Agora que qualquer um com meia hora livre e um pouco de habilidade para pesquisar no Google pode conseguir o Ableton, o Fruity Loops ou qualquer uma das muitas DAW (Digital Audio Workstations) disponíveis na internet, uma onda crescente de aventureiros vêm invadindo o território da produção musical direto de seus quartos. Fazer música é uma coisa (relativamente fácil hoje em dia), mas fazê-la chegar às pessoas certas é o que importa, mais do que nunca.
As comunidades virtuais de música não são nenhuma novidade. Compartilhar ideias e ferramentas musicais tem sido um método de distribuição e discussão desde que os primeiros fóruns rastejaram para fora do pântano primordial do hiperespaço, mas a crew internacional de club music Classical Trax está fazendo algo novo. Com uma abordagem positiva e familiar, o coletivo — formado por produtores, DJs, donos de selos, jornalistas e além — foca-se em novos talentos e, mais importante, em construir relacionamentos e na apreciação musical. É mais um espaço para compartilhar do que para se promover. Derrubar as barreiras entre novatos e veteranos, assim como os limites regionais e geográficos, é o objetivo.
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A Classical Trax, pelo menos em teoria, é baseada na ideia de “club music”, um termo nebuloso que incorpora tudo, do Baltimore club aos screamers de Jersey, do grime instrumental à leveza do ambient. Os produtores e seletores envolvidos estão super conscientes do passado, presente e futuro da club music em todas as suas formas. Tarquin, um produtor contratado pelo selo Gobstopper, do Mr. Mitch, nos disse: “De longe, a melhor coisa a respeito da Classical Trax tem sido descobrir música de todo o mundo”. Essa ideia de interconectividade e comunidade é essencial para entender a abordagem da Classical Trax. Nada está fora dos limites aqui.
O coletivo se orgulha de apoiar e dar oportunidades a produtores e artistas que não têm um grande número de seguidores, assim como aqueles que chamaram um pouco mais de atenção da crítica. Entre os seus membros, reúne nomes como o crew Lazerpiff, a DJ Amy Becker (que há pouco apareceu no programa Overdrive Infinity, do Teki Latex), o grupo norueguês Rytmeklubben e os caras do selo Crazylegs. A Classical Trax é uma plataforma notória para uma enorme e variada quantidade de talentos.
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Falei com o homem por trás do movimento, Matt Lutz, vulgo DJ Rueckert. Lutz é da Pensilvânia, que para ser sincero, não é o primeiro lugar em que penso quando penso em club music. Envolvido durante muito tempo com a club music através de plataformas online, como o Hollerboard e o Dubstepforum, ele afirma que sentiu que algo estava faltando nas atuais comunidades de música: “Só queria um novo jeito de promover uma nova maneira de curtir dance/club music, e de fazê-lo de forma positiva”. Ele também disse em uma entrevista anterior: “Nada era positivo. Revistas e sites, de modo geral, não fazem um bom trabalho cobrindo os peixes pequenos”. Matt ofereceu a Classical Trax para uma publicação em que trabalhava, eles gostaram da ideia, então decidiu ir em frente e criá-la. Agora, com um grande número de seguidores, além do reconhecimento de nomes como o Plastician, as coisas parecem ir bem para o coletivo.
Cada vez mais jovens produtores são atraídos para a plataforma, que incentiva e promove o seu trabalho, levando-o a mentes parecidas ao redor do mundo (e que alega ter ajudado a conquistar novos seguidores para os produtores Blastah e Moslem Priest, da Tuff Wax). Lutz me diz: “Jovens produtores e DJs (assim como jornalistas e fãs) são a única finalidade deste grupo. Se pudermos ajudar a alavancar esses artistas de todos os cantos do mundo e dar a eles um espaço que normalmente eles não teriam, então estamos cumprindo nossa missão”.
Seja para dicas de produção, faixas exclusivas ou mesmo organizar um encontro entre produtores da mesma cidade, é uma comunidade que se orgulha de manter uma atitude tipo “ei, estamos todos juntos nessa, vamos nos ajudar”. A Classical Trax frequentemente lança trabalhos de seus membros. Além de fazer o upload de podcasts e mixes regulares de DJs, eles seguidamente organizam competições de remix nas quais os membros criam um remix da mesma faixa dentro de qualquer gênero que preferirem. Exemplos incluem “Dance My Pain Away”, do Rod Lee, e uma série de edits do Lil B, que depois são lançados no Soundcloud deles com download grátis. Lutz muito gentilmente fez essa mix para nós, exclusivamente para esta matéria. Esse é o tanto que a Classical Trax é atenciosa e generosa. Confira a mix abaixo:
Os membros são escondidos do público em geral em um grupo secreto do Facebook, mas Matt se coloca à disposição para que as pessoas entrem em contato com ele. Ele fala sobre o processo de seleção para o grupo: “Bem, no início eu só escolhia amigos, pessoas de quem eu gostava e/ou respeitava, mas infelizmente, algumas pessoas que adicionamos foram grosseiras e não apoiavam o movimento, então, depois disso, tive que ficar esperto. Agora escolho a dedo as pessoas, a menos que alguém recomende outro alguém”. O grupo tem cerca de 800 membros, então não surpreende que existam muito talentos ali.
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A Classical Trax planeja expandir o seu alcance com um novo site e blog, assim como uma loja virtual com mais mercadorias para as pessoas apoiarem o movimento. Matt diz que vai “explorar outros territórios”, que ele diz serem segredo por enquanto. Ele garante que vai continuar lançando os trabalhos dos membros, que as coisas vão continuar a crescer e, mais importante, que a positividade continuará sendo fundamental no projeto. Dada a crescente visibilidade da Classical Trax nos últimos meses, não surpreende que os seus habitantes estejam na vanguarda da club music contemporânea. Que seja longo o seu reinado.
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Tradução: Fernanda Botta