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Você pode ser um buraco e engolir uma cidade inteira neste jogo

'Donut County' nasceu como uma piada no Twitter e agora é um jogo que explora assuntos profundos.
Todas as imagens: Annapurna Interactive/Divulgação.

Longe dos estandes mais barulhentos e agitados, a Annapurna Interactive se escondia em uma salinha nos fundos da E3 2017. A publisher, que ficou conhecida por conta do seu primeiro lançamento, What Remains of Edith Finch, estava lá para mostrar os seus projetos futuros, que foram alguns dos games que eu mais gostei de jogar e conhecer na E3 deste ano.

Leia mais: A Nintendo explica por que não falou de games na E3 2017

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Foi nessa salinha onde conheci Donut County e pude conversar com seu criador, Ben Esposito. Donut County se passa em uma pacata cidade habitada por animais antropomórficos que começam a serem engolidos por um buraco. Você é esse buraco. Comentei com Ben que o conceito parecia uma ideia do fictício Peter Molydeux, uma conta de Twitter que inventa ideias absurdas de jogos, e ele imediatamente me disse: "Ele tuitou isso. Foi daí que veio a ideia".

"Eu conversei com ele [o responsável pela conta de Twitter] recentemente. Ele tá bem animado que o jogo chegou tão longe. O que é engraçado é que todas as ideias da conta são meio completas e bem bobas e fariam péssimos jogos. Eu tava lendo várias e vi a do buraco e pensei, 'Tem algo aí'. Então, eu tentei."

Esposito admite que também se inspirou na série Katamari Damaci, já que as fases seguem um modelo similar: você vai "engolindo" objetos e indivíduos e o buraco vai aumentando seu calibre, assim mais coisas podem sumir para dentro dele.

Acima: Trailer de Donut Country.

Mesmo parecendo uma ideia boba, o jogo não é razo na visão de Ben, que leu muitas discussões filosóficas sobre buracos: "É um tópico filosófico essa questão de se um buraco é uma coisa ou é a coisa que tem um buraco nela. Existe uma propriedade das coisas que é ter um buraco? Se eu fizer um buraco nessa mesa agora ela é uma mesa que tem um buraco ou existe um buraco dentro da mesa?"

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Além das divagações sobre o que define um buraco, Donut County também explorará mais a fundo questões humanas: "Eu percebi que o buraco não é um personagem, não há nada ali e é melhor que ele seja uma força enigmática", contou. "Eu percebi que o ambiente era mais importante. [O ambiente] é o personagem do jogo. [Os protagonistas] são as coisas que caem no buraco. Então eu pensei: 'como eu construo um mundo onde todas as peças pequenas são importantes? E foi assim que eu percebi que os personagens precisavam ser as casas das pessoas, porque aquilo com que as pessoas se cercam ajuda a defini-las."

Esposito também explica que a decisão de usar cel shading e dar uma cara fofa ao jogo não é acidente: "Há uma moralidade dúbia no jogo, por isso é tão importante que ele pareça leve e que os gráficos sejam apaziguadores e atraentes. É uma maneira legal de se trabalhar".

Assim como What Remains…, Donut County será uma experiência de aproximadamente duas horas. "É o jeito que eu gosto de jogar", disse Ben. "Eu sempre disse que tem algo com games em que eu jogo por umas duas horas e eu largo. Eu sei que nunca mais vou ligar aquilo."

"Eu quero um botão em qualquer jogo de tiro que é: eu quero acelerar [o jogo]. É só isso. Quando eu aperto o botão, o personagem vai e atira em todo mundo na cabeça e eu tô na próxima fase." Ben e eu concordamos muito nesse ponto de que nada justifica dezenas de horas de gameplay e como hoje muitos jogos na verdade são bem curtos, mas se repetem bastante. "Às vezes você chega num ponto em que você sente que executou o suficiente", completou Ben, que acredita que duas horas sejam o suficiente para curtir a experiência de ser um buraco.

Uma pena que ainda falta um tempo para jogarmos o jogo completo. Donut County só deve chegar ao PC, Xbox One e PS4 em 2018.

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