VICE entrevista: IZA
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VICE entrevista: IZA

O primeiro álbum de IZA chegou e falamos com a artista sobre racismo, representatividade e como é ser uma diva pop negra no Brasil.

A carioca Isabela Lima deixou a vida de editora de vídeo para fazer do YouTube o seu primeiro palco. Com vídeos de covers de Sam Smith, Djavan e Rihanna, a cantora chamou atenção da Warner Music e acabou entrando pro time da gravadora. Assim o Brasil conheceu IZA.

Com o hit chiclete 'Pesadão', IZA ganhou destaque no cenário musical, notada pelo seu potencial vocal e beleza, sem deixar de lado a importância de falar através da música o poder da mulher, racismo e representatividade.

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Aos 27 anos, IZA lançou seu primeiro álbum, Dona de Mim e bateu um papo com o Noisey para falar sobre seu debut, preconceitos e feminismo. Saca só:

Noisey: Em 5 de maio de 2016, você assinou com a gravadora. O que mudou de lá até Dona de Mim estar pronto?
IZA: Ah, tudo mudou. Minha vida virou outra. Estou fazendo o que eu mais amo, tenho as minhas músicas lançadas. Quando eu assinei a gente não tinha lançado nada. Tenho as minhas músicas assinadas. Estou muito feliz por tudo isso que está acontecendo. As pessoas agora reconhecem o meu trabalho, me reconhecem na rua, me homenageiam, me mandam mensagens, me enchem de carinho todos os dias, isso é muito especial, estou muito feliz.

O que você faria num dia normal quando não era artista?
Antes de largar o emprego, a minha rotina era acordar umas 6h da manhã, ir pra faculdade, depois ia pra casa ou pra praia e, no fim do dia, pro meu estágio que era de madrugada, já que eu era editora de vídeo. Era um horário péssimo. Depois disso eu saí do emprego, passava o dia inteiro mandando e-mail para várias pessoas que eu achasse que podiam me ajudar e criava conteúdo, pensava em projetos, fazia reuniões, tudo voltado pro meu trabalho, pra música, porque na real, eu saí do emprego e fiquei voltada só pra isso.

E foi um momento muito delicado, de muita instabilidade, de muita paciência, porque eu tinha acabado de entrar no YouTube, não tinha muito o que fazer, aparecia um show aqui, um ali e era complicado. Hoje, praticamente, não tenho rotina. Não sei o que vai acontecer depois desse álbum. Minha vida está uma loucura e eu quase que não paro em casa.

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Quando foi o momento exato que você se enxergou como artista?
Quando eu estava ali insatisfeita com mais um emprego, vivia trocando, pulando de emprego em emprego. Ficava seis meses nos lugares porque não me adequava, me deprimia, porque não era pra ser. Pensava: "Não vou mudar de emprego, vou pensar no que eu realmente quero fazer. O que eu quero fazer? Qual que é a parada?" e a única coisa que veio na cabeça foi a música. Foi quando eu larguei tudo para me dedicar a isso.

"É o meu trabalho, é o meu rosto que está ali, a minha cara. Se não estiver bom, é a mim que os fãs vão cobrar."

O que representa ter o Dona de Mim na rua agora?
Nossa, isso representa missão cumprida. Desde quando eu larguei meu emprego, o que eu queria era isso, era ter o meu álbum. Era uma coisa muito significativa pra mim. Tem várias coisas a se fazer, principalmente depois que você entra na gravadora, tem que escolher seu time. É complicado, é um longo processo.

O álbum tem de tudo. É versátil e tem várias IZAs ali. É isso que eu quero que as pessoas entendam, todas as minhas facetas. Só de ter a benção da rainha Veveta [Ivete Sangalo] no meu álbum é uma coisa que eu não imaginei que fosse acontecer. O Falcão, o Thiaguinho, Carlinhos Brown. Pessoas que eu sempre admirei. Dona de Mim acabou de nascer e eu estou muito satisfeita do que está acontecendo.

Quais são as suas referências de divas pop nacionais? E da gringa?
Eu amo a Ivete, Karol Conka, Ludmilla, a Anitta, amo Pabllo, Gloria, Aretuza, Lia, Pepita. Elza Soares, Liniker. Gadú. Todas, amo todas. Lá fora, gosto muito de todas elas: Katy Perry, Lady Gaga, amo muito, sou muito little monster, sim. Beyoncé, Rihanna, acho que todas elas me inspiram de certa forma.

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É possível equilibrar representatividade com o mercado da música pop?
Claro que é possível. Eu não tô aí? Aliás, estamos aí, várias de nós. Está todo mundo aí, sabe, se ligando que é realmente importante falar sobre as coisas que importam. Assim como é também falar sobre sexo, boy, sobre festa, todas as coisas que eu falo no meu álbum. Mas é porque, sendo a menina que eu fui quando mais nova, também acho importante falar dessas coisas que também toca o meu coração e que isso também é importante para as outras pessoas.

"Tenho feito isso para que as pessoas, por exemplo, parem de me perguntar porque só tinha bailarino negro no meu clipe."

Você comentou que “Precisamos de mulheres negras feministas falando para mulheres feministas". Quando você se conscientizou feminista?
Acho que foi na faculdade, com uns 21 anos, quando eu comecei a ouvir mais sobre isso. Na escola, não sei se porque era uma escola católica, ouvia zero sobre isso. Sempre tive a minha posição, eu nunca mudei, meus princípios sempre foram os mesmos mas, eu não me enxergava como feminista simplesmente por não conhecer o meio. Na faculdade eu conheci mulheres incríveis e comecei a me inteirar, fui lendo tudo ali o que se configura uma feminista e estava batendo. Hoje eu me considero uma feminista sim e acho que toda mulher deveria ser.

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Existe um peso maior em ser uma diva pop preta no Brasil?
Com certeza. Existe uma responsabilidade, eu preciso muito bem observar o lugar onde estou e saber que várias outras divas pretas que estão em casa, estão ali esperando a minha opinião, querendo saber o que eu vou falar, vestir, cantar, como eu estou usando o meu cabelo e estão esperando isso porque se espelham em mim porque se sentem representadas. Eu acho que não é um peso no sentido de trabalho, não é negativo, é uma responsabilidade que eu me sinto muito orgulhosa de carregar.

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Você já contou sobre o racismo sofrido durante a infância. Ainda rola?
Não mais, até por que tem ficado mais difícil dar um rolê no supermercado, dar uma volta. Hoje quando eu entro numa loja de shopping, as pessoas sabem quem eu sou. Mas eu já fui seguida em loja, em supermercado, essas coisas acontecem. Hoje em dia, talvez, por causa da minha profissão isso não aconteça mais. Não diria que o racismo acabou, significa que as pessoas acham que eu não mereça ser alvo de racismo, ou sei lá, sou cantora. Vai entender. Isso não tem acontecido tanto, mas eu sei que acontece todos os dias com muitas pessoas.

"Ser verdadeiro nunca é um problema."

Como as referências ao movimento negro fazem parte do seu trabalho?
Nos meus últimos dois trabalhos faço referência a cultura afro, beleza e música negra, tenho feito isso em todos os meus clipes. Na verdade, eu tenho feito isso para que as pessoas, por exemplo, parem de me perguntar porque só tinha bailarino negro no meu clipe, e uma hora vão parar de perguntar, uma hora vai ser normal. Tudo isso é sobre criar oportunidades, é por ai.

Cada vez mais o público cobra posicionamentos de artistas sobre as causas sociais e políticas. Como você procura se posicionar?
Como eu. Não fico esperando o que os outros vão falar. Sempre me preocupo com o meu público, tem meninas muito novas me seguindo, de todas as idades, os lugares e realidades. Às vezes, uma coisa que eu possa falar pode atingir de certa forma um grupo de uma forma como eu nunca imaginei. Eu sempre penso naquilo que eu vou falar porque não quero magoar ninguém. Às vezes magoa alguém, posso até pedir desculpas, mas enfim, o estrago está feito.

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É uma coisa que eu sempre penso muito com carinho, porque eu sei que para elas a minha opinião importa. É uma coisa que estou sempre pensando. Mas, sempre falo o que penso. Acho que falar o que pensa, na verdade, nunca é negativo, se não for inconveniente, não está atrapalhando ninguém, sem invadir o espaço de ninguém. Ser verdadeiro nunca é um problema.

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Rebater crítica é a sua?
É muito raro isso acontecer, não importa. Existem umas pessoas que falam "Não gostei da sua roupa", "Não gostei da calpa do seu álbum", "Não gostei de tal música" e isso é a opinião deles e não uma crítica. Não acho que eu tenho que discutir com essa pessoa e perguntar por que? São opiniões diferentes, está tudo bem. Não me magoa isso. Agora se for uma coisa completamente infundada, que me magoe, racista, que atinja meu público, bem provável que eu fale com a pessoa pelo direct, como eu já fiz várias vezes.

Porque eu acho legal se posicionar tentar entender o que está acontecendo. Maioria das vezes quando eu vou reclamar a pessoa pede desculpa e fala que e só estava querendo chamar atenção, enfim… Acho que é importante trocar essa ideia porque é meu público.

Já te apontaram como um produto do pop?
Não, nunca. Acho que sempre entenderam a minha proposta. Nem me sinto, por isso eu demorei em entregar o álbum, porque eu queria ter certeza que estava tudo certo, tudo no lugar, tudo perfeito do jeito que eu queria que estivesse, então, sei muito bem que meu trabalho é sério.

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Uma de suas músicas é 'Você Não Vive Sem'. O que nesse momento você não vive sem?
Não vivo sem quem eu amo. Não vivo sem minha família, meu namorado. Não vivo sem essas pessoas. Na correria do dia a dia, nessas coisas que eu tenho feito tanto, de ficar longe de casa tem me feito sentir mais saudades dessas pessoas. A gente faz loucuras para se ver, então, isso é uma coisa que eu amo fazer. Amo chegar em casa e encontrar com todo mundo, porque eu não vivo sem os meus amados.

E quem faz parte do bonde 'Pesadão'?
Minha galera, tenho muitos amigos. Agora está foda encontrar todo mundo aqui. Está uma correria louca. Mas, meu bonde pesado é quem joga comigo sempre, desde sempre. Meus amigos, meus parceiros. Galera que estudou comigo na faculdade, no ensino médio, fundamental. Ainda tenho contato com todos eles e sou muito abençoada por isso. A equipe que está comigo todos os dias: minha assessora, minha produtora, meu empresário, a equipe inteira. Personal, gravadora Todo mundo joga muito junto, todo mundo faz com que esse trabalho aconteça da melhor forma possível.

Sou uma pessoa muito perfeccionista, que me cobro muito, mas a minha equipe é desse jeito também e nada seria possível se eles não fossem tão dedicados ao trabalho deles como eu também sou ao meu. Eles fazem parte do meu bonde pesadão.

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