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Música

Ao paleio com o bacano do The Needle Drop

Trabalho, falafel e música portuguesa.

Aviso: encarem isto como uma tentativa de explorar o trabalho de um dos mais célebres críticos de música e video bloggers da nossa geração ou como um pretexto para eu ter arranjado o email do Anthony Fantano. Tanto faz. Sim, é claro que o meu contacto com ele não se resumiu à entrevista — falámos ainda sobre um amigo e ex-colega de banda dele que vive em Portugal, sobre o John Peel e até sobre o Big Lebowski, mas isso agora já não é nada da vossa conta. São estes os privilégios de ter o contacto à distância de um clique de quem já tem mais de 30 milhões de visualizações no YouTube. Pelo menos, até ao dia em que ele me bloquear. VICE: Conheces alguém corajoso que tente disputar o teu trono como o nerd musical mais ocupado da internet?
Anthony Fantano: [Risos] Não sei se não terei exagerado quando me decidi rotular dessa forma. Essa tagline começou como uma espécie de piada privada comigo próprio. Quem é que quer estar assim tão atarefado? Originalmente, quando comecei o The Needle Drop (TND), trabalhava ao mesmo tempo em part-time numa estação de rádio e numa pizzaria. Nessa fase, ainda acreditava que o meu futuro passaria apenas pela rádio. Isto até o meu canal no YouTube ter começado a ganhar um bom público por volta de 2010. Foi aí que finalmente decidi dedicar mais tempo a este projecto. Houve alguma crítica em específico que tenha ditado essa súbita mudança no número de visualizadores do teu canal?
Não, não posso dizer que tenha existido um álbum ou um artista em particular que tivesse virado a maré, por assim dizer. Houve, contudo, críticas que atraíram maior tráfego do que outras, claro — fossem elas sobre novos singles ou artistas com bastante hype. Embora ache que seja importante fazer este tipo de críticas, tento sempre abranger o que também se passa no mundo musical mais underground. Tenho a dizer que, no geral, a minha tentativa de adquirir uma base de fãs do TND tem sido uma caminhada morosa, mas sempre ascendente. Acontece-te ficares frustrado por fazeres análises de discos que não te interessam só para que possas agradar ao teu público?
Por vezes, é inevitável. Num mundo perfeito, as pessoas teriam um interesse natural em querer estar a procurar (com alguma regularidade) algo que nunca ouviram antes. Mas, uma vez que assim não é, sinto, por vezes, a necessidade de analisar artistas já bastante populares, de forma a poder mais tarde expor outros artistas menos bem sucedidos a estas mesmas pessoas. Se tivesse apenas feito críticas de músicos mais obscuros, nunca teria tido a oportunidade de dar maior visibilidade e apoio a outros que aprecio como os Death Grips, Clipping, Young Fathers, Milo e BADBADNOTGOOD. Alguma vez sentiste a necessidade de atrair um grupo específico de visualizadores?
A maior parte dos meus subscritores pertence a um nicho. Tenho um grupo de fãs que apenas segue as críticas de hip-hop, outro que só segue as de metal e por aí adiante. É possível, ainda assim, descrever a generalidade da minha audiência como sendo predominantemente masculina, entre os 16 e os 35 anos e vindos de países anglófonos. Gostava de começar a abordar certos géneros que tenho vindo a ignorar como o de singer-songwriters, uma vez que tenho ouvido muito Eleanor Friedberger e Jim Guthrie. Para dizer a verdade, analiso o que quero a maior parte do tempo, o que me chateia às vezes é que as pessoas me peçam para fazer uma crítica de algo que já saibam de que não gosto, de forma a atrair negatividade, como foi o caso do Gold Cobra, dos Limp Bizkit, em que fiz um vídeo comigo a lanchar durante seis minutos. Qual dirias ser a tua recordação musical mais antiga?
Oh, as minhas recordações de criança estão, na sua grande maioria, associadas, de uma maneira ou outra, à música. Quando era criança, tinha um brinquedo semelhante a um tambor que se fartava de apanhar porrada. Chegou a uma altura em que os meus pais tiraram-me o brinquedo por fazer demasiado barulho. Lembro-me bem de tentar trepar o armário até à última gaveta onde o tinham escondido. Foi apenas na escola secundária, no entanto, que finalmente comecei a considerar fazer da música a minha carreira, isto é, trabalhando para a rádio, o que acabou por acontecer. A minha segunda opção era ser contabilista, assim como alguns familiares meus. Isto faz-me pensar que tens uma tendência algo obsessiva-compulsiva em relação ao teu ritual de audição de nova música. Estou muito longe da verdade?
[Risos] Não, para te ser sincero, sou daqueles que organiza os álbuns por ordem alfabética e isso tudo, mas também não poderia ser de outra forma, tendo em conta as caixas e mais caixas que tenho de música. Só faço isso porque sei que, de outro modo, demoraria horas a encontrar o que quero. Não sou muito esquisito na forma como ouço música. Gosto de ouvir na minha aparelhagem, mas também não me importo de ouvir pelos phones enquanto corro ou estou no ginásio. É assim, eu tento investigar, tomar notas e até ouvir discos anteriores do artista ou do género musical, no caso de eu estar pouco à vontade com o estilo que estiver a analisar, mas não te posso dizer que tenho uma rotina muito “especial”. A minha rotina é tão ou menos interessante do que ver erva a crescer. Como é que imaginas o The Needle Drop daqui a um ano?
Acima de tudo, curtia que a base de subscritores do canal no YouTube continuasse a crescer. Assim que começar a receber mais dinheiro, gostaria de investir num espaço maior para fazer as filmagens do programa. Gostaria também de trazer alguém que me pudesse ajudar com a edição, de fazer mais cenas com o Cal, de incorporar mais música e de fazer mais entrevistas em pessoa. Tenho uma série de planos, mas, uma coisa é certa, não tenciono acabar o TND nos próximos tempos. Tens algum guilty pleasure novo (relacionado com música ou não) que queiras partilhar?
Tenho alguns gostos que outras pessoas, provavelmente, considerariam um guilty pleasure, mas que, na realidade, para mim não o são, como é o caso do novo álbum da Kyary Pamyu Pamyu, o Nandacollection. Tanto ela como o produtor conseguiram criar um mundo super excêntrico e doce neste novo álbum de pop japonês. Não tenho vergonha nenhuma em ouvir música que é mainstream. Infelizmente, apenas tenho um amigo que partilha o meu gosto musical e que ouve e curte nova música pop como o novo álbum dos Daft Punk. Já sei que tocas baixo. Estás neste momento a tocar em alguma banda? Viste sempre os teus projectos musicais como nada mais do que um passatempo?
Não, neste momento não toco em nenhuma banda — o Cal vai fazendo uns beats e eu vou dando uma vista de olhos, mas nada demais. Tentei numa banda passada de doom/drone/sludge fazer uma gravação da qual tivesse orgulho, mas isso nunca chegou a acontecer. Acabámos por fazer um disco, mas a gravação estava muito lo-fi e mal conseguida no seu todo. Por último, mas não menos importante, dou-te uma chance de me sugerires um prato que me convença a tornar vegan.
Falafel. Sempre. Como trabalho a partir de casa, o Fantano fez umas face-reviews (acabei de criar o termo) a cinco canções portuguesas. É verdade, o maior nerd musical profissional dos nossos tempos não teve como escapar à música tuga. Com resultados positivos ou não, acho que falo em nome de todos os portugueses quando digo que foi um alívio não nos termos deparado com nenhuma foto dele a devorar batatas fritas e homus. Dead Combo, “Aurora em Lisboa” Foge Foge Bandido, “As Nossas Ideias” Linda Martini, “Amor Combate” Orelha Negra, “Throwback” Norberto Lobo, “Fio Mental (Oiã)”