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Música

Boiler Room. Teoria e prática.

A ideia base é simples, e o mundo em geral já a conhece: disponibilizar em streaming, nas plataformas online e nas redes sociais, aquilo que muitos dj's amadores costumamos fazer em casa.

Moullinex e Xinobi, na edição de 2014.

O Boiler Room é hoje um fenómeno de massas cujo êxito apanhou de surpresa a muita gente do mundo da música. A ideia base é simples, e o mundo em geral já a conhece: disponibilizar em streaming, nas plataformas online e nas redes sociais, aquilo que muitos dj's amadores costumamos fazer em casa sozinhos, ou com um pequeno grupo de amigos: as nossas "bedroom" ou "living room" mixes.

Em Março de 2010, Blaise Bellville, um jovem inglês de apenas 26 anos, pensou que esta ideia podia funcionar e avançou com o primeiro streaming do projecto Boiler Room junto ao seu amigo Thristan Richards (o rapaz negro que exerce de apresentador/animador no início da maioria dos vídeos em Inglaterra).

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Bellville, apesar da sua juventude, já tinha atrás de si a auréola de jovem empreendedor e certa experiência no Reino Unido na produção de festas e no negócio online (em 2009 fundou a revista online Platform). Talvez por isso, muito depressa se deu conta da galinha de ovos de ouro que tinha criado. Em pouco tempo passou do velho e pequeno armazém do East End, onde se gravaram e emitiram os já míticos primeiros Boiler Room, às festas temáticas e showcases na capital da música electrónica contemporânea, Berlim, e posteriormente às duas mecas do "showbussiness" ou simplesmente do "business", New York e Los Angeles. Com o passar dos anos o fenómeno internacionalizou-se cada vez mais e hoje não há capital, festival de música ou "cidade da moda" que se preze que não anseie por um Boiler Room. Lisboa não foge à regra e está tudo preparado para mais um grande evento dia 21 de Janeiro.

A inovação permanente é o que faz com que o Boiler Room não pare de crescer. Depois de apresentar a nata musical do momento, sejam os djs ou os live acts dos artistas indie mais cool, o visionário Bellville assinou acordos com um outro "monstro" da indústria musical, como é o caso da Red Bull Music Academy, que começou a organizar os shows de New York e Chicago (e posteriormente de muitas outras cidades entre as quais Lisboa), e com o Deus todo poderoso da Internet, Google, o que lhe permitiu dispor de um canal próprio no YouTube, com o seu próprio marketing online.

Hoje em dia são mais de 2,5 milhões as visitas mensais à sua já impressionante base de dados de gravações. Ver o Boiler Room da semana, tentar decifrar os "tracklists" e criticar as misturas, tornou-se mais ou menos numa obrigação para todo o hipster que se preze.

O próximo Boiler Room de Lisboa continua a inovar. Pela primeira vez vai emitir-se desde 3 "salas", em simultâneo, com um cartaz recheado de dj sets e live acts, desde a surpresa que poderão constituir as actuações de Mariza ou dos Gala Drop, ao sempre ansiosamente inesperado dj set de Moullinex, ou tudo o que possa acontecer na sala com curadoria dos Buraka Som Sistema. Saber por onde começar e acabar não vai ser tarefa fácil, mas obviamente isso não será muito importante pois todos os shows poderão recuperar-se on-line depois da sua emissão.

Como todos os fenómenos massivos de moda, também o Boiler Room ganhou os seus inimigos e detractores que se queixam da perda do espírito transgressor e independente do início. Mas por enquanto, os djs e artistas que vão passando pelos seus shows continuam a encontrar um espaço de liberdade criativa e cénica, que é impossível de repetir em qualquer clube ou palco do mundo. Tome-se como exemplos a lição de arqueologia histórica da música de dança de Jamie XX na mini tenda Boiler Room do Primavera Sound 2014, o glamouroso set de Ivan Smagghe no hotel W de Paris, o set do 25º aniversário de carreira de Laurent Garnier em Manchester, ou o inesperado set de Thom Yorke em Londres, entre tantos e tantos outros que não cabem num artigo tão curto. Se tenho de escolher um Boiler Room que represente todo o seu espírito, fico-me com a sessão dos Optimo com Move D, em Janeiro de 2013, em Berlim. Pure Joy & Freedom!