Para consolar corações aflitos: histórias de encontros horríveis

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Para consolar corações aflitos: histórias de encontros horríveis

Peido, catarro, meia suja, pizza da promoção. Você nunca sabe o que te espera num primeiro encontro.
JL
ilustração por Juliana Lucato

Quando junho toma seu posto no calendário anual brasileiro, sempre rola aquele estranho e confuso pensamento de "o Dia dos Namorados, 12 de junho, está chegando". O friozinho de bosta que acomete algumas regiões do país durante o outono piora ainda mais o fator estar sozinho. Quem estiver sem o famoso "cobertor de orelha" durante os próximos dias, a VICE dá uma ajudinha: compilamos histórias de encontros amorosos, carnais e sexuais que foram uma merda. Um lixo. Portanto, não se entristeça. Relembre sempre que o que está ruim pode, sim, piorar.

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Leia aqui nosso acervo de dates desastrosos, que configuram a verdadeira antítese do amor romântico. Aliás: o nome de todo mundo foi trocado porque, obviamente, ninguém quis passar vergonha ou comprometer o crush zoado.

Todas as ilustrações são da Juliana Lucato/ VICE.

SE NÃO FOSSE O CATARRO

"Aos 16 anos, resolvi conhecer pessoalmente o grande amor da minha vida, já que há meses nos falávamos pela internet. Combinei de levar uma amiga e ele um amigo. Chegando de busão ao shopping onde nos veríamos pela primeira vez, notei que alguma mina resolveu escrever um recado de amor com batom na porta. E, para meu desespero, notei que minha calça jeans clara estava toda manchada de batom. Uma gélida gota de suor se prontificou a escorrer pela minha testa enorme de adolescente feia e tosca. Sem pestanejar, minha amiga esfregou a calça dela no batom. Chegamos juntas e ambas com os joelhos sujos cor-de-rosa. Fizemos piadinha e o trauma de chegar cagada no date passou um pouco. Lá estava o João, meu grande amor, minha paixão. Só que ele era feio. Muito feio. Em 2002, mandar foto pela internet não era tão simples (sim, quem não tinha webcam escaneava fotos analógicas e era o maior trampo). Me decepcionei ao vê-lo, mas era o meu João, ao vivo e a cores. Eu iria amá-lo para o resto da minha vida. Fomos para a parte de trás do shopping. O frio apertou e, enquanto ainda batíamos papo, notei que uma meleca de nariz começava a escorrer de sua narina direita. Fiquei constrangida, não sabia o que fazer. Continuamos conversando. Já não o achava bonito e ele ainda estava com uma baita catota escorrendo. Permanecemos por ali mais de uma hora e nada aconteceu. O catarro dele escorria vagarosamente. Eu olhava prum lado, pro outro, me espreguiçava… Fingia não olhar pra ele na esperança de que o sujeito aproveitasse o momento para limpar o catarro com a manga da blusa, mas ele provavelmente nem sabia que aquele trem estava escorrendo. Eu me perguntava como aquela coisa podia ficar pendurada por tanto tempo, sem voltar pra narina tampouco escorrer. Que catarro do cabrunco.

Fui embora triste. Decepcionada. Não nos beijamos. Cheguei em casa e fiz a única coisa que uma verdadeira criatura apaixonada poderia fazer depois de um encontro frustrado: chorei."

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Julieta Ranheta, guitarrista de banda de rock triste

SAINDO COM UM TIOZÃO RICO (NÃO MUITO)

"Sempre fui cupim e gostei de pau velho. Aí peguei um cara mais sênior, que chegava a deixar calcinha em chamas. Ele super num papo que era rich, tava na cidade a passeio e os caralhos. Eu, embora mais velho, ainda trouxa, caí no papo e fui ter uma noite de amancebação (meu corpo, minhas regras). Só que, brother, tudo bem a gente ir de metrô, eu sou super legalize e pró-transporte público, mas a gente foi pra Zona Sul de São Paulo e começou a descer pra uma quebrada muito louca. Quando chegamos no pico, era tipo aquelas pensões para rapazes que a gente vê no centrão, toda podrona. Aí ele deu um migué, disse que não conseguiu hotel a tempo e os caralhos, mas como eu queria dar ralão, falei 'foda-se' e a gente foi pro quartinho dele. O cara tava bêbado. Chegou no quartinho sofrido, abriu a janela e começou a mijar pra fora, que dava pra tipo um quintalzinho da dona da pensão. Terminou de mijar, deitou na cama com o pau mijado pra fora e dormiu. Apenas isso, dormiu. Eu, chokito, fiquei vendo aquilo por tanto tempo e com tanta incredulidade que também dormi. Umas sete da manhã começaram a bater na porta falando que precisava desocupar o quarto porque o cara só tinha pago um dia. Eu não lembro nem de dar tchau. Peguei minhas tupperware e vazei. Subindo pro metrô, veio um Chevette bem sofrido na rua com uns quatro muleke zica dentro. Eles pararam do meu lado e perguntaram onde ficava tal rua. Um cara saiu do carro e me deu um apavoro pra eu entrar senão iria morrer. Entrei chorando baldes. Os caras falavam que queriam todo o meu dinheiro senão eu ia acordar com a boca cheia de formiga. Aí eu falava que não tinha grana, mas eles queriam aloprar mais e começaram a dar volta no carro pra me apavorar. Eu fiquei uma meia hora dentro do carro chorando sangue, pedindo pra não morrer, enquanto eles me alopravam. Falei que não tinha como dar nada de dinheiro mesmo, porque vim de Osasco e onde eu morava nem tinha busão; eu andava uns cinco quilômetros da estação de trem até minha casa. Os meninos ficaram meio sensibilizados e me enxotaram num terminal de ônibus. Voltei para Osasco. Estou vivo."

Jacinto Pinto, produtor de vídeo

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FOFURA MORTÍFERA

"Uma vez, saí com um menino japonês. Fomos jantar hambúrguer na Rua Augusta, em São Paulo. O lugar estava cheio, muito lotado. Estávamos comendo e, do nada, ele encosta a bochecha dele na minha, me abraça e começa a falar com uma vozinha: 'Ai, como você é fooooofooooo. Você é muito fofo!!!!!!!!!'. E eu tipo: 'ai meu Deus, o que está acontecendo agora? O que está acontecendo aqui?'. Cinco minutos depois, não contente, ele fez a mesma coisa de novo. Eu morri."

Ronald McQueen, designer

EU, VOCÊ E MINHA MÃE

"Minha mãe fazia mestrado junto com um cara que era um pouco mais velho do que eu. Morávamos perto dele, então, dávamos carona pro rapaz. Um dia, no carro, eu e ele conversávamos sobre assistir a uma peça de teatro e ele me chamou pra ir. Minha mãe, dirigindo, se auto convidou. No final, saiu eu, ele e a minha mãe (!). Vimos a peça e, já chegando na casa dele, eu soltei um: 'Nossa… Tô com fome… Vamos jantar?'. Ele topou e minha mãe simplesmente foi junto. No final, ela olhou pra minha cara e falou: 'Nossa, eu acho que me meti na saída de vocês, né?'."

Jocasta, historiadora

MEIA SUJA, REVISTA VICE E PIZZA DA PROMOÇÃO

"Depois do segundo pé na bunda, eu estava lamuriando que não tinha boy nenhum por aí pra mim. Aí um amigo me mostrou milhares de amigos dele, até que chegamos a um que já tinha me curtido pelas fuçadas nas redes sociais. Foi um parto pra conseguir sair com o boy, que era mega enrolado, mas nos falávamos direto no WhatsApp. Até que finalmente marcamos o primeiro date. Nos encontraríamos num bar perto do meu trabalho. Estava tudo lindo até que ele me mandou mensagem dizendo que estava meio enrolado com frilas, que era rodízio do carro e que ele ia trabalhar a noite. Ele perguntou se eu não podia ir até ele. Lá fui eu. Peguei o metrô na hora do rush em pleno horário de verão – tentando não chegar zuada. Quando pergunto o endereço, ele diz que é num bar da faculdade (!). Primeiro date, no bar da faculdade, com hora pra acabar, interrompido pelos amigos diversas vezes. Nem beijar a gente beijou, mas voltei pra casa feliz e apaixonada. A dificuldade pra sair com os horários do garoto continuava, até que ele me surpreendeu e me convidou para jantar a casa dele, já que os pais iam viajar no fim de semana, e ele poderia cozinhar pra mim. Disse que costumavam elogiar o rango dele e que ia comprar plantas pra deixar a casa com boas energias e tudo. Quando chegou o dia do date, ele simplesmente sumiu. Sumiu. Não respondeu minhas mensagens por WhatsApp, nem inbox do Facebook. Sumiu pelos próximos três dias. No quarto dia ele me escreve pedindo mil desculpas e dizendo que precisava me explicar com calma tudo o que aconteceu ao vivo. Idiota que sou, aceitei sair com ele mais uma vez. Marcamos o dia e foi tudo meio enrolado. Trouxa que sou, ainda levei pra ele de presente a minha edição especial da VICE sobre a Síria. Ele ama a VICE e acha a revista demais.

Tinha certeza que íamos a algum bar beber, conversar e nos beijar. Mas ele falou que, antes, precisava passar na casa de um amigo pra pegar equipamento. Ele disse que seria rápido e pediu pra que eu esperasse no carro. Passados 10 minutos, ele volta e fala que os caras iam fumar um beck e perguntou se eu não queria subir. Subimos. Ficou eu e um cara na sala por um tempo, visto que o boy ficou no quarto do amigo procurando não sei o quê. Sorte que o amigo era educado e me serviu castanhas e um copo de cerveja. Meu boy volta pra sala, senta ao meu lado, mas mal encosta em mim. Até que ele fala 'vamos embora' e eu ainda com esperanças. Em vez de me levar a um bar ou qualquer outro lugar agradável para um date, ele diz que pensou em passar numa república ali do lado, na qual já havia morado. Fomos. Já dava pra sentir o mau cheiro quando saímos do elevador. Estávamos literalmente numa república só de meninos – é, meninos, homens nunca. Universitários que tinham miado o estágio e a aula pra ficar o dia todo em casa no sofá fumando maconha, laricando e vendo Netflix projetado na parede. Sentei num espaço de sofá, mas foi um erro. Tinha uma meia suja enfiada pra dentro do estofado bem do meu lado. O boy sentou do outro lado da sala, tipo, bem longe, e passou praticamente o date todo lá. Até aí, não tínhamos nos beijado. Nunca. E ele nunca tinha falado nada sobre o sumiço.

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Foi horrível. Ele mal conversava comigo. Os meninos fumaram mais um beck e nessa hora eu já estava puta da vida e nem fumar queria. Pediram uma pizza de pepperoni numa mega promo, tipo, por R$ 18, laricaram sorvete napolitano no pote – que foi jogado na roda, com todo mundo usando a mesma colher – e mais uma carne que devia estar na geladeira há semanas, de acordo com o cheiro que saiu dela quando esquentaram no microondas. Ah, também teve a Coca-Cola de dois litros, devidamente compartilhada no gargalo. Claro que me ofereceram tudo e eu estava morrendo de fome, mas preferi dizer que já tinha comido antes e agradeci.

Eu não aguentava mais ficar lá no canto do sofá com a meia suja do meu lado sem nada pra fazer e sem ninguém falar comigo. O boy decidiu sentar do meu lado e a maior interação física que fez comigo foi colocar a mão na minha perna. Finalmente, quando ele sugeriu que fossemos embora, entramos no carro e o quê? Acabou a bateria. Eram duas da manhã e ele teve de chamar o seguro. Falei que ia esperar dentro do apartamento. Consegui escolher um lugar sem meias sujas e dormi."

Patrícia Mussarela, publicitária

MICKEY TENTANDO ME BEIJAR E EU FAZENDO A MATRIX

"Fazia três meses que eu estava em São Paulo, sem nenhum amigo, sem emprego, sem boys, bastante sozinho e cabisbaixo. Daí eu decidi baixar o famigerado app Grindr pra ver se eu achava um afago pra minha solitude. Sempre achei uó esses apps de paquera, mas decidi tentar pois a carência tava batendo forte. Daí que eu vi um garoto usando orelhas de Mickey na foto do perfil e pensei que esse seria o par ideal para mim. Comecei a puxar papo e fluiu. Daí ele perguntou se eu queria ir até o apê dele. Regra número 1: nunca faça um primeiro date na casa da pessoa que você sequer conhece. Claro que eu não cumpri essa regra e fui bem inocente até a casa do garoto. Era bem pertinho da minha, achei sussa. Cheguei lá e logo de cara já bateu a bad porque o menino não parecia quase nada com a foto do perfil dele. Tipo, na foto do perfil ele era uma versão 150% melhorada. Segundo, o apê dele exalava maconha 4e20. Que fique bem claro, hoje em dia eu não tenho nada contra maconha e tal, mas há três anos eu era super cabaça e ficava abismada só de sentir o cheiro. Então bateu uma bad ao quadrado aí. Fiquei 10 minutos no apê dele e nesse meio tempo ele me ofereceu um pedaço de lasanha e fez um mini-tour pelos cômodos (e eu não parava de pensar que ele ia me trancar em algum quarto e seria meu fim).

Após perceber a bosta que eu tinha feito, sugeri de irmos passear pela rua. Fomos andando e uma das primeiras coisas que ele me falou foi: 'Então, eu sou do narcóticos anônimos. Era viciado em cocaína e heroína, mas faz um mês que eu tô limpo'. O que eu duvidei muito porque ele tava com uma cara que tinha dado uns tiros. Pra piorar, ele só falava dele. Uma egotrip sem fim. E eu congelado, pensando qual desculpa inventaria pra fugir dele. Chegamos à pracinha que fica perto de uma livraria e ele logo começou a dar investidas, tentando me beijar e me abraçando – e eu fazendo a Matrix, me esquivando dos beijos. Desesperado, falei pra gente entrar na livraria. Teve uma hora que ele foi ao banheiro e eu saí desesperado tentando fugir, mas o infeliz saiu do banheiro e conseguiu me encontrar. E aí que eu apelei pro truque do 'Ai, meu celular tá tocando. Peraí que vou atender'. Fingi que minha roommate tinha me ligado e precisava que eu voltasse pra casa na esperança de ficar tranquilão. Só que não. Ele decidiu que iria me acompanhar até em casa. Eu fiquei toda cagada, mas não tinha como despistá-lo. No meio do caminho ele falou que sabia um atalho e eu, como era novo na região, acreditei. Só que aí o maluquinho tava me levando pra um beco sem saída e eu, quando percebi, falei que não iria por aquele caminho, que era um beco sem saída. Daí ele falou que nunca faria isso comigo, que era um atalho e foi me puxando pela mão. Até que eu gritei que não iria por ali e virei as costas e fui andando. Ele começou a me chamar e vir atrás de mim e eu apenas corri, fugi, canela na nuca. Cheguei em casa e deletei ele do app, assim como deletei o Grindr. Dá pra mim não."

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Kenu Rives, designer

PEIDATE

"Sabe quando você tá naquele clima sem ser oficialmente um date? A gatinha ia me deixar em casa no fim da noite. Mão na coxa, ambos, papo mole e aquele sentimento de que 'hoje vai'. Estávamos quase chegando em casa, morávamos perto um do outro e podia ser tanto na minha casa quanto na dela. Ia rolar, tinha que rolar. Álcool na cabeça, maldade no olhar e de repente um cheiro de carniça invadiu o carro, que com o frio estava com as janelas fechadas. Mano, ela peidou e foi pra valer, de arder os olhos, de chorar. Pensei em me jogar com o carro em movimento, mas nem dar aquela abridinha no vidro eu consegui. Fiquei ali, imóvel, inerte e brochado. Ela parou o carro na porta da minha casa, desci e mal me despedi correndo para respirar ar puro. Talvez ela tenha usado isso como técnica para me dispensar. Confesso que um 'não quero' já seria suficiente, não era necessário tudo aquilo. O mais próximo que eu cheguei de sentir o cheiro dela naquela noite não foi nada legal."

Décio Pinto, bioquímico especializado em gases

ENCONTRO NO MC DONALDS

"Eu estava morando na casa de um amigo, em frente ao Mc Donalds. Era uma manhã de sábado e eu estava conversando com esse menino no Grindr. Estávamos falando de boa. Ele mandou: 'Tá a fim de sair, tomar um café?'. Eu disse que não, que, no máximo, tomaria um sorvete no Mc. Ele tinha me mandado várias fotos. Alto, lindo, loiro, olho azul, advogado. Me mandou até foto de terno. Aí fiquei esperando por ele na porta do McDondals. Quando eu vejo de longe, um homem lindo. Jesus, alguém me segura. Alto, forte, lindo. Pronto. É hoje. Ele chegou e eu pensando: eita, que homem lindo. Quando chegamos perto, ele abriu um sorriso e eu quase caí no chão. Ele tinha umas coisas verdes entre os dentes. Sei lá. Parecia lodo. Eu não estava acreditando. Fiquei sem reação. Entramos e comprei um sorvete com cobertura extra pra me entupir. Conversamos bastante. Ele era super legal, mas os dentes dele estavam muito nojentos. Sentado, eu vi que a gola da camisa dele tava meio amarela, esgarçada. Estava achando que ele devia ser meio nojento. No meio da conversa, do nada, ele falou: 'Nossa, tô com uma vontade de dar um beijo em você'. Eu fiz uma cara de nada. Ele perguntou se eu não estava com vontade. Eu fiz uma cara de 'hmm, médio'. Acho que ele ficou meio puto e foi ao banheiro. Não fiz a louca e saí. Quando ele voltou, sugeriu que fôssemos embora. Aí tchau, tchau, beijo. Quando eu atravessei a rua e abri o WhatsApp, ele já tinha me bloqueado."

Ronald McQueen, designer (sim, o Ronald teve dois encontros bem bosta)

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PRIMEIROS SOCORROS

"Era meu segundo date com um carinha do Tinder. Fomos até um bar tomar uma cerveja no fim do dia e trocar uma ideia. Ele estava contando alguma história engraçada da família dele e parou no meio da conversa pra dizer que 'um cara caiu'. Quando olhei para trás, um cara realmente estava caído no meio da faixa de pedestres e o dog que estava com ele, um labrador, saiu correndo. Na hora, meu date segurou a guia do cachorro e um monte de gente saiu do bar pra ver o que estava rolando. O cara caído no chão estava meio desacordado e meio consciente quando um rapaz bombadinho chegou correndo dizendo que era médico e começou a fazer uma ressucitação cardiopulmonar nele.

Nisso, as pessoas começaram a fuçar a carteira e uma bolsinha que ele carregava pra ver se achavam algum número pra quem ligar. Já tinham chamado o SAMU, mas ninguém sabia o nome do mano. Quando abriram a bolsinha, tinha um cachimbo e uma pedra de crack dentro. Todo mundo ficou bolado. O cara acordou muito nervoso falando que queria ir pra casa e queria que chamassem a mãe dele. Meu date, um rapaz de muito bom coração, se ofereceu para levá-lo em casa, que era bem perto de onde estávamos. Eu acabei indo junto porque a curiosidade falou mais alto. Fomos com o cara até a casa dele junto com o médico do bar. Chegando lá, era um apezinho simples, e a mãe dele estava muito assustada. Nós explicamos o que aconteceu e ela ficou muito chateada de saber que o filho tinha voltado para as drogas. 'Já cansei de inscrever ele em programa da prefeitura pra cracudo. Ele tem problemas de saúde, não pode ficar usando drogas', dizia amargurada enquanto o filho se jogava no sofá meio envergonhado.

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Saímos de lá no maior silêncio. Caminhamos até o metrô sem saber muito o que falar. O date também foi por água abaixo. Nos despedimos na estação e saímos mais umas duas vezes, mas sem grandes emoções como daquela vez."

Maria do Socorro, resenhista de séries médicas (sua favorita é Grey's Anatomy)

SAINDO COM UM "VEGANAZI"

"Eu tinha acabado de terminar meu primeiro namoro, que durou três anos, então não estava muito acostumada a ser solteira. Um dia, entrando no metrô, um cara me parou e, com um super sotaque, disse que me achou 'graciosa'. Achei mega estranho e falei que estava com pressa, mas perguntei de onde ele era. Ele disse que era francês e estava ficando uns dias na cidade para uma competição. Pediu meu telefone e eu passei. Conversamos um pouco para marcar um encontro e fui logo sugerindo um almoço perto de onde eu trabalhava pra me prevenir. Ele falou pra irmos a um restaurante vegetariano. Chegando lá, ele disse que na verdade não ia comer. Ia só tomar um suco porque estava acima do peso pra tal competição de luta. E ainda passou o almoço inteiro fazendo um teste bizarro comigo que definiria se eu era 'carnívora ou herbívora' para me convencer a virar vegetariana. Na hora da despedida, já na rua, ele me perguntou se eu não ia dar um beijo nele. Falei que não e tchau."

Ana Agrião, jornalista

LÁGRIMAS E SALSICHAS

"Conheci um menino num aplicativo e começamos a sair. Ele era fotógrafo também e me convidou pra ajudá-lo a fazer a luz de umas fotos. Eu disse que super topava, embora fosse longe pra caralho. Aí fizemos as fotos. Terminamos e fomos comer. Nesse dia, estava rolando uma festa de aniversário pra ninguém na minha casa. Fizemos hot dog, brigadeiro. Eu e ele estávamos fumando um beck e convidei o pra ir pra lá. Mas ele disse que não conseguiria porque os trens da cidade estavam paralisados e ele não tinha como ir pra casa. Eu falei que beleza e fui embora. Fui prum lado e ele pro outro. No meio do caminho, as meninas que moravam comigo pediram pra eu parar no mercado pra comprar Coca-cola e granulado. Desci do ônibus, comprei as coisas e começou uma baita chuva. Não tinha grana pra pegar táxi, então esperei outro ônibus. Demorou 40 minutos pra chegar. Quando entrei no ônibus e passei a catraca, o carinha com que eu estava ficando estava abraçado com outro cara. Eu não sabia o que fazer. Olhei pra ele e falei: 'Oi, tudo bem? Boa noite'. E ele olhando pra mim branco, muito branco. Fui pro fim do ônibus. Era muito próximo da minha casa, eu logo ia descer. Abri o Instagram e fiquei passando as fotos, nem estava olhando, fiquei só passando o dedo. Estava nervoso, não conseguia ver nada. Quando fui descer, ele também ia descer com o boy. Eu não estava acreditando. Desci rápido, entrei em casa e comecei a chorar horrores. O que me consolou foi que pelo menos tinha hot dog e brigadeiro."

Veruschka Balenciaga, fotógrafo

DATE DE CRISTO

"Uma vez eu conheci uma mina no busão. Ela sentou do meu lado, a gente começou a conversar, papo vai, papo vem, trocamos contatos. Nos falamos uma vez e combinamos de nos encontrar de novo no shopping. Ia rolar um cinema, mas ficamos aos beijos do lado de fora mesmo. Foi daora. Alguns dias depois, porém, a Cinderela virou bruxa do mal. Me ligou e falou para nos encontrarmos de novo, dessa vez na sua casa. Disse que era evangélica, que eu precisava conhecer seu pai e que eu precisava cortar o cabelo, porque não tinha condições de ser apresentado à sua família com aquele aspecto dingão. Marcou um jantar, horário e quase que agendou o cabeleireiro. Minha saída, a única que encontrei, foi falar para ela que eu não poderia continuar com aquilo, porque eu era satanista e que amava Lúcifer e era [o próprio filho do capeta](próprio filho do capeta). Ela me pediu para nunca mais procurá-la, ficou horrorizada e eu fugi de um casamento forçado."

Jesus Lúzifer, modelo de roupas de baixo

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