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A Mónica Lafayette tem um doutoramento em Feira da Ladra

E eu ganhei um motivo para lá voltar.

Ir à Feira da Ladra pode acabar por não ser aventura absolutamente nenhuma. Imagino uma aventura na Ladra se, por acaso, eu for confundido com um terrorista e acabe perseguido por agentes da CIA em Hummers, disparando sobre inocentes e destruindo triliões de antiguidades, curiosidades e bugigangas. Como nada disto aconteceu até agora — apesar de eu ostentar uma grande barba e de passar facilmente por um fundamentalista islâmico —, decidi arriscar numa visita guiada a uma das mais antigas feiras de Lisboa com a Mónica Lafayette. Só mesmo alguém como a Mónica, atenta a detalhes e doutorada na arte de puzzles estéticos, para conseguir amestrar o meu cérebro e ajudar-me a focar e concentrar em preciosidades improváveis, antes de tomar o terceiro café do dia.

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Assim que me encontrei com ela percebi que ia levar uma barrela de energia e aprender que quando fazes o que gostas não sentes que estás a trabalhar, ou, provavelmente, não paras de trabalhar. Além de uma miúda que não perde um minuto a pensar o que fazer numa hora, descobri uma super-mãe que trouxe um super-garoto que já está habituado a dias que valem a pena e que por ter metade da minha altura me obrigou a pôr de cócoras e a descobrir relíquias liliputianas.

O motivo pelo qual a Mónica adora a Feira da Ladra não é diferente do de qualquer visitante, apesar de ela constantemente oscilar entre lazer e trabalho, e de ver na mesma peça uma compra pessoal ou o despontar de uma ideia para mais tarde desenvolver. A diferença desta incursão pela Meca dos regateiros reside no facto de a Mónica tratar por tu as mais carismáticas feirantes, na vontade de conhecer a origem e a função de qualquer coisa que lhe desperte a atenção e, numa ode ao “multitasking”, ainda conseguir passear e tomar conta do filho e de malta como eu, que nunca acorda antes do meio-dia ao fim-de-semana.

Enquanto sigo os passos da Mónica e tento não pisar bijuteria, peças de roupa e rádios de automóveis de origem dúbia, vou metendo conversa com quem está lá para negociar. Como tinha 1,30 euros contados (e pelos vistos convém mesmo levar moedas trocadas para regatear) para comer um hambúrguer, a única coisa que tinha para oferecer eram dois dedos de conversa. E foi assim que fiquei a saber da existência de um afinador de harmónica, de concertos de música brasileira três ruas abaixo da quarta rua a contar da esquerda e a descobrir uma revista de BD infantil com o apropriado nome de

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Nicotina

. Isto só aconteceu porque a Mónica sabe que os objectos são feitos por e para pessoas e num piscar de olhos fez de mim um curioso.

A Mónica não faz compras na Feira da Ladra, mas é aí que encontra um sem fim de mundos e histórias — se gostar de algumas delas em especial, leva-as para casa. Sem dar por ela descobri um livro à venda que se cruza com a minha história de vida. A Mónica queria comprá-lo, e eu quis oferecer-lho, mas não tinha dinheiro. Já tenho uma boa desculpa para lá voltar.

Fotografia por Hell Yeah

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