É assim que o teu cérebro funciona quando fumas erva
Fotografia principal por Rafael Castillo

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Drogas

É assim que o teu cérebro funciona quando fumas erva

Dois colegas de Ana Iorga aceitaram "sacrificar-se" em nome da ciência.

Ana Iorga é uma pioneira do neuro-marketing, especializada em pesquisas de mercado que utilizam o electroencefalograma, a biometria e os testes de associação implícita. Durante uma conferência de publicidade e marketing em Amesterdão, Iorga levou a cabo uma experiência inusitada: mediu o efeito que a erva tem no cérebro humano, usando um capacete especializado que normalmente leva consigo para este tipo de eventos.

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"Apercebi-me que alguns dos participantes fumavam durante o intervalo e pus-me a pensar como reagiriam os seus cérebros nesses momentos", disse-me. "Como ainda não domino nenhuma técnica de leitura da mente, pensei em comparar as suas actividades cerebrais antes e depois de fumarem erva".

Dois colegas de Iorga aceitaram "sacrificar-se" em nome da ciência e uma noite, depois do jantar, um deles acendeu um charro enquanto o outro comeu uma bolacha aditivada.

"Antes de consumirem o que quer que fosse, fomos até ao bar do hotel e gravámos as suas actividades cerebrais", contou Iorga. "Quinze minutos depois repeti as medições. Tinha a certeza de que veria uma diminuição da actividade cerebral, porque me disseram que se sentiam mais lentos, mais ausentes e mais relaxados. Fiquei muito surpreendida com o resultado".

O cérebro humano contém biliões de células, chamadas neurónios, que comunicam entre si através de electricidade. As comunicações simultâneas entre os biliões de neurónios produzem uma grande quantidade de actividade eléctrica cerebral, que pode ser detectada e medida através da electroencefalografia.

Como esses impulsos eléctricos são desencadeados periodicamente como ondas, chamamos-lhes ondas cerebrais. Os sensores de electroencefalografia medem a actividade dos neurónios localizados na superfície do córtex cerebral e, no caso dos dois voluntários, mostraram uma alta frequência e amplitude depois de estes terem consumido erva – com o ritmo cerebral visivelmente diferente, se comparado com a situação inicial.

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Os estudos afirmam, de forma geral, que o THC diminui o ritmo cerebral quando está associado a um estado de relaxamento e que o acelera quando está associado a alucinações visuais. As duas cobaias de Ana demonstraram "que o ritmo cerebral acelerou depois do consumo de erva e que a amplitude das ondas era maior – o que não significa que as coisas funcionassem de modo caótico, mas sim que o cérebro se encontrava num maior estado de alerta", explica a neurologista Laura Crăciun.

Crăciun enfatiza que, no caso do primeiro participante, havia um desequilíbrio entre a electricidade cerebral no hemisfério esquerdo (que lida com lógica, linguagem e processos matemáticos) e o direito (onde acontecem os processos de criatividade, intuição, arte e música) ao longo da sequência de registo das ondas, antes do participante ter fumado erva. Isso significa que o desequilíbrio não é exclusivamente determinado pelo consumo desta substância.

Os dois voluntários tinham consumido uma quantidade moderada de álcool ao jantar, o que não interferiu muito nos processos. Durante a experiência, nenhum dos dois teve de executar nenhuma tarefa específica. A sua actividade cerebral foi medida em estado de relaxamento.

"No caso do participante que comeu a bolacha, o efeito foi tanto de desaceleração – a frequência básica dos dois hemisférios diminuiu – como de aceleração da amplitude, que está associada a um estado de relaxamento profundo, como é o caso do sono", relatou Crăciun.

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"No primeiro registo, o ritmo cerebral é visivelmente mais rápido – sobretudo no hemisfério direito –, e também menos simétrico e constante, mas eu não diria que o efeito seja o de uma 'perturbação' das ondas cerebrais".

Na trajectória do "antes" podemos ver as ondas cerebrais da pessoa que está em estado de descanso, antes de fumar erva. A trajectória contém 14 registos, cada um de um eléctrodo diferente (os eléctrodos são igualmente divididos entre os dois hemisférios do cérebro).

É possível ver que a trajectória do "depois" é completamente diferente da primeira, com mudanças tanto a nível morfológico (maior amplitude, aspecto típico), como no ritmo (maior frequência, aspecto caótico).

O participante está no mesmo estado de descanso em que se encontrava no início, por isso, sabemos que as mudanças que vemos no electroencefalograma foram desencadeadas pelo impacto das substâncias no cérebro.