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Música

Estás a pensar fazer um crowdfunding para o teu projecto musical? O Morrissey tem umas coisinhas para te dizer.

Morrissey opina, uma vez mais, sobre a vida moderna.

Imagem de Charlie Llewellin.

Morrissey está num momento muito estranho da sua vida, não é verdade? Tecnicamente, não tem nenhuma discográfica, mas ainda é capaz de esgotar, no final de Maio, a Sydney Opera House quatro noites consecutivas. E mais uma vez decidiu filtrar os seus pontos de vista, fora dos radares britânicos, dando uma entrevista num país que não o Reino Unido. Falamos mais especificamente da sua recente entrevista para o jornal espanhol El Pais, na qual basicamente afirma que o crowdfunding é uma porcaria.

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Na entrevista, publicada a segunda-feira passada, Morrissey opina sobre as bandas que usam campanhas de financiamento colectivo: "É uma medida desesperada e um insulto para os fãs. Já nos proporcionaram uma quantidade suficiente de dinheiro. Qual é a próxima coisa que lhes vamos pedir? A escova de dentes?".

Aqui temos outro caso de um ícone musical já veterano que dá a sua opinião sobre a vida moderna e que nos faz pensar: "Claro, para ti é fácil dizer isso." Como quando o Thom Yorke começou a criticar o Spotify, e encorajou toda a gente a utilizar o Bit Torrent como opção; um ponto de vista bastante elitista, especialmente para qualquer artista que não tenha uma reputação mundial, uma editora que lhe pague um salário estável e a possibilidade de conseguir esgotar todos os seus concertos. E a verdade é que, se o Morrissey me pedisse para escovar-lhe os dentes, eu escovava, nem que fosse pela experiência. Imagina-te na casa de banho dele: cara a cara com o Morrissey, a pasta de dentes a escorrer-lhe pelos cantos da boca e os dois de olhos nos olhos. O seu gargarejo melódico ecoando nos azulejos imaculados. Apenas o Morrissey, eu, e um tubo de pasta dentífrica Couto.

Mas agora a sério, o crowdfunding é uma medida realmente desesperada e insultante, tendo em conta que é o público que decide contribuir ou não para financiar o projecto? É possível que muitos artigos sobre este método de financiamento se tenham centrado na campanha que as TLC iniciaram para angariar 430 000 dólares ou na dos Megadeth (PledgeMusic), mas isso não significa que muitos artistas não tão conhecidos usem este tipo de plataformas de uma maneira mais prática. Sim, às vezes as recompensas por contribuir podem ser tão ridículas como "Apoia com 5 euros e toma um café com o baixista", ou "Apoia com 10€ e acompanha-nos um dia inteiro", ou ainda "Apoia com 15€ e tens direito ao EP 48 segundos antes do lançamento oficial". Contudo, esta plataforma ajuda artistas que não podem sobreviver com os poucos concertos que dão, ao unir os fãs espalhados por esse mundo fora debaixo do mesmo tecto, procurando o seu apoio para a próxima aventura.

Talvez Morrissey estivesse a disparar contra as grandes bandas como TLC e De La Soul, que estão a angariar muito dinheiro directamente dos seus leais seguidores apesar das suas impressionantes trajectórias. Mas mesmo nestes casos, estas campanhas permitem que os artistas produzam algo real, que eles querem mesmo fazer, sem ter uma editora a tentar impor a sua visão comercial. Inclusivamente facilita a criação de projectos sobre os quais um produtor musical cuspiria se lhe propusessem.

O último álbum de Morrissey, World Peace is None of Your Business (2014), não foi exactamente um sucesso comercial, e por causa das disputas com a sua então discográfica, Harvest, saiu três semanas mais tarde, e logo eles se separaram. Apesar de tudo isto, existem provavelmente muitos fãs do Morrissey ansiosos pela chegada de um novo álbum e estariam mais do que felizes de esvaziar os seus bolsos para financiá-lo.

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