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Fotos

Vida de Cão de Rua

Andei por dois dias pela Sé, Avenidas Santo Amaro e Paulista para conversar com moradores de rua sobre seus melhores amigos.
Fotos por Felipe Larozza.

Se tem um lance que nos interessa na Redação Ostentação é cachorro. Além de constantemente relaxarmos observando uma piscina de caninos (não vamos contar onde é, desculpe), recentemente colamos num pugnick. Também admiramos e comentamos bastante sobre os cachorros de rua, principalmente como eles estão sempre gordões e bem de boa.

Andei, então, por dois dias pela Sé, Avenidas Santo Amaro e Paulista para conversar com moradores de rua sobre seus melhores amigos.

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Logo entendi o motivo das gordurinhas e do sossego: os cachorros de rua de São Paulo recebem mais assistência que os seus donos, dificilmente passam fome e sempre têm um canto para dormir.

Xuxa.

Na Avenida Hélio Pelegrino fui recebido por uma cachorrinha amarela que me olhou desconfiada. Ela guardava uma casa improvisada com lonas de plásticos, colchão no chão e muitos cobertores para a criança pequena que dormia profundo. Xuxa chegou assim, do nada, recebeu comida, carinho e dali não saiu mais. Moça de personalidade forte, se ela não vai com a cara do sujeito, morde e/ou corre atrás.

O Bob não tá de bob.

Peguei um ônibus para a Sé e encontrei o Bob Gomes da Silva, uma mistura de labrador com sei lá o quê. Bob é famoso no centro. Todo mundo que passa e me vê fotografando fala algo do tipo "Até que enfim ficou famoso, hein, Bob?" ou para e faz um carinho. Há quatro anos o cão estava machucado, até que recebeu cuidados de um cadeirante e morador de rua. Desde então, vive na famosa praça central.

Me contaram que há alguns dias o Bob estava deitado na praça e foi atropelado por uma viatura da PM. Não foi culpa dele, nem do PM, sabe? A agitação da Sé esconde certos barulhos e complica a visão.

Lassie.

Um pouco antes da minha chegada na praça, Lassie havia mordido um dos moradores da área. Começou uma briga, ela ficou nervosa e atacou. O cara se machucou feio e não estava mais por lá.

Fui percebendo ao longo do dia que falar sobre cachorros com moradores de rua era uma experiência e tanto. Fui bem recebido e bati papos honestos. Todos os donos sentem orgulho da suas crias e, de certa forma, na rua o cachorro vira um aliado. O segurança, o parceiro ou simplesmente uma via mais simples de conseguir agilizar a vida.

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Na Paulista, topei com três dogs que viviam juntos com uma rapaziada da região: Elis Regina, Madonna e Sheera. Ração doada é a base da alimentação de todos.

Elis Regina.

Elis pintou na vida deles lá pros lados do metrô Conceição. Ela veio um dia, no outro a dona veio buscar - o papo se repetiu por três vezes. Na quarta, a antiga dona perdeu a guarda da Elis por maus tratos. Desde então ela vem sendo bem cuidada.

Madonna.

Madonna é a veterana do rolê. Quatro anos por ali. Simpática e de vida simples, não se envolveu em nenhuma história maluca.

Sheera.

A Sheera, não. Outro dia um cara vinha passando com uma marmita de frango à passarinho, ela se enfezou e decidiu correr atrás do medroso - que logo largou a marmita no chão. Naquele dia, todo mundo comeu frango.

Hoje: sardinha e a vida segue.