“Coruja para as Artes”, a tua criatividade está debaixo de olho

Começaram a emergir como vultos. Imagens misteriosas que estavam um pouco por toda a cidade de Lisboa, por todo o País, provocando a estranheza e um certo fascínio em quem com elas se cruzava. Até que alguém notou um padrão: este artista ou colectivo partilhava o nome com uma nova cerveja do Grupo Super Bock, Coruja, e nas redes sociais parecia estar em guerra com a marca. Estaria a marca a ser alvo de uma espécie de vandalismo, com os seus cartazes de rua a serem pintados pela calada da noite, ou tudo não passaria de uma manobra de marketing de guerrilha? (Nós também não passámos ao lado da questão).

Muitos foram aqueles que se insurgiram, do fundo da sua esperteza, e tentaram desmontar a coisa. Não porque fossem moralmente contra este tipo de iniciativas, não porque não gostassem do trabalho feito, simplesmente porque queriam mostrar que sabem mais que o comum dos mortais. Que têm olho. E se a Coruja estava “de olho em nós”, eles já tinham topado tudo a léguas.

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Como se fossem uma versão alternativa daqueles fãs de séries que criam teorias sobre o que se passou naquele episódio bizarro em que toda a gente ficou à nora. Menos eles. Aos que acertaram que a acção Coruja era uma activação de marca, parabéns! (A menos que tenhas sido aquele gajo chato que andou a batalhar nas caixas de comentários para que o Mundo abrisse os olhos e visse o que ele tu há muito já tinhas visto. Deixa os outros curtirem a vida, meu!).


Vê: “Mário Belém, a arte urbana a mergulhar na cultura portuguesa

https://youtu.be/N7P-DjDB4rs

A verdade é que esta iniciativa que “enganou” muita gente – já sei que a ti não, já chega! – era afinal uma acção da Super Bock e da Solid Dogma, representada por um colectivo de artistas: The Caver, Contra, Frame, Glam, Kruella, MAR, Mário Belém, Mosaik e Samina. Eles eram o “Coruja” e tinham intervenções de arte urbana disseminadas por paredes de várias cidades do País e, acreditem ou não, a coisa não era simplesmente para promover uma marca de bebida. Não! Tudo isto serviu também para dar o de pontapé de saída – ou o rodar de ignição do carro para aqueles que não gostam de futebol – de uma plataforma de apoio à Arte Pública e Urbana.

Esta coisa de apoio a cenas fixes chama-se PLATAFORMA CORUJA PARA AS ARTES, vai funcionar até 2020 e originar iniciativas que, para além de contarem com estes nove artistas acima mencionados, quer também apoiar muitos outros. Não vendam ainda o vosso carro, há aqui uma luz. Se não conseguirem entrar nestes apoios vendam a viatura só lá para o fim de Outubro, quando deixar de dar para ir à praia. No entretanto, se és artista e estás a precisar de um empurrãozinho, a Coruja tem prémios monetários para promover os novos talentos na arte urbana.


Vê: “Catarina GLAM, a paixão pelas formas, pelos materiais e pelas máquinas

https://youtu.be/aPPDYrsZwK8

Se estás interessado em saber mais sobre a CORUJA PARA AS ARTES, espreita aqui. Entretanto, abaixo podes conhecer melhor os nove artistas que fazem parte do colectivo que marcou o arranque da iniciativa e as corujas que cada um criou.

THE CAVER

É street artist, tatuador, ilustrador, designer gráfico freelancer e iniciou-se no graffiti no ano da Expo 98 – “seu burro, o ano está no nome da coisa!”. É ainda fundador de um colectivo chamado Cabidela Ninjas, que também é uma música dos Acromaníacos. Provavelmente há aqui uma relação. Representa – e bem – a Linha da Azambuja, tendo trabalhos espalhados um pouco por todo o País, sendo um dos mais conhecidos o da Estação de São Bento, no Porto. É capaz de gramar caves!

CONTRA

É possível que tenha sido inspirado pelo clássico jogo de salão de jogos para chegar a este nome tão difícil de encontrar na porcaria do Google. CONTRA é do Porto e fez parte do Colectivo Rua, grupo que co-fundou. Afirma ter raízes em diferentes áreas que vão do graffiti à arte conceptual.

FRAME

É de Leiria e desde muito cedo percebeu que há duas coisas fundamentais na sua vida: desenho e morcela de arroz. Podia ter-se tornado o Cristiano Ronaldo da charcutaria, mas preferiu a arte urbana e descobriu a crew MDK. Andou a dar nas vistas por todo o Mundo, mas agora assentou arraiais em Almada. Faz ilustração e tatuagem. Aposto que de vez em quando vai ao Google Images pesquisar imagens de morcela de arroz.

GLAM

Catarina Monteiro é mais conhecida por Glam. No início do milénio, uma profecia antiga dizia que ia aparecer uma arti… quem é que eu quero enganar? Os gajos não faziam ideia que isto ia durar tanto. Só para aí os Maias é que eram mais positivos em relação ao tempo que o sofrimento – que é esta coisa chamada Planeta Terra – ia durar. Continuamos por cá a pagar as contas.

A Catarina até chegou a formar uma crew só de raparigas, mas não há informação na Internet que confirme que tenham sido elas a salvar o Mundo. Há, no entanto, outras informações mais frequentes sobre o seu trabalho, que o descrevem assim: “Peças multi-dimensionais em papel e madeira, peças de design e personagens para várias marcas, exposições de arte ou festivais internacionais”. A artista diz que vive num caos organizado, talvez porque a porcaria de uma borboleta bateu asas na outra ponta do Planeta.


Vê: “Kruella d’Enfer e um universo fantástico de cor, lendas e criaturas místicas

https://youtu.be/35S4zN1utCU

GONÇALO MAR

Gonçalo MAR, diz que começou a desenhar com giz no alcatrão aos 12 anos, mas não sabemos se fazia daqueles desenhos em que parece que o chão se abre ou assim. De sentido estético desperto e apurado, estudou moda e foi desenhador num estúdio de animação. Foca-se nas personagens e nos ambientes, o que faz com que conte histórias únicas. Verifica por ti.

KRUELLA D’ENFER

Tem um corpo de trabalho variado e tem-se destacado pelo impacto que as suas obras causam em quem as vê, com destaque para a exposição “Existence Without Form”. Na verdade nem sei se teve mais destaque que outras intervenções suas, só me lembro de se falar muito disso e até fui ver. A memória é tramada. Mas, de uma coisa tenho a certeza, tem feito murais enormes, sozinha ou acompanhada e é daqueles nomes que daqui a muitos anos vamos continuar a ouvir falar. Quer dizer, pelo menos se não morrermos entretanto.

MÁRIO BELÉM

Foi para a faculdade tirar arquitectura, mas fartou-se daquilo. Tirou design e… bem, gostou de algumas coisas. Fundou o thestudio mas agora trabalha sozinho e faz um pouco de tudo. Apesar de todo o seu trabalho digital, agora é também conhecido pelos seus enormes murais. Vê mais neste vídeo.

MOSAIK

A ideia de Mosaik é tentar levar o graffiti a sítios onde ele ainda não chegou esteticamente. É tipo um sensei de caligrafia urbana enriquecida, um ninja na sua precisão. Talvez por isso chegue a tanto lado. Isso ou o pai é rico e tem um jacto privado. Quem te dera, Mosaik!

SAMINA

A dada altura colava autocolantes pela cidade um pouco por todo o lado… menos numa caderneta. Auto-didacta, reza a lenda que ficava em casa com o lápis numa mão e uma régua noutra, batendo com a régua sempre que parasse de desenhar. Entretanto, descobriu o stencil e começou a aumentar a sua dimensão, a desenvolver a sua linguagem e a fazer mil coisas ao mesmo tempo: Arte Urbana, Design Gráfico, Pintura e Arquitectura. É o que acontece a quem não passa o dia a queimar tempo na Internet, como tu a leres este artigo!


Sabe mais sobre a PLATAFORMA CORUJA PARA AS ARTES.

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