Matéria originalmente publicada na VICE Canadá.
Conheci o Jeremy três anos atrás. Ouvi ele falar sobre seu tempo na escola, e imediatamente achei que ele era norte-americano por dizer “quarta série” em vez de “quarto ano”, e começamos a conversar e desenvolver uma amizade. Ele era inteligente, se vestia bem, mas estava sempre sozinho. Eu achava que era porque ele era maduro e independente, e tinha chegado naquele ponto da vida, no meio dos 30 anos, onde você está em trânsito, deixando para trás conhecidos da balada e colegas de trabalho, tentando encontrar amizades mais sólidas, aquelas que esperamos que durem até nossos anos dourados.
Videos by VICE
Ele era o tipo de pessoa que você dificilmente encontra nos cenários sociais noturnos. Como regra, se você está numa grande reunião ou festa depois da meia-noite em Vancouver, você geralmente está cercado por mal ajustados. Jeremy sempre me pareceu bem ajustado, talvez até demais. Suas maneiras e comportamento eram sempre impecáveis, mas nunca pareciam açucarados. Recentemente, depois que eu e alguns amigos comemoramos o aniversário de 40 anos dele, comecei a notar um tom mais sanguíneo dele durante nossas conversas, e ele compartilhou um detalhe incrivelmente íntimo comigo: ele tinha 40 anos e nunca tinha feito sexo.
Choque não foi realmente minha reação, ou sentir que tinha que fazer disso uma notícia. De maneira interessante, também não senti pena. Imediatamente minha personalidade curiosa tomou conta, e ele me deixou enchê-lo de perguntas. As emoções de Jeremy durante nossa conversa eram um amálgama de niilismo, tristeza e humor. Achei difícil sentir empatia, mesmo também tendo desabrochado tarde. (A idade média para perder a virgindade no Canadá e EUA é por volta dos 18 anos, segundo uma pesquisa da camisinha Durex de 2016.) Agora ele tem o dobro da idade que eu tinha quando comecei a fazer sexo, e em certo nível temi que ele não fosse só dois virgens de 20 anos um em cima do outro, mas alguém que viveu uma vida compartimentada de frustração; exponencialmente alienado, deprimido e sexual e emocionalmente frustrado.
Dito isso, falando com ele, me pareceu que ele sente que vai começar de novo aos 40, que talvez o otimista nele sinta que pode iniciar uma vida sexual da perspectiva de um homem de 40 anos, em vez de se afogar nos melodramas que geralmente cercam as pessoas quando elas iniciam suas experiências sexuais. Por outro lado, claro, esse albatroz na sala pode ser um lugar sombrio para o Jeremy, mas também é um testemunho do seu caráter e convicção, de que ele é esperançoso, proativo e se recusa a viver seus dias em confisco sexual.
VICE: Quantas pessoas sabem sobre a sua situação? O que elas dizem sobre isso?
Jeremy: Pouca gente sabe. Acho que minha família pode ter suas suspeitas, mas ninguém nunca falou comigo sobre isso. Me agarro a esse segredo há anos. Mas recentemente fui para casa com uma mulher que conheci num clube e, bêbado, contei pra ela. Mas como estávamos muito bêbados naquele dia, não sei dizer direito qual foi a reação dela. Posso te dizer que ela parecia surpresa, mas só. Acho que contei para um total de quatro pessoas: aquela mulher, um amigo próximo uma década atrás, meu endocrinologista e agora você, e quem estiver lendo. O amigo para quem contei anos atrás ficou preocupado, e até sugeriu um terapeuta sexual se sexo não acontecesse em breve.
Alguém já se ofereceu para te ajudar a perder a virgindade, por amizade ou compaixão?
Não, isso nunca aconteceu comigo. Como não contei para muita gente, mesmo meus amigos mais próximos, essa nunca foi uma opção para mim.
Você já considerou contratar alguém para tirar essa questão do caminho? Há muitas opções de trabalho sexual hoje, de uma experiência de namorada até algo mais rápido e clássico. E não é tão tabu quanto já foi.
Quando era mais jovem, nunca esperei que eu tivesse que considerar trabalho sexual ou favor sexual como opção para mim. Achei que ia acontecer quando tivesse que acontecer. Na minha cabeça, pensei ingenuamente que conheceria alguém com quem eu pudesse compartilhar essa experiência. Eu só esperava que quando acontecesse pela primeira vez, seria com alguém de quem eu gostasse, ou talvez mais grosseiramente, depois de conhecer alguém num clube. Sinto que essas experiências de vida soam tão simples quando digo, e sei que foi assim que aconteceu para muita gente, mas nunca aconteceu comigo.
A ideia de nunca transar não parecia particularmente assustadora quando eu tinha 20 e poucos anos. Mas agora que tenho 40 parece, num nível particularmente emocional; é uma grande questão para mim. Quando a questão se tornou assustadora, eu achava que não podia usar trabalho sexual. Eu via usar trabalho sexual não como tabu, mas como o “jeito mais fácil”. Se eu usasse trabalho sexual, eu sentia como se tivesse jogado a toalha da ideia antiquada de conhecer alguém com quem compartilhar essa experiência. Na minha cabeça – você notou que fico muito dentro da minha própria cabeça – eu sentia que era anormal ou uma abominação. Eu sentia que considerar usar trabalho sexual seria mais uma abominação.
Mas é uma ideia a que você está aberto agora? E é um obstáculo que você não saiba por onde começar?
Eu diria que sim. Agora estou aberto a essa ideia, mas não sei por onde começar realmente.
Com o que você está mais curioso? Com o sexo em si ou o que pode vir com ele?
Como um virgem de qualquer idade, acredito que sexo é algo com que todo mundo tem curiosidade. Admito que, como alguém de 40 anos virgem, o sexo paira pesado sobre mim. Sinto que sou inteligente o suficiente para saber que sexo, sexo real, não é como no pornô. Sei que vira uma bagunça em muitos níveis. Como estou desabrochando tão tarde, tenho medo de não conseguir acompanhar o resto das pessoas. Tenho medo que, como estou começando tão tarde, sempre serei ruim nisso e sempre vou desapontar minha parceira. Tenho medo de virar uma piada. Mas o conceito do que vem com o sexo, especialmente o componente de um relacionamento adulto, é o que mais me deixa curioso. Sendo alguém que nunca teve uma namorada, nunca experimentei os altos e baixos de estar num relacionamento adulto. Fico mais curioso com a intimidade sexual e emocionalmente com uma mulher.
Você tem uma condição rara que prejudicou sua puberdade e desejo sexual, certo?
Tenho uma condição chamada pan-hipopituitarismo idiopático. Tenho desde que nasci, mas fui diagnosticado com quatro ou cinco anos, quando meus pais perceberam que eu não estava crescendo na velocidade que deveria. Como a condição afeta todos os meus hormônios pituitários, tenho uma deficiência de hormônio de crescimento. Também tenho uma deficiência nas glândulas da tireoide e adrenal. Por isso eu tinha que tomar suplementos desse hormônios e injeções de testosterona, porque não consigo produzir testosterona. A condição me faz parecer muito mais jovem. Na verdade, só comecei a me barbear aos 30 e poucos anos. Isso também afeta meu desejo sexual. Sendo completamente honesto, tenho muito orgulho de me barbear. Até comemoro o dia que comecei, meu “aniversário de barba”. Também tenho muito orgulho de conseguir ter ereções agora. O suplemento de hormônio sexual me faz sentir sexualmente presente. Por anos, eu não me sentia nada sexual.
Presumo que você se masturba. Você também só começou a se masturbar na faixa dos 30 anos?
Sim, me masturbo. Mas não me lembro quantos anos tinha quando comecei. Acho que foi entre os 20 e 30. Mas foi só no começo dos 30, quando minha dose de testosterona aumentou, que pude encontrar algo similar a uma conclusão. E mesmo assim, não gozo necessariamente.
Quão perto você chegou de transar, e você tem algum arrependimento sobre esses momentos?
Tive dois momentos em que acredito que cheguei perto de fazer sexo. A primeira vez foi com uma mulher cinco ou sete anos mais velha, que conheci pela internet. Eu tinha 20 e poucos. Ela morava em Portland mas veio para Vancouver num final de semana. Foi a primeira mulher com quem tive intimidade na vida. Não contei a ela que era virgem, mas ela sabia sobre minha condição médica e suspeito que juntou os pontos. Estar com ela foi o mais perto que cheguei de transar. Dormimos juntos algumas noites e na última, havia confiança suficiente entre nós para ela me deixar ajudar a masturbá-la. Mas por causa da minha condição médica, eu não tinha realmente desejo sexual na época, então não tive uma ereção. Depois que ela voltou para a cidade dela, fomos conversando cada vez menos, e finalmente perdemos contato.
A segunda vez foi no começo dos 30, quando outra mulher de fora da cidade que conheci online veio para Vancouver. Mas dessa vez foi diferente porque percebi que não havia química entre nós. Senti que éramos muito diferentes. Talvez ela tenha gostado mais de mim do que eu dela, e na última noite dormimos juntos. Eu nunca disse a ela que era virgem, que eu me lembre, mas de novo, acho que ela sabia que, por causa da minha condição, eu tinha um problema com meu desejo sexual. A segunda vez não chegou tão perto quanto a primeira, mas nos pegamos bastante. E de novo, depois que ela foi embora, fomos conversando menos e menos até perder contato. Não estou fazendo exceções para mim por causa da minha virgindade ou da minha condição.
Me arrependo de ter perdido contato com elas. Eram duas mulheres incríveis que confiaram em mim e obviamente estavam confortáveis comigo. Sei que eu podia ter me comunicado melhor com minhas parceiras. Eu podia não ter muita experiência, falando sexualmente, mas sabia me comunicar melhor com elas. Quanto a arrependimentos, sempre vou me arrepender por oportunidades perdidas. Sinto que perdi muitas. E penso muito nisso. Me pergunto, se eu fosse uma pessoa diferente, se não fosse tão tímido com esse tipo de coisa, será que eu já teria encontrado alguém? Se eu não fosse tão sério, eu já teria transado casualmente com alguém? Me arrependo de não contar isso para as pessoas, especialmente meus amigos. Acho que o que estou dizendo é que me arrependo de muita coisa, mas meu maior arrependimento é ter cozinhado isso tanto tempo na minha cabeça.
Talvez não por coincidência, você conheceu essas duas mulheres online. Quanto tempo você já passou em sites de namoro, e você acha mais fácil abordar sua virgindade com conexões feitas pela internet do que na vida real?
Sempre achei que passo uma primeira impressão muito ruim, especialmente com mulheres. Não que flertar online tenha dado muito certo para mim, mas estou em sites de namoro ou em aplicativos por mais de uma década, começando com o OkCupid. Com a coisa online, sinto que posso deixar meu cérebro fazer o trabalho. Tenho tempo para responder, para ser engraçado. Não sou uma pessoa muito espontânea, então sites e aplicativos me dão o luxo de tirar um tempo para comentar ou responder, o que significa muito para mim. E também tem um nível de anonimato na internet. Acho que é por causa desse anonimato que me sinto mais confortável para me abrir sobre a minha virgindade.
Qual o papel da sua vida social nisso? Você tinha muitos amigos quando era mais novo?
Minha família mudava muito. Apesar de ter nascido aqui, minha família se mudou para os EUA quando eu era criança e mudou várias vezes de cidade lá. Quando tinha cinco ou seis anos, eu era sempre o garoto sentado sozinho na escola. Depois da segunda mudança que me lembro, tentei não fazer amigos porque sabia que mudaria de novo e não os veria mais. Com 19, morei em cinco estados e no exterior. Foi só no final dos 20 que comecei a formar amizades adultas.
Desabrochei para tudo muito tarde na vida, e isso inclui em ser um bom amigo que sabe que pode ser vulnerável na frente dos amigos. Foi só recentemente que descobri que há mais camadas em ter um círculo de amigos. É preciso muito para confiar em alguém, é preciso ainda mais para eu me revelar para alguém. Sempre tive medo que as pessoas não quisessem andar comigo ou até falar comigo se conhecessem quem realmente sou. Mas agora tenho consciência disso e estou tentando ser um amigo melhor para as pessoas que amo. Quero ser um amigo de confiança. Quero poder apoiar meus amigos os ouvindo e torcendo por eles. Mas para ser esse amigo, entendo que também preciso confiar em mim mesmo.
Você já recebeu alguma ração negativa ou cruel quando compartilhou essa informação com amigos ou amantes em potencial, ou o medo se baseia nos seus nervos mais do que em experiência?
Nunca recebi nenhuma reação negativa ou cruel compartilhando essa informação. As pessoas para quem contem ou não acreditam ou são muito compreensivas. Só levo muito tempo para confiar em alguém e contar sobre a minha situação. Mas sempre tive medo, mesmo com meus amigos mais próximos, de ser ostracizado ou virar uma piada para eles. Como todo mundo, não quero que pensem menos de mim. Só quero me sentir normal, não uma abominação ou estatística rara. Mesmo nunca tendo ouvido reações negativas ou cruéis quando compartilho essa informação com as pessoas, ainda tenho medo do que elas podem pensar de mim. Não sei necessariamente como é intimidade, mesmo entre amigos. É difícil para mim me revelar porque sempre tive esse medo de que quando fizesse isso, amigos não iam mais querer conviver ou falar comigo. Sei que é um medo irracional, e sinto que reconhecer isso me ajuda. Estou tentando mudar isso em mim.
Você se preocupa que a sua primeira vez seja ruim, como é para a maioria? Você também se preocupa com como pode ser o resto da noite? Dizem que você sempre se apaixona pela primeira pessoa com quem faz sexo, e isso muitas vezes acaba em sofrimento. Você acha que sua idade e experiência de vida podem te ajudar a lidar com isso, já que você não tem a visão de mundo de um adolescente?
Cara, eu sei que a primeira vez vai ser horrível. Sei que as pessoas dizem que a primeira vez nunca é como você espera. Fico muito emocionalmente investido em situações e pessoas que gosto, então sim, tenho medo de me apaixonar pela primeira pessoa com quem transar. Por outro lado, também sinto que, como sou maduro, acho que vou poder me desviar desse investimento emocional.
O sexo é quase onipresente na cultura. Você acha perturbador ter que se identificar com tudo isso?
Com certeza. Acho frustrante, deprimente e parte meu coração não conseguir me identificar com isso. Posso não ter a experiência que todo mundo mais jovem que eu tem, mas sei como deveria me sentir quando gosto de alguém. E, falando sexualmente, também sei como é se sentir fisicamente atraído por alguém. Mas ouvir histórias sobre namoros, músicas sobre sexo e amor, ou até ler sobre isso, sempre me faz sentir anormal como ser humano.
Fazer 40 anos foi uma marca frustrante para você? Você sente que tem mais peso estar na sua quinta década e ser virgem do que há um ano atrás?
Quando era mais jovem, eu tinha essa ideia de que aos 40 já teria tido algumas namoradas e estaria casado ou separado. Parece o normal, né? Sinto que comédias e séries românticas foderam comigo, porque sempre senti que teria as mesmas experiências. Ver uma mulher entrar na sala e me apaixonar por ela. Mesmo as brigas. A vida não é assim, e reconheço que isso não é realista. O que não me impede de esperar sentir uma atração mútua por alguém e perder minha virgindade.
Sinto que, aos 40, estou mais ciente de ser uma raridade estatística. Mas também estou tentando me amar mais. Percebi que a combinação da minha condição médica e mudar tanto criou tipo uma tempestade perfeita, que inclui questões de baixa autoestima, falta de confiança e muita inexperiência social. Sinto que estou melhorando em navegar por essa tempestade. Grande parte disso é reconhecer que não posso me castigar por situações de que não tinha controle na minha vida. Não estou dizendo que sou infeliz o tempo todo. Tenho um trabalho de que gosto, sou próximo da minha família e passo tempo com amigos que adoro. Mas de tempos em tempos, me sinto completamente alienado do resto da humanidade por causa da minha virgindade e inexperiência social.
Siga o Trevor Risk no Twitter .