FYI.

This story is over 5 years old.

Como aprendi a amar minha barriga do jeito que ela é

Aceitação do corpo não significada nada se é só para certo tipo de plus-size. E se quero mudar isso, preciso expor a única coisa de que sempre tive medo de mostrar.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Corpos femininos gordos estão sendo exaltados pela mídia mainstream e a indústria da moda mais do que nunca. Ano passado, a Sports Illustrated colocou a modelo plus-size Ashley Graham na capa, uma ação editorial que foi muito celebrada. Recentemente, a revista colocou outra modelo curvilínea na capa, Hunter McGrady. A Dove, por exemplo, há tempos é uma presença no movimento para mostrar corpos "reais" em suas campanhas publicitárias; marcas como Lane Bryant e Aerie seguiram o exemplo.

Publicidade

É impossível para mim olhar o Instagram hoje em dia sem me sentir bombardeada por contas que sexualizam curvas, pneus, gordura — seja lá como você queria chamar isso — das mulheres. Nos comentários dessas contas de beleza alternativas há um desfile de emojis com olhos de coração e gotas de água que simbolizam ejaculação. Bizarramente, era pra isso que a gente vinha lutando, né? Ainda assim, algo parece errado nisso tudo. Essa onda de positividade com os corpos me faz sentir de fora, porque tem alguma coisa faltando na maioria dessas modelos: barriga.

Leia também: "Como aceitar o fato de que você se sente Atraído por gordas"

Os corpos exibidos por propagandas "conscientes" e campanhas de positividade tendem a mostrar mulheres com coxas maiores, figuras mais cheias, bundas grandes e quadris mais largos. E tudo bem. Mas até que a gente deixe as barrigas entrarem na brincadeira, temos um longo caminho pela frente quando se trata de quebrar padrões de beleza problemáticos.

Claro, há modelos plus-size com barriga, como Tess Holiday (proclamada a "primeira supermodel tamanho 56 do mundo" numa capa de 2015 da People, e ela só tem visto mais sucesso merecido desde então). Mas essas modelos existem num número muito menor que modelos com abdome visível. O que me faz sentir, como sempre, que não me comparo a elas, mas agora é pior, porque querem que eu sinta que finalmente posso.

Me refiro a meu tipo de corpo como "grávida de seis meses eterna". Quando eu ainda dava a mínima para isso, toda tática para emagrecer se provou inútil para me livrar da pança. Minha família tentou desesperadamente me ajudar — no meu aniversário de 18 anos, minha mãe me deu uma inscrição na academia Curves, achando que isso era algo que eu realmente queria. O que é irônico, claro, considerando que meu tipo de corpo é altamente determinado pela genética, como geralmente acontece.

Publicidade

A maioria das mulheres da minha família são membros do clube da pancinha. Mas isso nunca me impediu de me culpar pela minha barriga — admito que quando comecei a abraçar essa história de positividade corporal e minhas próprias curvas, a única coisa que eu realmente queria era me livrar da minha barriga. Era o albatroz agarrado na minha cintura. Eu comia só quinoa e repolho e ficava imaginando por que ela não me deixava em paz.

Minha barriga era algo que eu tentava esconder em fotos. Eu planejava a roupa que ia usar com isso em mente. Eu achava que esse era um comportamento OK desde que eu tivesse orgulho do resto do meu corpo — todo mundo tem alguma coisa em si que gostaria de mudar, não importa quão confiante a pessoa se sinta com o resto, certo? Mas depois de uma reflexão aprofundada, entendi exatamente por que eu odiava minha barriga (literalmente): era a única coisa que me impedia de parecer com aqueles inescapáveis corpos plus-size estampados em todo lugar desde o começo da década. Eu devia amar meu corpo, mas ainda não era o tipo "certo" de gorda.

"Eu devia amar meu corpo, mas ainda não era o tipo "certo" de gorda."

Sarah Murnen, psicóloga social e professora de estudos de gênero da Kenyon College em Ohio, que estuda a sexualização da mulher nos últimos 25 anos, disse que acredita que o movimento de "positividade corporal" não deu lugar realmente à ascensão dos corpos gordos. Em vez disso, o movimento colocou os holofotes sobre o que ela chama de "ideal curvilíneo", um corpo maior, mas só nos lugares certos. "O ideal curvilíneo ainda é sobre ser sexy", ela explicou.

Publicidade

A questão é que esses corpos curvilíneos geralmente são vendidos como um passo progressista para as mulheres, enquanto ainda consegue excluir corpos como o meu (e vários outros também). Isso não significa que devemos parar de promover esses corpos — até a última década, o ideal magra-palito era tudo que víamos na TV e nas revistas.

Mas seria legal ver ainda mais inclusão, e essa inclusão tem que vir de nós, mulheres que não se encaixam nesse molde plus-size ideal. E o ideal não pode vir de empresas com um produto para vender ou publicações tentando parecer descoladas. E enquanto algumas pessoas argumentam que sexualizar a barriga (ou qualquer outro aspecto "não desejável" do corpo feminino que não estamos promovendo hoje) é tão problemático quanto, o fato continua sendo que precisamos analisar melhor como diferenciamos objetificação sexual e empoderamento.

Não podemos ter vergonha de querer nos sentir desejadas, e não é errado querer atenção sexual — eu desejo isso praticamente o tempo todo. No passado, tentei conseguir isso forçando meu corpo num ideal plus-size. Eu escondia minha barriga (e minhas estrias, celulite e pêlos) porque continuava a ter medo de como os homens os veriam isso. Não era empoderador, porque eu ainda estava dando poder para o que eu sentia que os outros queriam ver do meu corpo. Se a coisa realmente dependesse de mim, minha barriga seria a estrela do show.

Publicidade

"Me sinto gostosa. E me sinto gostosa nos meus próprios termos."

Agora eu me apresento com uma pança livre. Minha barriga não está mais cativa. Tenho exposto meu corpo, com barriga e tudo.

Me sinto gostosa. E me sinto gostosa nos meus próprios termos. Foda-se se as pessoas não gostam do que veem. Se você não gosta, então não estou tentando te comer, então sua opinião é irrelevante.

Claro, as pessoas vão ser escrotas. Se aprendi alguma coisa sendo uma mulher com opinião na internet, é que as pessoas vão dar duro para cagar na sua cabeça. Mas se apoiarmos umas às outras em nossas tentativas de mudar as coisas — se estimulamos umas às outras mostrando nossos corpos "não-convencionais" — a negatividade vai se afogar até que nossos corpos sejam convencionais.

Siga a Alison Stevenson no Twitter .

Foto por Megan Koester.

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.