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Falei com Akon sobre sua nova criptomoeda, o Akoin

O músico planeja estabelecer uma cidade no Senegal que use apenas o Akoin.
Foto pelo autor.

Se você ainda acha que Akon é um cantor de R&B dos anos 2000 que cantava “Smack That” e se encrencou por encoxar uma garota menor de idade no palco, é hora de se atualizar. Depois de se aposentar da música em 2010, o músico nascido em St. Louis e criado no Senegal tem passado muito tempo na África, trabalhando para trazer estabilidade e infraestrutura para regiões em desenvolvimento.

Seu maior esforço veio em 2014 com a fundação da Akon Lighting Africa (ALA), uma iniciativa de energia solar que busca dar eletricidade para mais de 600 milhões de africanos. Começando com uma linha de crédito de $1 bilhão de dólares de investidores chineses da Jiangsu International, o programa treina engenheiros locais para instalar e manter redes elétricas solares descentralizadas em suas comunidades. A ALA já foi implementada em 15 países e planeja aumentar esse número para 48 até 2020. Infelizmente, não há muitos números exatos sobre a eficiência do programa, mas ele diz que a iniciativa já cobre 480 comunidades e já ergueu 100 mil postes com iluminação solar.

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Através da ALA, Akon se tornou uma das maiores celebridades do continente, e o músico, de nome completo Aliaune Damala Bouga Time Bongo Puru Nack Lu Lu Lu Badara Akon Thiam, acabou de lançar um projeto ainda mais ambicioso: uma cidade planejada no Senegal com economia inteiramente baseada em sua própria criptomoeda, o Akoin. Naturalmente, a cidade em planejamento já foi apelidada de “Wakanda da vida real”.

Na festa de lançamento da moeda em 7 de agosto, que aconteceu em Los Angeles, Akon recebeu desenvolvedores, financistas, a imprensa e alguns empreendedores selecionados para o papel de cobaias, testando a viabilidade da moeda com suas ideias de negócio.

“Essa moeda é focada especialmente na África”, Akon me disse no evento. “Negócios que vão utilizar a moeda na África, a população que vai usá-la lá e, mais importante, os empreendimentos que podem ser desenvolvidos e aperfeiçoados na África.”

O cantor acredita que o Akoin servirá melhor nações com moedas desestabilizadas por inflação ou governos corruptos, com um livro-caixa [com a segurança] de blockchain, contra má-fé, e permitindo aos usuários “controlar sua própria economia e seu próprio destino”.

Como foi o caso quando ele lançou a ALA, surgiram preocupações de que Akon esteja com esse novo esforço, conscientemente ou não, sendo usado pela China para os planos de desenvolvimento da nação para o continente. Críticos africanos da potência asiática dizem que o governo chinês está explorando a mão de obra barata africana para criar uma infraestrutura de cadeia de suprimentos para exportar recursos naturais valiosos, atrás da fachada altruísta de ajudar nações em desenvolvimento. Mas como uma matéria recente do Washington Post apontou, esse medos podem ser exagerados e essa pode ser mesmo uma relação benigna e benéfica mutualmente.

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Michale Kimani, presidente da Blockchain Association of Kenya, disse a BBC que seu ceticismo com o Akoin é mais baseado no projeto ser um sonho um tanto impossível, do que sobre a exploração chinesa da África, apontando que ele até conseguia entender “a necessidade de criptomoedas, mas no contexto de comunidades menores”. Kimani também apontou a necessidade de smartphones com planos de dados caros, o que cortaria uma grande porção de uma família senegalesa de renda média, como um dos possíveis obstáculos para o Akoin ganhar tração.

Nessa questão, Akon hesitou em entrar nos pormenores dos números reais do Akoin. Seu entusiasmo com a criptomoeda e o potencial de fundar uma cidade é contagiante mas, durante nossa entrevista, ele se desviou das minhas perguntas sobre limites de transações por segundo e geração de lucro. Dito isso, o foco dele na visão geral do projeto em vez dos detalhes não é novidade. Quando ele anunciou o Akoin em Cannes em junho, ele disse que estava deixando “os geeks” cuidarem dos aspectos técnicos do projeto.

Ryan Scott, parceiro na fundação do Akoin e do ICO Impact Group, uma firma de investimento em criptomoedas, insiste que as intenções do Akoin são nobres e que sua viabilidade tem base, apontando a falta de taxas de transação para usuários e a variedade de maneiras como os cidadãos podem ganhar moedas apenas seguindo com sua vida. Só parceiros – ou seja, negócios querendo operar na plataforma – pagariam para isso. Scott ligou o projeto a “uma loja de aplicativos para empreendedorismo africano”. Colocando os custos de transação em zero, o Akoin hipoteticamente permitiria que seus usuários ganhassem passivamente moedas se registrando para ficar na espera de alguns desses aplicativos, como socorristas para serviços de emergência ou grupos de proteção da vizinhança. Imagine isso como, para melhor ou pior, uma expansão da gig economy de trabalho freelance baseado inteiramente numa moeda proprietária.

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“Eles não chamam assim na África, mas existem tipo lojinhas, tipo em bancas onde você pode recarregar o seu celular, e lá você vai poder comprar Akoins”, Scott disse a VICE no lançamento da moeda. “Também estamos fechando acordos com provedores de ponto de venda para que você possa gastar as moedas. Então essa vai ser uma das primeiras ofertas de criptomoeda consumível que pode ser prática no dia a dia.”

Os criadores do Akoin esperam que a moeda eventualmente sirva como uma plataforma de criptofinanciamento coletivo.

“Não é mais uma coisa 'salve as crianças de outro país'”, disse a parceira do Akoin Lynn Liss. “É uma coisa 'Vou investir na sua ideia'.”

Mas num continente onde a maioria das transações ainda são feitas em dinheiro, uma economia só de smartfones e criptomoeda parece ambiciosa demais, mesmo depois que os “geeks” descubram as porcas e parafusos da tecnologia.

Por enquanto, enquanto o Akoin se prova viável, a utopia de 2 mil acres Akon Crypto City continua em fase de planejamento. Akon disse que está feliz por eles irem devagar nesse projeto, para que sua criptocidade não se torne mais uma história de negócios e investidores deixados na mão.

“Dubai encarou a mesma coisa”, disse Akon. “Você está construindo uma cidade rápido e há muita empolgação e muito dinheiro sendo gasto. Mas tudo depende da pessoa gastando o dinheiro e como ela projeta seus fundos voltando. Teremos banqueiros [na criptocidade], consultores financeiros, gerentes de negócio e gerentes de fundo e cobertura. Todos serão parte desse ecossistema.”

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Ironicamente, as grandes promessas de Akon e sua falta de preocupação com os detalhes que fazem planos como esse darem frutos lembram o político que ele mais critica, Donald Trump. Além dos vários projetos dele na África, o artista lançou uma ideia de desafiar o atual presidente americano nas eleições de 2020. Quando perguntei se ele ainda investiria nessas aspirações políticas enquanto o Akoin e sua criptocidade estão em formação, o cantor disse que seria difícil ignorar o chamado para servir seu país natal.

“Ainda não finalizei minha decisão, mas acho que vou fazer”, ele disse sobre anunciar oficialmente sua candidatura. “Com todas as coisas que estão acontecendo, as temperaturas subindo no mundo todo, é necessário… O único jeito da América seguir em frente é se a nova geração seguir de acordo com o que está acontecendo e com como estamos crescendo.”

Espero que ele anuncie sua candidatura em breve, porque mesmo que algumas celebridades já tenham concorrido a presidente e outras se envolvido com criptomoedas, acho que nunca vi alguém fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

Matéria originalmente publicada na VICE US.

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