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Drogas

Tudo que você precisa saber sobre usar o óleo de CBD para dor e ansiedade

Encontrado na cannabis, o remédio pode ajudar com dores de cabeça, musculares, ansiedade, entre outras coisas. Mas o que as pesquisas dizem?
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Imagem: Joe Amon/Getty Images.

James Joliat, um produtor de vídeo de 35 anos de Denver, há tempos sente dores nos músculos e juntas — principalmente relacionadas com lesões esportivas. Ele diz que começou a procurar remédios naturais como alternativa para os comprimidos e emplastros recomendados pelo médico. Depois de experimentar pomadas caseiras com compostos de diversas plantas — coisas como arnica e açafrão — ele eventualmente topou com a pomada tópica de canabidiol (CBD).

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“Passo a pomada no tornozelo depois de uma caminhada, ou na parte de baixo das costas, e sinto que isso realmente penetra e tem boas propriedades anti-inflamatórias”, ele diz. “Também machuquei o ombro, e sinto que isso ajuda muito com a dor.”

Ele vem usando CBD tópico há anos com bons resultados, e recentemente tentou ingerir óleo de CBD, o que ele chamou de uma experiência “maravilhosa”. “Me senti super-relaxado – tipo uma sensação antiansiedade”, ele diz. “Meu corpo estava supermole, mas não como se estivesse cansado.

“Foi muito bom”, ele acrescenta. “Mas eu não estava chapado.” A experiência de Joliat com CBD é comum. Algumas pesquisas informais sugerem que muitas pessoas hoje estão pelo menos um pouco familiarizadas com canabidiol, tendo usado ou conhecendo alguém que usou. Mas mesmo quem usa não parece saber exatamente o que isso é e se há ciência de verdade apoiando seus benefícios.

O que é CBD?

“Canabidiol é um composto encontrado na planta de cannabis”, diz Jerzy Szaflarski, professor de neurologia e diretor da Divisão de Epilepsia da Universidade de Alabama, Birmingham.



Szaflarski explica que a cannabis contém cerca de 500 compostos diferentes, e alguns deles — como o CBD e o THC — interagem com certos receptores de químicos no sistema nervoso humano. Mas diferente do THC, o CBD não é psicoativo — significando que não causa nenhum tipo de barato. Apesar disso, a DEA classifica o CBD (e outros compostos de cannabis) como substância tipo I, o que torna sua venda ilegal em muitos estados americanos.

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“O cérebro tem esses receptores que respondem aos endocanabinoides, que são neurotransmissores produzidos naturalmente no corpo e no cérebro”, diz Jerald Simmons, neurologista do Comprehensive Sleep Medicine Associates de Houston. “Alguns dos canabinoides da planta de maconha são muito similares aos endocanabinoides do cérebro, e agem nos mesmos receptores.”

O sistema de endocanabinoides do sistema nervoso não é bem entendido ainda. Mas acredita-se que ele tem um papel em regular dor, sono, humor, memória, apetite e outros processos cognitivos e físicos. Como o CBD é capaz de imitar as ações de alguns químicos naturais do cérebro, seus benefícios terapêuticos em potencial são amplos, mas — neste ponto — nebulosos. “Sabemos que o canabidiol modula o sistema de endocanabinoides, mas não sabemos como”, diz Szaflarski. Mas há algumas teorias.

“O THC” — composto mais famoso da cannabis que realmente dá barato — “trabalha diretamente no sistema de canabinoides, significando que ele se liga a receptores e imita alguns dos nossos próprios endocanabinoides”, diz Igor Grant, professor e presidente de psiquiatria da Escola de Medicina de San Diego. Mas a interação do CBD com o sistema de endocanabinoides é mais sutil. “Normalmente, essas moléculas sinalizadoras de endocanabinoides são quebradas por enzimas, e uma coisa que o CBD faz é interferir com as ações dessas enzimas.”

Grant diz que isso pode levar a um “amortecimento” ou abrandamento de alguns processos neuroquímicos, incluindo aqueles ligados a dor. “CBD também pode reagir com outros receptores, como aqueles para serotonina, e pode ter ações que reduzem moléculas inflamatórias produzidas sempre que um tecido é lesionado ou uma bactéria entra”, ele diz. “Mas não conhecemos os mecanismos.”

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Posso tomar CBD para tratar dor?

Falando com os usuários ou passando algum tempo nos fóruns sobre o assunto na internet, você vai ver que muita gente acredita que o CBD tem benefícios para a dor e inflamação. Alguns estudos com ratos ligaram tratamentos com CBD tópico a uma queda na dor e inchaço relacionados com artrite, e mais pesquisas sugerem que o composto pode ajudar a aliviar dores de cabeça.

O estudo de dor de cabeça ligou o CBD a taxas mais baixas de ansiedade. (Como a ansiedade muitas vezes produz dores de cabeça, segundo os autores, o CBD pode ser um remédio plausível para dores de cabeça se esses benefícios antiansiedade forem legítimos.) Grant diz que estudou a literatura disponível sobre CBD e ansiedade, e parte dela é interessante. Ele menciona um estudo brasileiro, por exemplo, que descobriu que pessoa que têm medo de falar em público se sentiam menos ansiosas e desconfortáveis sobre a fobia depois de tomar CBD, comparado com pessoas que tomaram um placebo.

“Também há algumas evidências de que o composto pode reduzir sintomas psicóticos em pessoas com esquizofrenia e transtornos psicóticos”, diz Grant. “Mas há muitas perguntas em aberto neste ponto.”

Uma área onde o CBD está claramente sendo útil: no tratamento de convulsões de uma forma de epilepsia. Um estudo de 2017 publicado no New England Journal of Medicine descobriu que ingerir CBD cortava dramaticamente a frequência de convulsões na maioria dos pacientes – uma descoberta que fez o FDA apoiar a aprovação de uma droga contendo CBD para tratamento de alguns pacientes com epilepsia.

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Como as pessoas usam o CBD?

O composto é geralmente vendido como óleo ou pomada, mas também vem em tabletes, folhas para colocar sob a língua, cremes, soros para o rosto e outros produtos.

Alguns usuários especulam sobre a dosagem apropriada ou melhores métodos de aplicação — incluindo se uma pequena quantidade de THC aumenta os efeitos do CBD, ou se métodos diferentes de administração têm efeitos mais rápidos ou significativos. Alguns produtores de CBD também dizem que o composto tem um efeito cumulativo, então é preciso ser usado regularmente para produzir um benefício. Mas Grant diz que neste ponto é difícil dizer como as pessoas deveriam (ou não deveriam) estar usando o CBD.

“Mesmo onde a maconha é legalizada, você não sabe quanto exatamente está absorvendo”, ele diz. “Tenho certeza que alguns produtores de CBD têm laboratórios e fazem rótulos corretos, mas nenhum deles é seguro como um remédio farmacêutico.”

A indústria de nutrição e suplementos — que inclui produtos de CBD — é quase totalmente não regulamentada. “A concentração do composto nos produtos é apenas aproximada, e não sei quão bem eles fazem esse rastreamento”, diz Szaflarski. Mesmo se você pudesse confiar totalmente no rótulo de um produto — e muitos produtores de CBD, conscientes do escrutínio sobre sua indústria, vão longe para garantir aos consumidores a qualidade de seus produtos — não há muitos fatos concretos quando se trata do tipo ou quantidade de CBD que uma pessoa deve usar para um problema específico.

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Há algum risco em usar CBD?

Alguns estudos mostraram evidências — quase todos de pesquisa de laboratório ou com animais — que o CBD pode afetar a saúde das células, fertilidade e a quebra e metabolização de drogas no fígado. “Pode haver interações com drogas farmacêuticas”, diz Szaflarski, mencionando tontura como um (mas não único) efeito colateral em potencial.

Em estudos com humanos, incluindo um que encontrou benefícios anticonvulsivantes entre epiléticos, algumas pessoas relataram ter diarreia, vômito, febre e fadiga enquanto usavam CBD.

“Mas até agora, o principal risco que isso parece ter é na ação sedativa, então as pessoas podem ficar sonolentas”, diz Grant. “Não li sobre nenhum grande efeito colateral ou reação negativa, então parece ser algo seguro até onde sabemos, mas precisamos de pesquisa sistemática sobre isso.”

Apesar de termos mais perguntas que respostas neste ponto, Grant diz que ele não desconsidera os relatos de usuários de CBD. “As pessoas dizem 'Ei, comecei a tomar isso e eu e meu filho nos sentimentos muito melhor', e nunca devemos descartar esse tipo de informação”, ele diz. Ele aponta que muitos medicamentos modernos foram descobertos com pesquisadores acompanhando essas evidências de tentativa e erro de amadores. “Mas ainda precisamos de estudos que confirmem que todos esses benefícios são reais, e quanto usar e como usar”, ele diz. “São questões que precisam ser respondidas.”

Matéria originalmente publicada na VICE US.
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