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As fotografias perturbadoras de um serial killer

Em 1979, os detetives da divisão de homicídios de Huntington Beach, Califórnia, encontraram centenas de fotos de mulheres não identificadas num armazém de Seattle pertencente a um homem chamado Rodney Alcala, um assassino em série.

No dia 26 de julho de 1979, os detetives da divisão de homicídios de Huntington Beach, Califórnia, encontraram centenas de fotos de mulheres não identificadas num armazém de Seattle pertencente a um homem chamado Rodney Alcala. Eles estavam investigando o assassinato de Robin Samsoe, 12 anos, que estava falando com Alcala um mês antes. Entre as fotos, eles encontraram os brincos da vítima.

Alcala foi condenado à morte em 8 de maio de 1980, mas conseguiu apelar da decisão em 1984, dizendo que a inclusão de suas condenações anteriores tinha influenciado o júri. Em seu julgamento seguinte, em 1996, a decisão também foi derrubada porque o juiz teria "impedido a defesa de desenvolver e apresentar provas materiais no caso". Alcala foi condenado recentemente em março de 2010 – e novamente recebeu a pena de morte.

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Apesar das dificuldades para condenar o homem, nunca houve dúvida de que Alcala era um assassino prolífico. Os três julgamentos entre 1980 e 2010 provaram que ele assassinou sete mulheres, e os detetives dizem que esse número ainda está incompleto. Segundo essa teoria, o Departamento de Polícia de Huntington Beach (DPHB) publicou as fotos de Alcala depois do último julgamento, esperando que algumas das centenas de mulheres pudessem ser identificadas ou ter o desaparecimento confirmado.

"Algumas mulheres (cerca de 30) se identificaram como tendo posado para as fotos", informou o detetive do DPHB Patrick Ellis. "A coleção dele inclui colegas de trabalho, colegas de escola, namoradas, familiares e estranhas, porém menos de dez admitiram conhecê-lo pessoalmente." Apesar de ter recebido centenas de ligações desde 2010, Ellis admite que nenhuma das mulheres estava ligada a casos de pessoas desaparecidas. O DPHB tirou as fotos das mulheres identificadas de seu site, deixando os casos não resolvidos online, e o caso continua parcialmente aberto. Nenhuma das mulheres nas fotos desta matéria foi identificada ainda.

O ex-detetive Steven Mack também trabalhou no caso de 2010 contra Alcala. Ele acredita que "é altamente provável" que algumas das mulheres fotografadas tenham sido assassinadas. "Não tenho dúvida de que há outras vítimas", ele diz. "Algumas semanas atrás, ouvi alguém falar em 150, embora não acredite que o número seja tão alto. Mas acho que são dezenas."

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Rodney Alcala nasceu em San Antonio, Texas, em 1943, mudando-se para Los Angeles aos 12 anos. Depois de uma passagem fracassada pelo exército (ele foi dispensado por transtorno de personalidade), ele se matriculou no curso de belas artes na UCLA e se formou em 1968, quando cometeu seu primeiro crime conhecido. Um motorista viu Alcala atrair uma menina de oito anos para seu carro e o seguiu até seu apartamento em Hollywood. Quando a polícia chegou ao local, eles acharam a garota estuprada, espancada e quase morta, porém Alcala tinha conseguido escapar. Ele foi a Nova York com um nome falso e se matriculou na NYU, onde estudou cinema com Roman Polanski. Numa virada sombria do destino, a esposa de Polanski seria assassinada por Charles Manson no ano seguinte, e o próprio diretor seria acusado de abusar sexualmente de uma garota de 13 anos alguns anos depois. Entretanto, foi Polanski quem ensinou Alcala a usar uma câmera, e esse foi o começo da carreira dele como autoproclamado "fotógrafo de moda".

"Ele tinha um dom para falar que funcionava com as meninas", explicou Mack. "Um cara normal – e me considero um cara normal –, quando vê uma garota atraente num bar, provavelmente não vai falar com ela porque acha que vai levar um fora. Bom, ele não tinha medo de falar com ninguém. Ele as convencia a posar para suas fotos e fez isso inúmeras vezes."

Foi assim que ele acumulou seu vasto portfólio, incluindo retratos da comissária de bordo de 23 anos de Nova York Cornelia Crilley, que ele estrangulou em 1971. Esse se tornou seu modus operandi, levando a três assassinatos em 1977: Ellen J. Hover, 23 anos, e Jill Barcomb, 18, as duas de Nova York, além de uma enfermeira de Malibu de 27 anos chamada Georgia Wixted. Em 1978, ele apareceu no programa de TV The Dating Game, no qual venceu dois competidores e conseguiu um encontro com uma mulher chamada Cheryl Bradshaw. Bradshaw desistiu do encontro quando encontrou Alcala nos bastidores e o achou "esquisito". Como ela falou para a CNN em 2010: "Ele era quieto, mas me interrompia e se impunha sempre que queria. Ele foi se mostrando menos simpático e mais rude, acho que tentando me intimidar. Acabei não só não gostando dele… ele foi o cara mais assustador que conheci na vida".

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Mais tarde, naquele ano, ele assassinou Charlotte Lamb, 32 anos; depois, Jill Parenteau, em 1979. As duas são de Los Angeles. Finalmente, em 20 de junho de 1979, Robin Samsoe desapareceu a caminho de uma aula de balé, e a polícia revistou o apartamento de Alcala, onde encontrou o recibo do armazém em Seattle. Alcala está na Prisão Estadual San Quentin desde então.

"Esse foi um caso muito pessoal para mim", lembrou Mack, hoje aposentado. "Eu era um patrulheiro de Huntington Beach quando Robin foi sequestrada. E essas eram as fotos em que penso – as vítimas conhecidas. Ellen Hoover, de Nova York, e as garotas de Los Angeles, e, então, a nossa [garota] de Huntington Beach. Sabe, isso mudou [a maneira] como criei meus filhos e o que eles podiam ou não fazer. Eu não conseguia deixar meus filhos irem à praia depois disso."

Outra mulher que teria sido vítima de Alcala é Pamela Jean Lambson, de São Francisco. Ela desapareceu em 1977 depois de dizer a amigos que ia se encontrar com um fotógrafo. A polícia alega não ter evidências de DNA para o caso, embora as descrições de testemunhas batam com o perfil de Alcala. A polícia de Seatlle também está convencida de que ele está por trás das mortes de duas adolescentes em 1977 e 1978, mas também não tem provas suficientes para uma condenação.

Sua capacidade de evitar condenações geralmente é atribuída a seu QI alto, que seria de 135. No entanto, Mack acha que Alcala tem apenas sorte.

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"Conversei com ele uma vez", ele revela. "E ele tem o QI alto, segundo todo mundo, mas não acho que ele seja tão esperto quanto acha. Ele escreveu um livro chamado You the Jury, e eu li isso, ou tentei ler, e não faz nenhum sentido. É só uma longa enrolação. Ele não é louco, eram puro desvio sexual e prazer que o motivavam."

Se você reconhecer algumas das mulheres mostradas na matéria, entre em contato com o detetive Patrick Ellis: pellis@hbpd.org

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Tradução: Marina Schnoor

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