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Música

​Os filhos da Chaputa revisitam os clássicos

A editora portuguesa com um dos melhores nomes do panorama musical, Chaputa Records, acaba de editar a compilação "Sons of Chaputa!".

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Esgar Acelerado e Themoteo Suspiro são os mentores da Chaputa! Records.

A editora portuguesa com um dos melhores nomes do panorama musical, Chaputa Records, acaba de editar a compilação "Sons of Chaputa!". Demorou quase dois anos para se conseguirem conciliar agendas e, num belo fim-de-semana, à tabela, nos estúdios King, no Barreiro - com Nick Nicotine a carregar no Rec e a fazer magia - quatro bandas gravaram no sábado, com duas horas para cada uma, e as restantes quatro picaram o ponto no dia seguinte, em horário fabril.

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É um lançamento em vinil vermelho e é o primeiro de uma série, assim nos adiantam os Chaputeros de serviço, Esgar Acelerado e Themoteo Suspiro. Oito bandas nacionais a fazer versões de clássicos do rock.

Ouvimos o disco e esperamos que seja tão bom para vocês como foi para nós. Abaixo, dissecamos a coisa faixa a faixa e deixamos o teaser para perceberem do que é que estamos a falar.

THE ACT-UPS: I Can't Stand It

Uma versão dos Velvet Underground é sempre de valor. Sobretudo quando parece que ginga pela rua ao som de Lou Reed. E esta tem o groove, a solanga de guitarra psicadélica e o respeito pelo original que, em suma, são os ingredientes necessários para dar as boas vindas - e logo a fundo e a rir - a esta compilação.

D3O: I Put a Spell on You

Mas alguém tem dúvidas que o Toni Fortuna, voz dos D3O, tem soul dentro das veias desde pequenino? Cantar sobre feitiços e amor é com ele, e com o restante duo, que faz o trio. Mandam cá para fora a intensidade e o drama necessários para o (a)normal funcionamento das instituições roqueiras.

MURDERING TRIPPING BLUES: Nothing In This World Can Stop Me Worrying About That Girl

Uma abordagem rough, de um original folk acústico dos The Kinks, que aqui toma o sentido on the rocks. Estão a ver quando os vossos amigos vos vão visitar e deixam tudo de pantanas, mas em bom? É isso. Apareçam quando quiserem. Mi casa es su casa.

THE DIRTY COAL TRAIN: Nytroglicerine

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Uma guitarra a rebolar que se farta - daquelas que fazem cam, cá ra ca cam - merece todo o respeito do mundo. Desculpem lá a referência mais pseudo-intencional, mas, com uma parte final daquelas, desbunda pura, que é tão boa, só apetece citar o Cesariny, quando dizia: "Afinal o que importa é não ter medo, fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício".

THE JACK SHITS: You Can't Stand Alone

O cabrão do rock n' roll a salvar a soul à malta, pá! Pelo menos alegrou estes dias que têm sido de luto pelos ícones a tombarem em catadupa. Para acompanhar a maior parte do tempo com palminhas, ou a bater o pé, ou as duas coisas, se tiverem a coordenação necessária. AAAahhhhhhuu. Vão perceber porquê quando ouvirem. Dá gosto, foda-se!

THE PARKINSONS: Come With Me

Alto e pára o baile. Se falamos dos Parkinsons, temos de falar de lendas. Reza a lenda, que a expressão "Alto e pára o baile" aconteceu no Algarve, quando um dia alguém gritou: "Alto e pára o baile que apalparam o cu à minha filha!". Parece que na altura foi um primo da filha que se acusou, e sendo assim, o pai deixou passar. Por estes dias, alvo de um documentário sobre a sua vida e obra, e com a reputação que trazem, bem que podiam ser os Parkinsons. Era só isto. Siga o baile.

FAST EDDIE NELSON: Kick Out The Jams

É desta matéria que o rock n' roll é feito. Todas estas moléculas, células - e ondas gravitacionais, como é bom de dizer agora - ao serviço de uma versão do Pump up the ja… desculpem,_ do "Kick _out the jams". Nada que impeça o Fast Eddie Nelson de _rockar_, e também de roucar (se não é o verbo para a voz rouca, devia ser). Para abordar este clássico tem de se estar muito seguro de si. E isso é cumprido com distinção. _Habemus rock_ barbudo.

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BRUTO AND THE CANNIBALS: The Fire Of love

Escutem esta brutalidade. Se algum puto me pedisse um conselho de como se canta rock (porque raio o faria?), eu dizia-lhe: "Ouve isto. É assim que se canta. Com contenção quando é preciso, e deixa o desespero para quando fores mais velho. Não é para todos". Jorge Bruto tem isso tudo, porque sim. Excelente forma de acabar esta compilação. A voz quente mas à bruta, irada, por vezes desesperada e arranhada de uma canção muito bem tocada pelos músicos que o acompanham, e que é um clássico absoluto. (Força, Bruto!).

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Agora deveria fazer-se uma apreciação assim bem séria em jeito de balanço. Há só uma inquietação: onde andam as mulheres? (não no sentido sexista do termo, mas sim uma alusão a vozes femininas, riot grrrls). Não é sequer - nem de perto nem de longe - um reparo directo a este disco, que está brilhante e partiu de uma iniciativa quase dantesca, cujos astros se alinharam no tempo certo.

É só uma percepção geral na óptica de um consumidor, até porque na sua formação, ou ao vivo, algumas destas bandas contam com a Dora, Beatriz e Paula, nos Murdering Tripping Blues, The Dirty Coal Train e The Parkinsons, respectivamente.

Em declarações à VICE, Themoteo Suspiro concorda com esta constatação e reforça: "É assim em todo lado e lá fora não foge muito desta realidade". Por agora, o que importa é que estamos perante uma compilação tremenda da Chaputa Records! Comprem o disco, e já agora, se for o caso, apoiem o vosso local dealer (falo de quem vende música na vossa área, ok?).