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O racismo na comunidade brasileira de 'LoL' é um problema sistêmico

Mais uma vez, um comentário de um jogador de elite mostra o racismo espalhado pela comunidade de 'League of Legends'.

Imagem acima: Riot Games Brasil

Atualização:Riot anunciou na noite de quinta (27) que o jogador será banido por três jogos e receberá multa. De acordo com a empresa, "a partir do quarto jogo da equipe na competição, o jogador poderá voltar a atuar pelo time".

Quem acompanha as redes sociais do jogador profissional de League of Legends, Felipe "Yoda" Noronha, sabe que o mid da Red Canids é conhecido por berrar, xingar e espernear a vontade na internet. As streams do jogador são extremamente populares principalmente entre os mais novos da comunidade de LoL, que veem em Yoda um símbolo de 100% zueira sem noção, mas até a molecagem de um dos maiores astros dos eSports brasileiros tem limite.

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Em uma publicação (já apagada, mas registrada em print) no seu Twitter, Yoda usou termos racistas em referência aos jogadores asiáticos que estão no Brasil para participar do Mid Summer Invitational, um campeonato mundial de meia-temporada que, neste ano, é sediado no Brasil e estreia nessa sexta (28).

Os termos racistas que o Yoda disse não são novidade pros milhões de asiáticos e descendentes no país. Piadas com etnias asiáticas são mais naturalizadas pela sociedade que piadas com afro-descendentes, muitas vezes pela falta de reconhecimento desse tipo de agressão.

Leia mais: O mito da minoria modelo

A comunidade de League of Legends do Reddit rapidamente começou a discutir a situação do jogador, e a maioria conseguiu fazer a equação básica pra esse tipo de situação: esse é um caso de racismo grave, mas que não parece ser levado a sério pelo resto da comunidade de LoL no país.

Essa não foi o mesmo raciocínio dos fãs do jogador, além de outros jogadores profissionais de outros times brasileiros, e muito menos do próprio Yoda, que fez o papel clássico do vacilão que faz comentário racista, é chamado a atenção, e mesmo se desculpando, tenta deixar claro que nunca é racista. Pra piorar, logo na sequência ele faz referência ao usuário que o acusou de racismo no Reddit (o tal Cleytinho), na tentativa de expor o seu acusador aos seus centenas de milhares de fãs.

Quanto mais você entra na comunidade de LoL, mais percebe que essas cenas lamentáveis, apesar do racismo e preconceito óbvio, têm mais a ver com uma questão de maturidade mesmo. Os jogadores profissionais, idolatrados por milhões de fãs no Brasil, são crianças e adolescentes em processo de amadurecimento público, com um poder indescritível nas mãos: a atenção de inúmeras mentes em formação.

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O que choca é a total incapacidade de muitos jogadores de compreender as consequências de atos sérios. Racismo é crime. Não é brincadeira, não é zueira, não é só desrespeito. E no caso da comunidade de League of Legends, pelo menos no Brasil, é um problema sistêmico.

A primeira a admitir isso é a própria Riot Games, dona do League of Legends, que há anos tenta (com pouco sucesso) mudar a imagem da comunidade tóxica em volta do seu jogo. Quem joga LoL sabe que comentários racistas, machistas e homofóbicos são comuns em qualquer partida. Diariamente se vê comentários sobre os personagens Ekko e Lucian, que por serem afro-descendentes, roubam coisas dentro do jogo.

O caso do Yoda não é isolado na comunidade de LoL, ou muito menos no resto da sociedade brasileira. Aliás, foi um clichê ofensivo tão óbvio que não falta muito pra um profeta do politicamente incorreto, naipe Danilo Gentili, aparecer defendendo o Yoda na internet. Enquanto isso, outros membros de destaque da comunidade local seguem o mesmo bonde do vacilo, berrando sobre mimimi da mídia, censura de quem se sentiu ofendido e que as pessoas que estão acusando Yoda pelo seu racismo elementar têm inveja do jogador.

Não é a primeira vez que a Riot teve que lidar com uma situação dessa. O mesmo post no Reddit relembra de casos parecidos, como o do jogador Dennis "Svenskeren" Johnsen, da SK Gaming, que em 2014 adotou um username racista, e os comentaristas Diego "Vendetta" Ramirez e Bastian Guzman usaram o mesmo termo racista durante a transmissão do All-Stars em 2016, uma competição com os jogadores de destaque da liga mundial (curiosamente, esses dois casos também foram preconceituoso contra asiáticos). Os comentaristas foram removidos do campeonato e o jogador da SK foi banido de três jogos, além de receber multa. Uma punição similar deve ser prescrita pro Yoda.

Além da compreensão do que é racista, o que mais falta aos jogadores profissionais – e, por extensão, o resto da comunidade de LoL – é entender que impunidade não existe no mundo adulto, mesmo na pura zueira, mesmo sem maldade. A Riot pode reclamar da própria comunidade o quanto quiser, mas as punições distribuídas pros jogadores e comentários são muito brandas perto do tipo de infração cometida. Enquanto a Riot bane essas pessoas de um punhado de jogos, no mundo real esses comentários podem dar cadeia.

Se a empresa dona do jogo, e os ídolos não entendem as consequências de suas cagadas, não há como o resto da comunidade entender também.

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