Meio Ambiente

Conheça o inimigo: os 5 maiores emissores de gases-estufa do mundo

protest clima

A crise climática está inspirando pessoas comuns a fazer esforços extraordinários. Seus amigos, tias, seus professores de matemática da escola – todo mundo está sendo preso, matando aula, comendo de latas de lixo e jurando não ter filhos, tudo na esperança de evitar que a humanidade morra em secas terríveis, guerras por água ou num enorme desastre natural.

Mas outros indivíduos estão fazendo o contrário. Gigantes dos combustíveis fósseis continuam a intensificar suas atividades, apesar de saberem muito bem os efeitos que seus produtos estão tendo no nosso frágil meio ambiente.

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Apenas 100 companhias são responsáveis por 71% das emissões industriais de gases-estufa no mundo desde 1988, segundo um relatório de 2017 da Carbon Disclosure Project (CDP). Entre elas, 25 corporações e estatais correspondem a mais de metade das emissões de gases-estufa globais no mundo. O CDP diz que a escala das emissões históricas associadas com essas empresas é grande o suficiente para ter contribuído significativamente para as mudanças climáticas.

Mas de quem exatamente é a culpa? Apesar dos CEOs poderem não ser pessoalmente responsáveis por década de danos, eles estão numa posição desfavorável porque, como com qualquer patrão, o dinheiro fica com eles. No final das contas, eles precisam ser responsabilizados se vamos fazer esforços tangíveis para preservar a Terra. Reconhecer os cinco maiores poluidores do mundo é um bom começo.

Os números desta matéria foram tirados do relatório de 2017 do CDP e são os mais atuais disponíveis agora. Entramos em contato com os autores do relatório, que dizem estar trabalhando em novas estatísticas, mas que nossa lista continua correta em termos de ranqueamento.

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Darren Woods encontrando o premier chinês Li Keqiang em 2018. Foto: Liu Weibing / Xinhua / Alamy Live News

5: ExxonMobil Corp

Percentagem de emissões de gases-estufa: 1,98%

CEO e presidente: Darren Woods

A ExxonMobil é a única firma propriedade de investidor no topo dos cinco maiores poluidores globais, e a empresa petroleira mais antiga do mundo. Darren Woods se tornou o chefe no começo de 2017 após 24 anos na companhia.

Woods apoia o Acordo de Paris e escreveu pessoalmente uma carta para Trump pedindo que ele mantivesse os EUA no acordo climático. Mas, como alegado por um relatório do InfluenceMap do começo do ano, a ExxonMobil gasta US$ 41 milhões por ano fazendo lobby para bloquear políticas de mudanças climáticas.

A companhia está enfrentando um processo, aberto pela promotoria geral de Nova York ano passado, por alegações de ter enganado investidores sobre os riscos que as mudanças climáticas representam para os ativos da firma. A ação legal foi acompanhada de uma investigação de três anos e se centra no uso da ExxonMobil de “custos de proxy” para carbono para explicar os possíveis problemas econômicos de futuras regulamentações de mudanças climáticas. O processo alega que a companhia nem sempre aplicou os custos de proxy corretos publicamente, usando um custo de proxy mais baixo, não revelado ou nenhum.

A ExxonMobil chamou o processo de “sem mérito” e as alegações de “sem base” na época.

Um porta-voz disse a VICE: “Por muitos anos, a ExxonMobil vem aplicando um custo de proxy para carbono a suas oportunidades de investimento, quando apropriado, para antecipar o impacto financeiro agregado de futuras políticas governamentais em potencial. As declarações externas da ExxonMobil descreveram apropriadamente seu uso de custos de proxy para carbono, e o documento produzido pela promotoria geral tornou essa fato claro”.

Um julgamento deve começar em Manhattan mês que vem.

Enquanto isso, Woods falou sobre a importância de envolvimento e discussão, mas não participou da audiência no Parlamento Europeu sobre negação das mudanças climáticas em março. Mas o Parlamento da União Europeia decidiu contra a remoção dos distintivos de lobby da ExxonMobil, dizendo que a fima não tinha sido formalmente convidada para participar da audiência.

Um porta-voz da ExxonMobil disse: “Rejeitamos as teorias há tempos desacreditadas que tentam retratar observações científicas legítimas e diferenças em abordagens políticas como negação climática. Qualquer uma dessas alegações é refutada por documentos, que incluem a história de quase 40 anos da ExxonMobil de pesquisas de clima conduzidas publicamente em conjunto com o Departamento de Energia, acadêmicos e o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

“Descontinuamos o financiamento de vários grupos quando eles tomaram posições extremas que distraíam da importante discussão sobre políticas climáticas e/ou não apoiadas pela ciência. O risco das mudanças climáticas é claro e exige ação. Acreditamos que será necessário todos nós – negócios, governo e indivíduos – para fazer progresso significativo e queremos ser parte da solução. Desde 2000, investimos US$ 10 bilhões em tecnologias de baixa emissão como captura de carbono e biocombustível de alga.”

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Masoud Karbasian. Foto: ITAR-TASS News Agency / Alamy Stock Photo

4: Companhia Nacional Iraniana de Petróleo

Percentagem de emissão global de gases-estufa: 2,28%

CEO: Masoud Karbasian

Um empreendimento estatal, a Companhia Nacional Iraniana de Petróleo é a segunda maior companhia de petróleo do mundo. A firma é capaz de produzir mais de 7 milhões de barris de petróleo cru e 750 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia.

Masoud Karbasian foi indicado como CEO da NIOC em novembro de 2018, assumindo a empresa quando a administração Trump introduziu um embargo de petróleo no Irã. Anteriormente ele atuou como ministro das finanças do Irã, até ser impichado pelo parlamento em agosto passado por não responder adequadamente ao impacto das sanções econômicas dos EUA, imposto sobre o programa nuclear iraniano.

Há poucas menções a mudanças climáticas, responsabilidade ambiental e emissões no site da NIOC. Mas Karbasian disse que proteção ambiental é “um tipo de responsabilidade inerente na ética, cultura e crenças” de sua fima em junho deste ano. Ele destacou planos de limitar danos ambientais, incluindo priorizar prevenção sobre atividades de reforma. O Irã assinou mas não ratificou o Acordo de Paris.

A empresa não respondeu nossos pedidos de comentário.

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Alexey Miller. Foto: Pluto / Alamy Stock Photo

3: Gazprom OAO

Porcentagem de emissões globais de gases-estufa: 3,91%

CEO: Alexey Miller

A firma de gás natural controlada pelo Kremlin Gazprom é a empresa de capital aberto mais valiosa da Rússia. Alexey Miller é o presidente de seu comitê de gerenciamento desde 2001. Antes disso, ele foi vice-ministro de energia da Rússia.

Sob supervisão dele, a Gazprom se tornou a primeira empresa a tirar petróleo da plataforma do Ártico no campo de Prirazlomnoye, que supostamente contém mais de 70 milhões de toneladas de petróleo, em dezembro de 2013. Planos para um gasoduto gigante pela Europa também estão se desenrolando. O gasoduto Nord Stream 2 deve ir da Rússia até a Alemanha, mas críticos, incluindo o primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson, o presidente americano Donald Trump e o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk, condenaram o projeto como “divisivo”, tornar a “Alemanha refém da Rússia” e “negativo”, respectivamente.

Ano passado, Miller foi incluído na lista de sanções dos EUA – algo de que ele disse ter orgulho. As sanções foram pensadas para penalizar figuras russas por várias atividades, incluindo suposta interferência em eleições.

A Gazprom agora é a primeira empresa de petróleo e gás da Rússia a desenvolver uma política ambiental, e seu site diz que ela “toma medidas apropriadas para melhorar continuamente sua performance ambiental”, estabelecendo alvos ambientais corporativos e dando treinamento relevante aos funcionários.

A Gazprom OAO não respondeu nossos pedidos de comentário.

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Amin H Nasser. Foto: ITAR-TASS News Agency / Alamy Stock Photo

2: Saudi Aramco

Porcentagem global de emissões de gases-estufa: 4,50%

CEO: Amin H Nasser

A estatal saudita Aramco é a empresa mais lucrativa do mundo e a maior emissora de gases-estufa do setor de combustível fóssil. A firma diz que petróleo e gás continuarão sendo necessários para atender as demandas globais de energia porque, segundo Nasser, “alternativas não estarão prontas para sustentar o fardo de fornecer energia adequada e barata por algum tempo”.

Planos para uma listagem de US$ 2 trilhões na bolsa para a gigante petroleira recentemente foram revividos. A oferta pública inicial, que o Príncipe Coroado Mohammed bin Salman diz que vai acontecer em 2021, deve ser a maior do mundo.

Nasser se tornou CEO da Aramco em 2015 depois de 33 anos na firma. Ele começou a trabalhar como engenheiro no departamento de produção de petróleo. Ele é formado em engenharia petroleira pela King Fahd University of Petroleum and Minerals em Dhahran.

Nasser já falou sobre o compromisso da firma em reduzir emissões de gases-estufa e prometeu financiar tecnologias que “criam vantagens ambientais significativas”.

A Aramco não respondeu nossos pedidos de comentário.

1: China (carvão)

Porcentagem de emissões globais de gases-estufa: 14,32%

CEO: O Estado

A China, onde emissões de carvão são representadas pelo estado e a produção é dividida em vários grupos industriais estatais, é a maior produtora e consumidora de carvão do mundo. O país também é o maior emissor de gases-estufa, e a poluição do ar causa 1,6 milhão de mortes prematuras no país todo ano, segundo um relatório do Health Effects Institute dos EUA.

A China assinou o Protocolo de Quioto em 1998 – mas ficou isenta das metas de redução de emissões – e ratificou o Acordo Climático de Paris em 2016. Surpreendentemente, a nação atingiu seu alvo de emissão de carbono de 2020 três anos antes, quando cortou emissões de dióxido de carbono por unidade de PIB em 46% dos níveis de 2005 no final de 2017.

Mas a produção de carvão da China aumentou 2,6% para 1,76 bilhão de toneladas na primeira metade deste ano, e aprovações de novos projetos de mineração de carvão aumentaram cinco vezes no mesmo período. Fotos de satélite também parece mostrar que construções suspensas recomeçaram em usinas alimentadas por carvão ano passado – uma ação indicativa de sua suposta crença de que a produção e consumo de carvão podem aumentar junto com a redução de emissões.

A capacidade queima de carvão do país deve continuar a crescer até atingir o pico em 2030.

@emilysgoddard

Esta matéria é parte do Covering Climate Now, uma colaboração global de mais de 250 canais de notícias para fortalecer a cobertura das mudanças climáticas.

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