“Make me over / I’m all I wanna be / A walking study / in demonology”
Com a premissa de Celebrity Skin — que abria o disco homônimo e foi single do mesmo — Courtney Love descreveu, de maneira sucinta, sua transformação de “vagabunda adolescente” meio sujismunda a estrela de Hollywood. Love de fato se tornou tudo aquilo que sonhava; seus diários da juventude contém listas e mais listas sobre como se tornar famosa e chegar ao posto de atriz cobiçada. O capítulo anterior de sua carreira a colocava como miss-acabadaça na capa de Live Through This, usando e subvertendo ideais femininos, incorporando características clássicas de estrelas masculinas do rock. Essa era uma foto do Depois. Love encantava com seus recentes sucessos na atuação, em sua vida social e no amor. Dito isso tudo, ela também sabia exatamente o que ela era: um demônio.
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Em entrevistas, bem como nas músicas, Love sempre reconheceu e brincou com arquétipos — bruxa (fêmea vingativa e raivosa, um monstro do pântano em forma de mulher), Medusa ou Sereia (desgraçada e encantadora pique Yoko Ono, que arrasta homens, especialmente deuses do grunge, para as profundezas), viúva má (em turnê? Seminua? Saindo com outras pessoas? Vivendo o luto do jeito “errado”, basicamente) e mãe-maluca estilo Medeia (negligente, grávida e viciada como mencionado em “Plump” — “I don’t do the dishes / I throw them in the crib”). Mais que isso, Courtney sabia que a cultura pop clamava por alguém para desempenhar estes papéis. Quem não era fã do Hole ia aos shows de 94 e 95 mesmo assim para testemunhar toda a performance de Courtney, perversamente intrigados por uma mulher fora dos eixos que se jogava em meio ao público ou dava início a verdadeiras diatribes sobre o marido que acabara de perder. Aos olhos do público e da imprensa musical, que ainda a encaixava em todas estas categorias — por exemplo, durante o ciclo de Celebrity Skin, Courtney fez com que o pessoal da NME prometesse não se referir a ela como vadia, viúva ou assassina na capa da revista antes mesmo de sentar para conversar com seus jornalistas — ela era um estudo de caso vivo, pulsante e berrante que agora tinha Los Angeles e não Seattle como seu palco.
Quando Celebrity Skin foi lançado, há 20 anos, todos esperavam um disco de luto, melancólico ou bravo, um sucessor apropriado para Live Through This.
Quando o disco foi lançado em setembro de 98, a ultrafã Sarah, nativa da Filadélfia, agora com 37 anos, matou aula pra ouvir o resto do disco, jurando que sua faixa de abertura homônima, que apresentava um Hole mais leve, seria exceção. “Ouvi o disco inteiro voltando da loja de discos pra casa pensando ‘que diabos é isso?’. Os fãs esperavam algo que jogassem Live Through This pra escanteio, mesmo que não fosse tão pesado… mas tudo ali soava como um hit pop pras rádios”. Outra fã, esta mais jovem, uma mulher de 33 anos chamada Tisha, de Iowa, também se surpreendeu com o direcionamento pop e divertido do álbum. “O fato de que o disco chegou numa pegada mais ‘vida que segue’ me impressionou bastante. Até mesmo os fãs da mulher esperavam um disco de viúva. Mas quando rola uma coisa dessas não tem muito o que ser feito, né?.”
E bem, não era um disco de viúva mesmo, mas sim uma carta de amor e ódio para Los Angeles, entregue por uma Courtney Love com cabelo ondulado praieiro, com luzes e tudo, vestida em tons pastel e com olhos cheio de glitter, sem a ironia que até então caracterizava os anos 90, especialmente dentro do rock. Este produto do pop-rock era impossível de desassociar de Courtney, a mulher e o conceito. “Penso que muitos de nós fãs ficamos aliviados quando Celebrity Skin saiu”, afirma Tisha, fã da banda e ex-viciada, que como tantos outros temia acabar perdendo Courtney para as drogas ou suicídio, levando em conta tudo que ela havia passado com Kurt e a mídia. “Ela estava linda e glamourosa, sem cicatrizes por injetar heroína. Era uma Courtney que ninguém nem conseguia imaginar”. Tudo isso era resultado de uma Nova Courtney.
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Na parte interna do CD, uma dedicatória: “… Para toda a água roubada de Los Angeles e todos que já se afogaram”. Em 94, a baixista do Hole Kristen Pfaff teve uma overdose, tragicamente morrendo afogada em uma banheira. O pai do guitarrista Eric Erlandson havia morrido, de acordo com entrevista cedida à Rolling Stone em 98 “afogado em seu próprio corpo, ele não conseguia respirar”. O pai da nova baixista do grupo, Melissa Auf der Maur, havia morrido de câncer de pulmão. Durante o período de composição do disco, Jeff Buckley, amigo de Courtney, afogou-se em um rio. Dois meses antes da morte de Kristen, Kurt havia morrido, submerso no próprio vício, bem como seu tormento físico e mental. O afogamento emergiu então como uma clara metáfora para todos que a banda havia perdido; a ligação com a água ia ainda mais fundo para uma banda cujos integrantes nutriam interesse por astrologia. Courtney e Melissa eram signos de água — câncer e peixes, este último sendo o signo de Kurt também. Ou seja: eram pessoas que habitavam pontos emocionais e intuitivos no zodíaco, sem contar que Eric e a baterista Patty Schemel, os dois outros integrantes da banda, também tinham água em seus mapas astrais.
Quanto à primeira parte da dedicatória do CD: era para água que foi roubada mesmo. Uma grande inspiração do disco foi o filme Chinatown de Roman Polanski, de 1974, que ficcionalizava as Guerras da Água californianas — período em que águas roubadas de Owens Valley irrigavam Los Angeles. Logo a comunidade cinematográfica da época usaria toda essa água, clamando por mais e mais, numa cidade que se assemelhava a um paraíso e na verdade era um deserto ressecado por trás dos panos. Nem mesmo as famosas palmeiras de Los Angeles são nativas; agora estas contam mais de 100 anos, completamente mortas ou chegando lá. Mas são magníficas, não? Esta é a Los Angeles de Celebrity Skin. Uma terra que brilha num deserto inabitável em que mesmo a água é um pecado.
Nada mais apropriado, então, que a maior parte do disco fosse composta ao longo dos três anos em que a banda morou em Los Angeles: Patty e Melissa em Silverlake Hills, Eric na região de Laurel Canyon e Courtney em Beverly Hills. Patty lembra de ir de carro com Courtney até Malibu. “Pássavamos por uma estrada que levava até a casa de um cara com que ela costumava sair; era um cara especial pra ela. Acho que ela saiu do carro e bateu na porta, mas ele não abriu. Na volta, conversamos sobre o disco ter uma vibe californiana, inspirada no final dos anos 70”. Courtney queria que fosse pop, de forma a desconstruir o som de bandas como The Byrds e The Doors.
“Na época eu pensava ser a pior baterista de todos os tempos e isso me derrubou.” – Patty Schemel
“Víviamos na terra da fantasia”, diz Melissa, analisando o passado. “Eu estava me divertindo como nunca na vida ali em Los Angeles com vinte e poucos anos, vendo shows de todas as bandas que queria, trabalhando pra caralho quando necessário.”
Tudo em torno da criação do disco era muito sério. “Poucas pessoas na história do rock tinham mais a provar do que esta pessoa neste disco aqui”, comentou Mark Kates, executivo de A&R que trabalhou com o Hole na Geffen Records em entrevista à Spin, referindo-se à Courtney naquela época. Pairava no ar a cínica ideia de que Live Through This havia sido um fracasso; o longa Kurt and Courtney de Nick Broomfield ajudava a colocar lenha na fogueira para quem culpava Courtney pelo vício de Kurt e até mesmo sua morte. No geral, ninguém acreditava que ela estava tentando evoluir de alguma forma. Jon Pareles escreveu no New York Times que era “triste vê-la saracoteando por Hollywood como se mal pudesse esperar para se tornar uma pessoa superficial”. Um pouco de contexto: o período entre meados e final dos anos 90 ainda não entendia que atrizes ou modelos pudessem também cantar e vice-versa; a simples tentativa de conciliar estas atividades, então imagine se só Courtney Love aparecia mandando uma dessas.
Aí tinha a questão da grana. “Haviam grandes expectativas por parte da gravadora, diferente de tudo que o Hole havia vivido até então”, comenta Melissa. “Eram os anos 90, não haviam limites de tempo e orçamento considerando que este seria o sucessor de um disco bastante aclamado pela crítica. Foi o disco que mais me deu trabalho, o disco mais difícil em que trabalhei — mesmo agora”. Todos os integrantes da banda fizeram aulas de canto e música, faixas foram recriadas, sempre com melhorias e novos takes.
Jordon Zadorozny, com apenas 23 anos na época, foi convocado para atuar como compositor, sendo amigo de Melissa e já tendo tocado com ela. “Courtney era bastante ocupada”, comenta. “Era a fase hollywoodiana dela, então ela fumava um Marlboro atrás do outro e corria pra praia de manhã cedo com um personal trainer pra depois ir fazer testes. Ela tinha acabado de atuar em O Povo Contra Larry Flint e todos fomos à estreia”. Ao comentar sobre o equilíbrio entre todos os compromissos, ele dispara: “era uma situação bastante complicada.”
A produção teria que ser perfeita, então Michael Beinhorn (Red Hot Chili Peppers, Marilyn Manson, Soundgarden, Ozzy Osbourne) foi convocado. “Quando você ouve o disco, soa como um computador daquela era analógica em termos de perfeição”, comentou Melissa. “Eles mexeram em nossas faixas nas primeiras versões daquilo que viria a ser o ProTools”. Beinhorn era conhecido por substituir bateristas e na transformação do Hole de uma banda de punk rock em um grupo de pop reluzente, alguém acabaria ficando pra trás. “A primeira semana [de gravações] foi brutal”, relembra Patty. “Eu sentava pra tocar e ele ia lá no microfone e dizia ‘vai de novo’, como um jogador de baseball em campo. Boto fé que ele estava acostumado a dar uma canseira em bateristas, mas eu não cederia. Ele não me falou nada, foram Eric e Courtney que chegaram em mim, lembro dela falando ‘Olha Pats, ele tem um cara já. São negócios, beleza?’ e eu fiquei doida, na época eu pensava ser a pior baterista de todos os tempos e isso me derrubou”. Patty então foi tirada da banda e um novo baterista, este aprovado por Beinhorn, entrou em seu lugar enquanto a antiga integrante se afundou na heroína, retomando assim um antigo vício (tudo descrito em detalhes em sua autobiografia lançada no ano passado intitulada Hit So Hard), ao passo em que o resto da banda se limpava.
A estética seguia o conceito do disco, tentando capturar o que o amigo de longa data da banda e diretor de arte Joe-Mama Nitzberg chama de “um grande paraíso de mentira no meio do deserto”. Joe lembra de querer romper barreiras do que era feito dentro do pop/rock da época — uma das prioridades da gravadora era vender CDs com forte identidade em termos de gênero, um disco de “rock clássico” ou “pop”, por exemplo — seguindo assim uma linha criativa desenvolvida por ele e Courtney em torno da temática do disco. Dentro do encarte do disco há uma foto do Modesto Arch, que conta com as palavras “Água, Riqueza, Contentamento, Saúde” impressas com todo entusiasmo capitalista do começo do século 20 e outra do Departamento de Água e Energia Elétrica de Los Angeles. O que importava para a banda toda, lembra, era que todos estivessem na capa, não só Courtney. A foto em preto e branco dos quatro diante de palmeiras em chamas que acabou saindo era uma polaroide de teste para a realização das fotos “de verdade”. “São palmeiras reais pegando fogo. O vento bateu forte e uma delas meio que explodiu. A sessão de fotos foi dureza para todos nós, mas em especial porque eu era bastante amigo de Patty e não sabia como ajudá-la.”
Na época, Patty estava se afundando no vício, mas a chamaram de volta para as fotos e clipes do disco. “Cheguei ali no meio do deserto pesando uns 40 quilos e todo mundo sabia que eu estava na merda. Eu sei bem o que está no fundo dos meus olhos naquelas fotos e é terrível”, afirma. Posteriormente, houveram esquemas de reabilitação oferecidos pela gravadora, promessas foram feitas e quebradas até que Patty deixasse a banda de forma oficial. Quando Celebrity Skin foi lançado, Patty já estava completamente desligada. “A não ser que alguém me falasse algo do Hole — tipo meu irmão chegar e falar ‘olha, tem um outdoor gigante com a sua cara na rua’ — eu não fazia ideia de nada e nem ligava.”
Na contracapa do disco temos a pintura de Paul Steck, “Ophelia Drowning”. Em sua ilustração do clássico conto, a jovem de coração partido está completamente submersa em água verde. Em vez de lutar contra o que realisticamente seria uma cena terrível, ela está calma, estoica, segurando flores junto ao peito, seu cabelo ruivo em direção à luz. Negando qualquer tipo de dor, ela está fetichisticamente presa em meio à beleza. Quem liga se você está podre quando há um registro seu ainda bela que durará para sempre?
Como ondas que chegam à praia, o disco abre com um instrumental em camadas. Reconhecível instantaneamente por conta do riff contagioso e brega de Billy Corgan (que ajudou na composição de algumas faixas), “Celebrity Skin” é uma introdução shakespeariana a um disco de Los Angeles, com o narrador te recebendo para uma tour por Hollywood. “ It’s all so sugarless / Hooker, waitress / Model, actress / Oh, just go nameless” são suas opções; ver as estrelas se apagarem em relativa obscuridade, os desesperados e o dissecados. O single principal do disco era pomposo e na medida para tocar em todo e qualquer bar de rock descendo a Sunset Strip. Courtney comentou à NME na época: “O que disse a Beinhorn, nosso produtor, foi ‘Eu não ligo se o refrão vier de um zelador, quero refrões e mais refrões porque nós os ignoramos’”. Se os primeiros discos soavam inacessíveis, este deveria funcionar como uma narrativa coesa dos altos e baixos pela cidade, bastidores e ruínas que pudesse tocar na rádio para que todos faturassem.
A raiva dos vocais de Courtney se vai, suavizada e misturada à voz etérea de Melissa, uma seguindo a outra, com aquela vibe nostálgica Beach Boys enlatadinha. Fica claro que o Fleetwood Mac foi uma grande influência ali; as letras eram levemente sarcásticas, já a música tinha um tom mais refrescante, brilhante, misturando instrumentos acústicos e elétricos. Os outros dois singles são melodias feitas para cantar junto. “Awful” é meio que um salve para “Swing Low Sweet Chariot” e “Cherry Cherry” do Neil Diamond sobre como ser uma mulher perfeita enquanto produto facilita se dar bem numa terra em que tudo é dispensável. De maneira semelhante, “Malibu” trata de um viciado em processo de recuperação 3 acreditavam ser uma referência a Kurt (que frequentou uma clínica de mesmo nome), mas Courtney comentou que se tratava de seu ex, Jeff, com quem morou na adolescência. De qualquer forma, soa como uma canção de amor, luxúria e sentimentos reais misturados a mentiras, desespero e a sedução da cidade, observando o “oceano dos anjos” em que os destinos de todos vão pras picas e despedaçadores de corações caminham rumo às ondas do mar.
Temas explorados anteriormente, tais como relacionamentos abusivos, inocência perdida e dor desejosa por quem se ama surgem novamente, desta vez indo mais fundo nas complexidades. A romântica e suave “Hit So Hard” fala sobre ser vítima de abuso, fazendo uma referência à famosa canção do The Crystals (“ He hit so hard / I saw stars”). As letras de Courtney brincam ainda mais com sua mitologia em “Reasons To Be Beautiful”, com seus diversos jogos de palavras: “ Love hangs herself / With the bedsheets in her cell”. Ela se prepara para reencarnar, considerando que se você quer se tornar algo novo, é preciso matar partes do seu eu. É o mais próximo que chegamos aos seus vocais mais graves e maduros, rugindo com bocados de vogais.
No meio do disco, presságios atingem a superfície. “Dying” é um bilhete suicida (o trecho “ I am so dumb” soa como uma referência a Kurt, mesmo que não seja) e o jogo de altos e baixos em “Use Once and Destroy” é um chamado para salvar alguém querido de se afogar. “ I went down to rescue you / I went all the way down / I went down for the remains / Sort through all your blurs and stains” poderia muito bem ser interpretado como algo vindo de qualquer um da cena grunge/de Seattle, ou simplesmente algo sobre estar submerso em algo inescapável. “Northern Star”é uma sucessora digna de nota, um tema acústico e orquestrado sobre morte, luto e miséria sem fim.
O alívio vem na forma das guitarras brilhantes e oníricas, acompanhadas do frescor dos vocais de “Boys On The Radio”. A faixa fala de uma garota sozinha no seu quarto pensando nos garotos de suas bandas favoritas cantando promessas a ela: “ When the water is too deep / I will ease your suffering”. Neste contexto, trata-se de um comentário sobre como as bandas são elevadas e depois dispensadas pela indústria (o que pode muito bem incluir o Nirvana). Assim como a faixa anterior tem um tom açucarado apaixonado, a empolgação inocente continua em “Heaven Tonight”, que os fãs acreditam ser uma faixa para Frances Bean, tendo em vista seu amor por cavalos.
As últimas duas faixas são um retorno às trevas — o destino cruel e quase inevitável daqueles que dançam em meio à corrente. “Playing Your Song” soa como uma mensagem sobre vida pós-esgotamento e quem sabe uma indireta a Dave Grohl e sua ida pro Foo Fighters, seguida de acusações sobre a ganância de Love (“ Get so fat on it, it’s a tragedy”). Então temos a última faixa, “Petals”, que é como um jogo de bem-me-quer em tons suaves, versando sobre o arrancar de pétalas de flores quando na verdade tudo que quer é a verdade.
Seriam estes os pensamentos de Courtney sobre o falso desenvolvimento de uma pele de celebridade tanto nela quando nos outros? Tudo que seus detratores poderiam ter dito dela, só que ela disse primeiro? Talvez, mas como ela disse em tom de piada em Later… with Jools Holland, o disco só leva esse nome “porque [ela] tocou muito disso”. Flertando com todas as alternativas por meio de letras poéticas que podem significar quase que tudo, o disco tem 12 faixas de vingança acompanhadas por um sorriso voltado para todos que a julgavam incapaz.
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Celebrity Skin é um disco de pop rock clássico — indicado ao Grammy, bem-sucedido comercialmente, homônimo de seu single mais popular — mas muitos esquecem que ele existe, ainda mais pensando na história do Hole. “É uma obra-prima muito louca do mainstream em termos de produção e perfeição clássicas”, diz Melissa hoje. “Não era algo que eu buscava, mas Courtney e a gravadora sim. Na época eu pensava ‘por que estamos enchendo esse disco de penduricalhos?’, mas ela tinha toda uma visão pro que queria de sua arte. Ter uma mulher tão controversa quanto ela como a cereja do bolo de um disco pop é foda pra caralho”.
Para Patty, tudo parece bem mais complicado, claro. “Pra mim, é algo agridoce. Faz parte da minha história. Consigo ouví-lo e pensar ‘não sou eu na bateria agora’. Não posso dizer que fico orgulhosa, mas é algo que simplesmente existe e está ali”. Ela comenta ainda que é um disco forte: “Celebrity Skin é o Hole das tardes de domingo”. Para Jordon também, “Live Through This é o disco que todo mundo comenta 20 anos depois, mas Celebrity Skin é o que eu irei ouvir”. A mesma consideração aparece em meio aos fãs da banda — fácil de ouvir, combina com qualquer humor, especialmente uma viagem de carro com as janelas abaixadas. É um disco confortável ainda que esperto o bastante para fazer o ouvinte voltar a ouví-lo.
Não seria um absurdo afirmar que o próprio Hole resolveu partir rumo às ondas depois de Celebrity Skin. A banda saiu em turnê com Marilyn Manson em 1999, mas largou tudo depois de ser expulso às vaias do palco por fãs. Houve ainda a treta com a gravadora, em que a Universal processou Courtney por não ter conseguido lançar cinco discos, ao passo em que ela processou a gigante por não promover a banda o suficiente. Courtney ainda usou o nome Hole em outra banda que não tinha todos seus membros originais, especialmente seu parceiro de criação Eric; Patty teve que se recuperar de um trauma profissional que a levou a ter uma recaída. Brincou-se com a ideia de voltas do grupo que logo então foram negadas, com cada um trabalhando em seus projetos. Mas que despedida foi, tal como a pintura de Steck, uma bela morte com violetas ao redor do pescoço e um sorriso no rosto.
Matéria originalmente publicada no Noisey US.
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