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Cientistas canadenses estão combatendo o zika vírus com pneus velhos e leite

Uma picada de mosquito pode causar muito mais do que uma coceirinha: se for um Aedes aegypti, várias doenças podem ser transmitidas, entre elas a nossa velha conhecida dengue e o zika vírus, que hoje aflige grande parte do continente americano.

No Brasil, uma gigantesca campanha de saúde que inclui até drones visa acabar com os criadouros do inseto. Já em alguns laboratórios do Canadá e do México, pesquisadores criaram uma forma barata e ecológica de combater a ameaça: uma armadilha de pneus velhos e leite. (Pneus abandonados são, além de baratos, um dos locais de proliferação favoritos do Aedes aegypti.)

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A invenção já foi testada na Guatemala e, agora, a equipe planeja expandir a pesquisa. O sistema usa uma armadilha feita com duas faixas de borracha encaixadas no formato de uma boca e equipada com uma válvula de liberação de líquidos na base.

Montando uma armadilha com pneus velhos na Guatemala. Crédito: Daniel Pinelo

O sistema foi inspirado em uma armadilha de mosquitos criada pela Universidade Laurenciana de Sudbury, no Canadá, em resposta a um surto do vírus do oeste do Nilo. A armadilha era originalmente utilizada para atrair o mosquito Culex, transmissor da doença.

Essa nova versão da armadilha, que atrai mosquitos do tipo Aedes aegypti, possui um pequeno pedaço de madeira ou papelão flutuando em seu interior, uma espécie de barquinho onde as fêmeas depositam seus ovos. A lasca de madeira ou de papelão é retirada duas vezes por semana para análise e destruição dos ovos.

A solução líquida dentro da armadilha — à base de leite, portanto não-tóxica — coleta feromônios, uma substância química liberada pelas fêmeas dos mosquitos para indicar pontos de reprodução seguros. Essa substância vai ficando cada vez mais concentrada, o que torna a armadilha cada vez mais atraente para mosquitos em fase de reprodução.

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A armadilha tem claras vantagens ambientais e econômicas em relação aos pesticidas, que são mais caros e podem prejudicar outras espécies locais, como morcegos e libélulas.

No decorrer de um período de dez meses, pesquisadores financiados pelo governo canadense coletaram e destruíram mais de 18.100 ovos de Aedes por mês, usando 84 armadilhas espalhadas pela cidade guatemalteca de Sayaxché. Esse número é quase sete vezes maior do que os 2.700 ovos coletados no mesmo período pelas armadilhas tradicionais — feitas com baldes cheios de água — também instaladas na região.

Durante o período de estudo, o governo da região não anunciou nenhum novo caso de dengue, um fato incrível para uma comunidade que costuma registrar entre 20 e 40 casos por mês. Os pesquisadores não sabem se essa queda está relacionada às armadilhas, mas esse é, sem dúvida, um bom sinal.

A armadilha, conhecida como ovillanta, pendurada em uma parede. Crédito: Daniel Pinelo

O plano agora é expandir a iniciativa. O próximo passo é repetir os resultados do estudo em diferentes comunidades da região, disse Gerardo Ulibarri, líder da pesquisa e professor da Universidade Laurenciana, à Motherboard por email. “Estou dando essa tecnologia para o mundo”, diz ele. “Quem quiser usar essas armadilhas para proteger sua família pode adaptá-las para sua região.”

Para tanto, Ulibarri e sua equipe divulgaram o design da armadilha na internet, disponibilizando-a para qualquer um que queira utilizá-la.

Os pesquisadores esperam que essa armadilha barata e simples ajude essas comunidades a se defenderem dos mosquitos. Para aqueles expostos aozika, à dengue e a outras doenças semelhantes, essa é uma grande prioridade.

Tradução: Ananda Pieratti