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Música

Histórias aos pares SWR: cocó e Monty Python

O Ivo dos Comme Restus e o Manuel Melo são os primeiros a contarem tudo sobre Barroselas.

Estamos no ano 2013 depois de Cristo. Toda a Lusitânia está ocupada pela malta da pop, da pimba e da latinada… Toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis metaleiros resiste ainda (e sempre!) ao invasor. É desta pequena vila do norte de Portugal, de gente que faz da cerveja a sua poção mágica, de gente que nem medo tem de que o céu lhes caia em cima. É desta pequena vila que surgem as aventuras abaixo descritas. Nas

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Histórias aos pares SWR,

convidamos duas personalidades do universo do metal por semana (até à data do festival) a partilharem as suas melhores histórias do SWR – Barroselas Metal Fest, que, este ano, realizar-se-á entre 24 e 27 de Abril, no sítio do costume.

Desenganem-se os que estão à espera de descrições detalhadas sobre concertos pesadões, ou sobre o virtuosismo daquele guitarrista ou de quem distribuiu mais porrada no mosh, porque há muito mais para contar sobre este pequeno festival do que aquilo que se possa imaginar.

IVO CONCEIÇÃO

(Chulo, defensor dos oprimidos, dinamizador cultural, vocalista de Comme Restus, guitarrista de Kalashnikov e de Noidz, baixista de Orfeu Rebelde, teclista de Felattio e colaborador dos Homens da Luta)

Nos próximos três minutos vou falar a sério, depois volto ao meu estado de retardado mental ao qual já estão habituados. O Barroselas Metal Fest é um evento dos manos Veiga, que já mereciam um Grammy (ou um Oscaralho) pela sua teimosia e generosidade. O episódio que vou relatar é muito simples: Comme Restus a fechar uma das noites do festival — acho que foi a primeira banda de merda portuguesa a fazer isso. Um dos convidados em palco era o Nocturnus (Corpus Christii), na música “PIXA TRIPLA”, aprendida no carro dele à tarde.

Levámos connosco um ser imaginário, o lendário Vezúvio Sabonetti, o qual passou o dia a comer as flores amarelas abundantes na localidade. Hoje em dia, o Vezúvio encontra-se em África em estado “larval” numa qualquer localidade (

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true story

). Enquanto estava a declamar esta cantiga, comecei a ver pedras a cair no palco, e dirigi-me ao público: “Só deste tamanho, caralho? Atirem maiores!” Não me fizeram a vontade. Posteriormente, já no conforto do meu castelo vi o vídeo: o Vezúvio, que dançava ao som das nossas cantigas com uma cartola, um cinto de penas e umas botas de cano alto, defecou para um prato e atirou o conteúdo para o público, para grande desagrado do nosso baterista da altura, que ficou enojado com o cheiro. Eu nem me apercebi.

O cocó.

Mais tarde o Dr. Fonseca Galhão urinou para um dos pratos e o mesmo acabou em cima do público. Simples. Marketing directo, viral. Amor pelas pessoas. Estávamos a meio da “Tourneira” [digressão], com a duração de um ou dois anos, (tanto faz) a correr o país inteiro, e este até foi um dos episódios mais leves desta torrente de coisas geniais, como gajos em palco a fazerem solos em bacalhaus, a comerem rins crus de coelhos, entre outros.

O mais incrível é que os manos Veiga, por quem tenho a mais enorme das estimas, continuam ano após ano a convidar Comme Restus para tocar no festival. Nobres! Afinal de contas, quem nos pode censurar? Nós só fizemos de uma forma muito directa o que as bandas andam a fazer há dez anos em forma de música: atirar merda à cabeça das pessoas.

MANUEL MELO

(Locutor do programa “Sinfonias de Aço” da Rádio Barcelos)

Em 2004, os computadores portáteis ainda eram carotes, sobretudo aqueles com boas capacidades multimédia. Por isso, para Barroselas, tive de levar o meu próprio computador fixo e montar tudo ao lado da mesa, para registarmos o áudio de todo o evento. Isto pode soar quase absurdo, mas a verdade é que não se perdeu uma nota. Ora, nessa altura a programação não era contínua e havia um intervalo para o jantar. No sábado, durante a pausa, eu saí, e para não desligar o computador e desconfigurar todo o software, deixei um filme a rodar. Era o

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Holy Grail

dos Monty Python. A maioria do público saiu e dispersou-se. Alguns ficaram a rodear o recinto, aproveitando para meter alguma coisa à boca.

Quando voltei, uns 40 minutos mais tarde, entrei na tenda e dirigi-me para a mesa, até ouvir umas gargalhadas. Quando olhei com mais atenção, tinha uma pequena multidão a assistir ao filme e uma menina que, conforme cada pessoa chegava, ia avisando o que é que se estava a passar. Pelos vistos, pouca gente conhecia o filme, mas estavam a gostar, especialmente quando os planos abriam e, afinal, os nobres cavaleiros, iam apenas aos saltos num andar cadenciado para simular, em plano mais fechado, o trote dos cavalos. Com tanta gente às gargalhadas, acho que aquilo foi um belíssimo

warm-up

para uma grande noite de metal. Nunca mais me esqueço deste episódio, que é insólito num festival do género e revelou o bom sentido de humor do público mais metaleiro.