram produzir também alguns dos títulos de música mais patetas que tive oportunidade de pôr a vista em cima. "Karma Suture?", "In Love, Cancer?", "Martians Go Home", ou este "Jet Set Junta":

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2 - The Gories

A banda que os White Stripes copiaram. Originários também de Detroit e activos entre 1986 a 1992, os Gories tinham o blues como táctica primordial e depois disparavam em várias frentes. Eram em tudo singulares e, por isso, uma excelente banda para copiar. Para começar, digam-me outra banda dos anos 80 constituída por um negro de fato (estilo executivo Motown), um Owen Wilson num barítono e uma gaja que limitava-se a tocar as quatro batidas que conhece em loop, sem bombo ou pratos, e que se chama… Peg. Para acabar, digam-me outra banda de rock’n’roll nos anos 80 tão boa como esta. Os Gories regressaram agora para digressões mundiais esporádicas com o intuito de recolher os soldos que não receberam na altura certa — em que só faziam o circuito de concertos do Michigan. A Peg continua sem saber tocar, e ainda bem.

P

reço original deste videoclip: 20 dólares. Mamem aí.

3 - Mission Of Burma

Quase no fim da sua curta carreira, os Mission of Burma tocaram em Atlanta para 20 gatos pingados. Isto deve ter sido mais ou menos já em 1983, ano em que terminaram. Na mesma noite, tocavam os R.E.M. lá no campus da universidade local para 2000 pessoas. Ainda na mesmíssima noite, a carrinha pequena e smelly dos Mission of Burma passou pela carrinha bem maior da nova sensação do college rock americano. O tour bus dos R.E.M. parou a meio de uma rua de Atlanta e de lá saiu o baixista com ar de pai de família da banda de Athens, que começou a correr atrás da carrinha dos Mission of Burma. Estes, ao verem um gajo a persegui-los, aceleraram ainda mais, com o pensamento que: “Já não basta o mísero cachet que recebemos, ainda vamos ser assaltados na principal cidade da Georgia”. A carrinha acabou por desaparecer na escuridão, assim como os Mission of Burma. Tudo o que Mike Mills queria era conhecer a sua banda favorita.

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4 - The Fall

Particularmente conhecido por ser um manipulador de pessoas e um brainwasher de músicos, Mark E. Smith é notável pela sua capacidade de multiplicar histórias que, em outras bandas, seriam, totalmente impossíveis. Desde bateristas que voltam 11 vezes à banda (Karl Burns, o homem que fazia digressões americanas munido apenas de um chapéu e de um par de baquetas), a baixistas recrutados em urinóis que já estão nos The Fall antes de acabarem de sacudir a pila, há todo um rol infindável de espiral de loucura controlada — encimada por um ditador que, tal como todos os grandes ditadores, é fabuloso no acto de levar tudo o que quer a seu porto. Não posso acabar este texto sem partilhar a deliciosa história que foi o concerto dos Fall num festival de Reading. Com um baterista que afirmava ter sido agredido por Smith sem razão aparente, quando ainda não tinham saído de Salford (Smith afirma que o despediram na área de serviço de Reading, porque já não o suportavam mais), a verdade é que os Fall chegaram mesmo ao festival sem baterista.

A bizarria podia acabar aqui e eles voltariam a casa, mas Smith queria tocar e queria os Fall em cima do palco. Mas também queria um baterista. Para tal, enviou dois dos elementos da banda em busca de uma pessoa para tocar bateria. Apesar do interesse de alguns bateras que por lá estavam, a verdade é que quem se mostrou mais entusiasmado foi mesmo o manager dos Chemical Brothers, grande fã da banda. O Mark aceitou e o incauto baterista foi enviado para palco,  de forma a que o concerto se iniciasse. Apesar de ser um estudioso da banda — e vasto conhecedor —, o gajo não sabia, no entanto, que os Fall só estavam a tocar material novo. Então, o novo baterista começou com uma batida: mas os minutos iam passando e a banda não entrava. O manager começou a ficar nervoso, porque o público começou a assobiá-lo e a atirar-lhe copos de cervejas cheios. Mais tarde, este senhor veio a referir que a banda entrou em palco no preciso momento em que a Total Mayhem ia começar, ou seja, no momento em que o coelho range os dentes para Del Toro. E assim acaba a história do homem que fez parte dos The Fall durante 45 minutos.

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5 - The Teardrop Explodes

Julian Cope. Não tenho mais nada a dizer.

Aquele estranho momento em que King Khan encontra Luís Portugal.

PS: Quase todas estas bandas fizeram reformations tours, atitude muito tradicional na primeira década do século XXI, mas que desaprovo incondicionalmente. Outras, como os The Fall, nunca chegaram a terminar porque são lideradas por um Pol Pot.