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O rap nacional vai de Zap, vê YouTube e curte videogame

Com base no arquivo de letras do Genius, levantamos quais redes sociais, gadgets e outros termos de tecnologia são os mais citados no rap e funk do Brasil.
FP
ilustração por Felipe Pessanha

Não é só o seu tio reaça bolsonarista que vai de Zap. O rap nacional e o funk também curtem muito o aplicativo. Pelo menos é o que indica as letras de suas músicas. WhatsApp (e a variação ZapZap) é o termo relacionado à tecnologia que mais aparece na produção nacional.

A gente fez um levantamento que não pretende ser científico, mas que dá uma ideia de como produtos, serviços e marcas ligadas à tecnologia são retratadas nas músicas. Para isso, entramos em contato com o site gringo Genius. Além de ser um repositório de letras, eles conseguem manipular bem esses dados.

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Então, fornecemos a eles uma listinha com nomes de empresas, gadgets e redes sociais. Eles fizeram o levantamento com tudo que foi publicado no site até outubro de 2018 e retornaram um pacotão de dados. O problema é que os resultados incluíam letras em todos os idiomas abrigados pelo site. Ou seja, para encontrar o que os brasileiros dizem, tivemos que descartar letras que iam do alemão ao coreano, do russo ao francês.

Feito isso, surpresa nenhuma: o WhatsApp foi o nome tecnológico com o maior número de menções. São 18 aparições do termo “WhatsApp” e mais uma para “Zapzap” (a versão mais simples, “Zap”, não teve retorno). Só o Raffa Moreira tem três músicas que mencionam o app (“Como eu te conheci”, “Motel” e “Cinema”). No mundo todo foram 336 menções.

“Eu gosto de termos em inglês. Eles me aproximam mais ainda da cultura. O 'WhatsApp' em si é muito popular, por isso eu uso. Ele não é hypado, pq virou o 'Zap' né, mas eu acho um bagulho bem futurista. Comunicação na mão assim. Na verdade, eu só falo essa merda porque é em inglês”, diz Raffa Moreira.

Outra obviedade: o aplicativo é também a rede social preferida da galera. Em 417 menções globais, o Facebook só aparece seis vezes no rap nacional. A versão mais íntima adotada pelos brasileiros, “Face”, não é nem mencionada. Enquanto isso, o Instagram é citado apenas três vezes de um total de 442 menções no mundo. Ou seja, a rede social favorita dos rappers gringos é a menos citada entre os brasileiros. “Insta” também não deu resultados.

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E na real, a segunda rede social preferida da galera é o YouTube. Foram 10 menções nacionais em 423 globais, o segundo termo mais usado pelos artistas daqui. Quase todas fazem referência a ficar famoso e ganhar seguidores.

E OS GADGETS?

E quando falamos de produtos? Bom, os videogames são os favoritos dos artistas. “Xbox” é o terceiro termo mais citado de maneira geral, nove vezes em 250 no mundo. “PlayStation” recebe um salve sete vezes dos rappers brasileiros (de um total de 330). O que é engraçado é que é comum que o nome da Sony seja citado logo o nome do console (tipo “PlayStation Sony”), mas o mesmo não acontece para Microsoft. Ou seja, a empresa do Bill Gates tem zero menções contra quatro dos japoneses.

Nas outras citações, sempre há conexão com algum produto da empresa, como fones de ouvido. O outro nome de fabricante de gadgets que leva destaque é a Nokia, que levou quatro menções e honra o bom nome deixado no Brasil com os seus celulares ultra resistentes.

A Motorola é lembrada em “Motorola V3”, belíssima homenagem do Yung Buda a um dos celulares mais stylera que já passaram pelo país. Nesse som, o cara ainda tem as manhas de citar “Razr” e “Nextel”.

Outros fabricantes de celulares, incluindo as gigantes Apple e Samsung, não são citados. O mesmo ocorreu com a LG.

Isso não quer dizer que o iPhone não dê as caras, incluindo uma em “Motorola V3”. O lance é que o celular da Apple não ganha menções positivas na maioria das vezes. Ele é visto como objeto de crítica (como não criticar um celular que pode chegar na barreira dos R$ 10 mil?). Só em “Anota no meu iPhone”, do Chris MC, que ele aparece como um objeto comum, parte do cotidiano do artista.

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O irmão mais velho do iPhone, o iPod, também é citado seis vezes — no mundo todo foram 391 menções.

Outro fenômeno brasileiro retratado pelo levantamento: o Moto G, que já foi o smartphone mais vendido do país, é citado globalmente três vezes. As três são por artistas brasileiros. O Moto X não deu as caras. Já a família “Galaxy J”, que segundo a própria Samsung é a mais vendida do Brasil, não é citada nem em variações mais populares como “jotinha”.

Aliás, a Samsung vai mal entre os rappers brasileiros. Além da marca e do Galaxy J não serem citados, o Galaxy S e o Galaxy Note também não foram lembrados. O detalhe é que o Galaxy Note tem sete menções em línguas estrangeiras e todas fazem referência à bateria do Galaxy Note 7, que ficou conhecida por explodir e pegar fogo.

Até o sistema operacional Android tem mais apelo. São quatro menções (há uma quinta, mas não está claro se estamos falando mesmo do programa do Google) em 120 no mundo todo.

QUEM MAIS USA

Não identificamos o “rapper nerd”, que fala de tec muito mais que os outros. O trio ADL divide a liderança com Raffa Moreira com quatro termos utilizados. Ao contrário do Raffa, que foca bastante no zap, o ADL diversifica bem as palavras: iPhone, Facebook, Playstation e YouTube.

“Eu tenho apostado em falar sobre [tecnologia] grande parte do tempo pra realmente chamar atenção dos jovens e com isso fazer muito dinheiro. Os gamers por exemplo. Eles sempre ocuparam uma parcela do mercado ali adquirindo seu playstation de merda etc… Mas agora a coisa evoluiu muito né. Você compra jogos, armas, armaduras então as pessoas estão sedentas por interatividade”, explica Raffa.

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Em seguida, com três palavras, vem ConeCrewDiretoria e Matuê. No total, foram 83 palavras tecnológicas usadas (isso porque excluímos termos genéricos tipo “celular”, “videogame”, “televisão” e “selfie”) pelo rap nacional.

Claro, a presença de uma palavra numa música não é sinal de sua popularidade. Incluir uma palavra numa música exige que ela se encaixe na métrica, na melodia e na rima. Isso sem contar que alguns desses termos são gringos e não soam bem em português. Ou seja, pode ter termos tecnológicos que simplesmente não conseguem entrar numa música.

Além disso, esse levantamento se limita a apenas ao que o Genius guarda. Pode ter mais um monte de sons por aí com referências tecnológicas que não foram registrados. Porém, como muitos moleques brasileiros, o rapper nacional é zappeiro, é estrela no YouTube, curte um videogame e conhece o Moto G mais do que qualquer pessoa no mundo.

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