Josh recebe o troféu de Trabalhador Sexual do Ano na Erotic Awards de 2011. Todas as fotos cortesia de Josh Brandon.
Londres tem algumas das coisas mais caras do mundo. Lá, você pode gastar US$ 670 mil numa vaga de estacionamento, US$ 200 mil numa garrafa de champanhe, US$ 235 milhões num apartamento ou US$ 50 numa poltrona de cinema. Mas, se preferir, te apresentamos Josh Brandon, um dos acompanhantes mais caros do ramo. Ao que tudo indica, ele tem tirado uns US$ 500 mil por ano. Uma única noite com ele custa uns US$ 7 mil – quase duas vezes o salário mensal médio de um trabalhador comum no Reino Unido.
Videos by VICE
Josh vem causando rebuliço na indústria do sexo não apenas pelo valor do programa, mas também porque passou a liderar uma campanha para legitimar a profissão mais antiga do mundo. Ele diz que já passou da hora de dar um basta no preconceito contra os trabalhadores sexuais, caras que devem ser vistos como membros produtivos da sociedade, como de fato o são. Fui atrás dele por causa desse papo e acabei descobrindo o império que está se erguendo sob o nome de Josh.
VICE: OK, vamos esclarecer as coisas. Ouvi dizer que você faz US$ 500 mil líquido por ano como acompanhante. Isso é verdade?
Josh Brandon: Você já vai perguntar isso! Bom, minha restituição de fim de ano deve estar pra sair, e eu não estou com um pingo de vontade de preencher a papelada tão cedo. Vamos dizer que meu nome não vai aparecer na lista dos mais ricos da Forbes, mas também não vou falir tão cedo.
Como você ganha tanto? Você faz alguma coisa que os outros acompanhantes não fazem?
É fácil ganhar mais quando você ama o que faz. Acho que todo mundo que gosta do seu emprego faz muito mais dinheiro do que pessoas que pensam: “Merda, tenho que ir pro trabalho de novo”. Além do mais, essa é uma questão de ser criativo. Tenho cartões VIP como o da Starbucks. Então é só uma questão de ser criativo e usar práticas normais de negócio. Assim, o dinheiro vem.
Qual o limite que você impõe para os pedidos extremos dos clientes? Ou tudo se resolve pondo um preço?
Coisas como fluidos corporais e bondage recebem um não. Estar no controle é muito importante. Qualquer coisa que não seja segura está fora do cardápio, independente do preço.
Você prefere o termo “acompanhante” a “trabalhador sexual”. E você também acha que a expressão “prostituição” está datada. Por quê?
“Prostituição” é tão século passado. O negócio mudou muito desde o advento da internet. O termo “acompanhante” cobre muito mais áreas. Por exemplo, sexo acontece, mas nem sempre precisa acontecer. Tenho clientes com deficiência que só podem abraçar e conversar. Tenho clientes que querem companhia de maneiras não sexuais. E muitos acompanhantes hoje são verdadeiros empreendedores. Se alguém discorda disso, eu digo: “Por quê? Este é um país capitalista, não? Tudo bem vender qualquer coisa, menos sexo e companhia? Isso é bizarro!”
Nos EUA, muitos fundamentalistas cristãos te rotulariam de “bizarro” por ser michê. O que você diria para pessoas que fazem esse tipo de julgamento?
Sou uma pessoa muito espiritual, acredite ou não. Mas não acredito no dogma. Mantenho as coisas simples. O universo tem leis. Ele está sempre se expandindo, crescendo: tudo está em constante estado de transformação. Devo amar todas as coisas igualmente se isso criou tudo, e a criação é feita com amor. Não acho que seja possível criar do ódio.
Josh em Miami.
Você se sente estigmatizado pela sociedade, como acompanhante masculino, mais do que suas colegas do sexo feminino?
Ah, confie em mim, ainda recebo ameaças de morte ocasionais. Mas é muito mais fácil para os homens na minha linha de trabalho. Entre os caras bissexuais com quem já saí, muitos disseram que nunca namorariam uma mulher que faz o que faço, mas ainda assim saíam comigo. Quando eles se explicavam, isso sempre caía no puro sexismo.
Você compara o trabalho de um profissional do sexo com o de um psicólogo. O que você aprendeu da psique humana com seus clientes?
Como acompanhante gay, algo que me abriu os olhos foi ver como muitas pessoas acreditam que se “encaixar” é mais importante que buscar a felicidade pessoal. Vários clientes têm muitos sentimentos e desejos reprimidos – e não são apenas os clientes mais velhos. Fico impressionado ao ver quantos caras de 18 a 25 anos ainda acreditam que “precisam” se casar, mesmo não querendo. Fica muito evidente também como nacionalidade e raça afetam essas crenças. Muitos clientes trazem experiências sexuais primordiais que precisam reviver e sentimentos sobre os quais nunca falaram com ninguém.
Josh em Nova York.
Você sente que ajudou alguma dessas pessoas de maneira mais profunda?
Um cliente de Nova York com quem me encontrei semanalmente por alguns meses, por exemplo. O efeito que a experiência teve para ele, que estava questionando tudo, fez com que ele confessasse na última noite que a vida tinha mudado por causa dos nossos encontros. Ele estava mais feliz. A vida familiar, os negócios, tudo estava melhor. Ele disse que sentia que tinha lidado com coisas que nunca vieram à tona. Tive muitas experiências como essa. São as melhores na minha opinião.
Você promove a legitimidade do trabalho sexual na esperança de que isso diminua o estigma. Que mudanças você gostaria de ver?
É uma questão de criar um ambiente mais seguro. Se ninguém falar sobre sexo em público, isso vai se afundar cada vez mais no submundo, o que apenas torna as coisas mais perigosas para quem é forçado a fazer trabalho sexual contra a própria vontade. Temos de reconhecer que alguns de nós são profissionais e outros não estão nisso por opção – e essas pessoas não devem ser ignoradas.
Josh numa propaganda da NUM.
E isso nos traz à organização de caridade com a qual você trabalha: A National Ugly Mugs (NUM). O que ela faz?
A NUM é muito importante e única. Ela permite que acompanhantes respondam diretamente ao projeto ao se logar na base de dados; assim, outros profissionais podem ser alertados sobre pessoas desonestas. Os acompanhantes podem checar a base de dados e receber alertas por e-mail, mensagem de texto ou pelo aplicativo. O NUM ajuda os profissionais a relatar crimes anonimamente para a polícia. Isso é vital, muitos acompanhantes não reportam crimes, porque acham que a polícia não vai fazer nada – ou até que podem ser presos. Isso acontece, porque ninguém sabe que lugar eles ocupam exatamente no espectro legal. A organização trabalha com as forças policiais do país pelo bem dos trabalhadores sexuais de rua e acompanhantes. É uma decisão inteligente se inscrever no programa e todo mundo devia fazer isso.
Você acha que as trabalhadoras sexuais devem temer por sua segurança mais que os homens do ramo?
Os relatos que chegam ao NUM mostram que homens e mulheres têm a mesma probabilidade de sofrer violência dos clientes. Eu peso, tipo, 50 quilos e tenho uma cintura de 63 centímetros, então acho que estamos no mesmo barco.
Algum conselho sobre como os acompanhantes podem se proteger?
Isso é uma questão de ter a mente forte e confiança para lidar com situações. Seja inteligente todas as vezes: tome medidas como se você já esperasse que alguém fosse ser violento, mesmo se não houver razão para pensar assim. Só marque encontros em hotéis ou na sua casa, com medidas de segurança prontas – como amigos esperando uma ligação sua num certo horário e informações sobre seu paradeiro disponíveis em vários lugares que as pessoas possam acessar.
Se um amigo chegasse para você e dissesse que quer entrar para a indústria do sexo, o que você diria para ele?
Eu costumava aconselhar vários novatos, na verdade recebia mais perguntas do que podia responder. Um cara ignorou tudo que eu disse e se meteu em problemas com drogas e outras coisas, então estou menos disposto a aconselhar depois disso. Mas visite uknswp.org/um e leia tudo, conheça os riscos. Entre nessa como um negócio, respeite os clientes. Se conheça primeiro, conheça seus limites e tenha a cabeça no lugar. Se você está desesperado por dinheiro, não entre nessa. Se drogas são o problema, lide com isso primeiro, porque problemas com drogas são facilmente amplificados nesse ramo. E saiba que apenas 5% das pessoas da indústria realmente ganham muito dinheiro.
Você tem um livro, vários negócios na internet e um projeto de bar de tapas em andamento. Se essas coisas derem certo, você vai sair do ramo de acompanhantes?
Às vezes eu chego num ponto em que não consigo mais encontrar clientes, e isso é irritante porque ainda vejo “Josh Brandon” como meu primeiro negócio e quero que ele continue. Então tenho que aumentar meus preços e trabalhar menos quando os outros negócios ficam mais movimentados. Meu tempo vale mais hoje em dia, mas quando o preço se tornar maior do que os clientes podem pagar, essa vai ser a hora em que vou pendurar minhas chuteiras noturnas.
Obrigado, Josh.
Siga o Michael Grothaus no Twitter.
Tradução: Marina Schnoor