Mossless in America: Benjamin Rasmussen

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Mossless in America: Benjamin Rasmussen

Rasmussen cresceu numa ilha remota das Filipinas, criado por uma mãe americana e um pai dinamarquês, e sua série de fotografias Home explora essas três raízes. Publicamos algumas fotos feitas nos EUA e batemos um papo com ele.

A Mossless in America é uma coluna nova que apresenta entrevistas com fotógrafos documentais. A série é produzida em parceria com a revista Mossless, uma publicação fotográfica experimental comandada por Romke Hoogwaerts e Grace Leigh. Romke começou a Mossless em 2009 como um blog em que ele entrevistava um fotógrafo diferente a cada dois dias. Desde 2012, a Mossless já teve duas edições impressas, cada uma lidando com um tipo diferente de fotografia. A Mossless foi destaque na exposição Millennium Magazine, de 2012, no Museu de Arte Moderna de Nova York e conta com o apoio da Printed Matter, Inc. A terceira edição, um volume dedicado à foto documental norte-americana dos últimos dez anos, é intitulada The United States (2003 – 2013) e será lançada em breve.

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As fotografias que escolhemos da série HOME de Benjamin Rasmussen contam apenas uma parte da história. Rasmussen cresceu numa ilha remota das Filipinas, criado por uma mãe americana e um pai dinamarquês, e a série explora essas três raízes. Em nossa terceira edição, decidimos publicar somente fotos feitas nos Estados Unidos, mas, nesta entrevista, perguntamos sobre muito mais. Recentemente, ele foi escolhido como um dos 30 fotógrafos cujo trabalho deve ser acompanhado pela PDN, juntamente com alguns outros parceiros da Mossless. Seu trabalho mais recente com refugiados sírios, feito em colaboração com Michael Friberg, será lançado ainda este mês na TGIF Gallery no Brooklyn. Conversamos sobre o estado da cultura norte-americana, a natureza melancólica da fotografia e seu novo trabalho na Síria.

Mossless: Nós dois crescemos muito longe da terra natal de nossos pais. Onde você cresceu? Você acha que foi essa distância que o atraiu para a fotografia?
Benjamin Rasmussen: Cresci nas Filipinas, numa pequena ilha chamada Balabac, com uma mãe americana e um pai das Ilhas Feroe, um pequeno protetorado dinamarquês no norte do Atlântico. Eles se mudaram para as Filipinas para trabalhar como tradutores da Bíblia quando eu tinha um ano, e saíram de lá quando eu tinha 18.

Crescer desse jeito fez parecer normal que três lugares e três culturas tão geográfica, cultural e linguisticamente diferentes existissem juntas. Mas quando falo sobre Balabac com amigos ou a família nas Ilhas Feroe ou nos Estados Unidos, para eles isso sempre parece um lugar exótico e distante. Então, fui atraído pela fotografia por um desejo de encurtar essa distância.

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Sua série HOME se desenvolve nesses três lugares. Fotografá-los fez você se sentir mais próximo ou mais afastado deles?
Comecei a trabalhar em HOME como um tipo de terapia de identidade cultural. Isso me dava uma desculpa para examinar esses três lugares, suas culturas e seu povo, para entender o que eles significavam para meu próprio senso de pertencimento. O processo de fotografar e mostrar o trabalho também me permitiu apresentar um grupo ao outro.

No final, fazer a série me aproximou, mas também me distanciou desses lugares. Ela me permitiu interagir intencionalmente como adulto com relacionamentos e paisagens que me moldaram quando criança. O que me deu algo para compartilhar com essas pessoas, o que me fez sentir mais conhecido.

Mas o ato de fotografar também é bastante melancólico e me faz sentir muito distante. Isso me torna um observador e não um participante. É por isso que há tons tão românticos no trabalho. Muito disso é sobre tentar desesperadamente saber como é se sentir completamente pertencente a um só lugar e cultura.

O que você acha da cultura americana contemporânea, comparado com o que você experimentou quando criança?
Cresci num lugar bastante simples e difícil. Não havia estradas, eletricidade ou telefone. Não havia médicos, mas havia muitas doenças tropicais, então, meus pais tiveram que aprender a diagnosticá-las e fazer tratamentos de emergência. As crianças faziam a maioria de seus brinquedos e organizavam sua própria diversão. O foco era na comunidade e só.

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O que me impressionou nos EUA é como tudo tem que ser grande, complexo e fácil. Acreditamos em constante mobilidade social e na perseguição do Sonho Americano. Há uma mensagem cultural forte de que a coisa mais importante é se sentir bem, parecer bonito e estar sempre feliz e satisfeito. E, como fotógrafos, há um certo nível de direito de que, como criamos coisas, milhões de pessoas precisam ver e louvar isso e nos dar dinheiro pelo nosso trabalho.

Acho que [a cultura norte-americana] é exaustiva, mas também tenho que admitir que sou totalmente parte disso. É uma força cultural que suga você para dentro dela e se torna normal.

Campo de refugiados Za'atari na Jordânia, por Benjamin Rasmussen e Michael Friberg.

Seu último trabalho foi na Síria. O que levou você até lá?
Fui para a Jordânia com outro fotógrafo, Michael Friberg, para trabalhar num projeto sobre a vida dos refugiados sírios lá. Tínhamos visto um fotojornalismo poderoso vindo do conflito. As pessoas estavam se arriscando muito, tendo muito acesso e produzindo imagens terríveis. Mas era tudo bang bang, sangue e tripas. Eles mostravam os sírios lutando ou morrendo. Eles os mostravam nas paisagens pós-apocalípticas de Alepo, escapando do país sob a luz da lua e em campos de refugiados cobertos de poeira. Mas não encontrei trabalhos que os mostrassem como indivíduos. Eles eram sempre atores em imagens dramáticas, nunca pessoas reais. Queríamos adicionar uma voz diferente com nosso trabalho.

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O projeto final é um jornal de 80 páginas chamado By The Olive Tree, feito de entrevistas extensas com refugiados sírios, que procuram explorar como tem sido a experiência deles. A impressão foi completamente financiada por patrocinadores e uma campanha no Kickstarter, então, nós o distribuímos de graça por meio de pessoas interessadas no projeto, que passam a publicação de mão em mão em suas comunidades; por meio do nosso site e, logo, por meio de uma série de exposições e palestras. A publicação será lançada com uma exposição na TGIF Gallery em Nova York, no dia 19 de abril.

Minha motivação pessoal para realizar esse trabalho foi uma continuação dos temas que começaram em HOME. Esse é o primeiro capítulo de um projeto maior com o título provisório de Dispatched. O nome tem um significado duplo. Primeiro, o projeto vai observar como as pessoas respondem quando o sentido de lugar e comunidade é ameaçado. E o segundo é examinar grupos e histórias às quais a mídia predominante presta muita atenção por um curto período e depois esquece. Dispatched será uma coleção de histórias na intersecção desses dois pontos, e será distribuída amplamente usando uma variedade de meios. No momento, estou editando entrevistas e imagens para a segunda parte do projeto, que é sobre o impacto do Tufão Haiyan numa pequena cidade das Filipinas.

Onde é seu paraíso?
Há uma cidadezinha chamada Gjógv nas Ilhas Feroe com uma população de 50 pessoas. Minha esposa, Abby, e eu jogamos um jogo em que imaginamos quem seriam essas 50 pessoas. Viver nessa cidade litorânea tão bonita e remota com nossas 48 pessoas favoritas seria meu paraíso, definitivamente.

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Benjamin Rasmussen é um fotógrafo freelance que, no momento, vive em Denver, Colorado.

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