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Drogas

Este tipo acaba de ser libertado depois de passar 20 anos na prisão por vender erva

Mizanskey estava preso por vender dois quilos e meio de cannabis a um traficante.
Jeff Mizanskey com os seus dois filhos: Chris, à esquerda, e Robbie, à direita. Fotografia por Ray Downs

Jeff Mizanskey é natural do Missouri, e passou um terço da sua vida preso por um delito não violento de tráfico de marijuana. Jeff Mizanskey pode agora cruzar o detector de metais para juntar-se à sua família, que o espera de braços abertos. Mizanskey sorri e levanta o punho em sinal de vitória. Abraça o seu filho e exclama a sua primeira palavra em liberdade: "Finalmente".

Mizanskey estava preso há 20 anos por vender dois quilos e meio de cannabis a um traficante vinculado a alguns cartéis de droga mexicanos. Como já tinha sido acusado por posse e venda de marijuana em 1984, e apenas por posse em 1991, a sua terceira infracção, registada em 1996, foi castigada com prisão perpétua sem direito a liberdade condicional, como contemplava a lei, já revogada, do estado de Missouri no que diz respeito a estupefacientes.

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Mas esta terça-feira, depois de uma árdua batalha levada a cabo nos tribunais pela sua família, concederam a liberdade condicional a Mizanskey. A sua liberação aconteceu três meses depois de que o governador do Missouri, Jay Nixon, anunciasse em Maio que reduziria a pena deste bisavô.

"A minha decisão concede a Jeff Mizanskey a oportunidade de demonstrar que merece a liberdade condicional", escreveu Nixon num comunicado, há três meses.

Jeff está por fim em liberdade. Veste uma camisola negra na qual podemos ler: "Sou o Jeff e sou livre". A legenda está impressa sobre uma enorme folha de cannabis estampada sobre a silhueta do estado de Missouri. A intenção não é mais do que reivindicar a liberdade para o resto dos prisioneiros que cumprem penas de anos e décadas por delitos não violentos relacionados com estupefacientes.

A sua libertação acontece num momento em que os legisladores dos Estados Unidos suavizam posturas no que diz respeito a delitos não violentos por posse ou tráfico de estupefacientes. Há apenas umas semanas que o presidente Obama reduziu 46 sentenças a outros tantos condenados por delitos similares. Muitos deles cumpriam duríssimas penas perpétuas.

Paralelamente, em Julho, Obama também anunciou que revisaria o sistema penal dos Estados Unidos. Entre os seus objectivos está recortar ou eliminar a sentenças mínimas obrigatórias, assim como acabar com as penas de prisão perpétua para os delinquentes não violentos. Obama também planeia melhorar a legislação do Congresso no que toca a sentenças, e prevenir a cultura massiva de prisões no seu país. A ideia seria poupar aos cidadãos parte dos 80 mil milhões de dólares que pagam cada ano em impostos, e que se destina à manutenção dos estabelecimentos e dos seus prisioneiros.

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Durante a longa temporada que Mizanskey passou atrás das grades, viu como saiam e entravam assassinos, violadores e criminosos da mesma estirpe, enquanto ele perdia a infância dos seus netos por ter consumido uma substância terapêutica. Assim o denunciava, pela primeira vez, a Riverfront Times, em 2013.

"Passei um terço da minha vida na prisão", comenta Mizanskey, entre uma multidão de repórteres e familiares. "É uma vergonha".

Jeff Mizanskey free after 21 yrs in prison for pot with — Ray Downs (@raydowns)September 1, 2015

A família Mizanskey recusou responder à VICE News na terça-feira passada.

Em 1996, no mesmo ano em que Mizanskey foi detido pelo seu terceiro delito, a Califórnia transformou-se no primeiro estado do país a legalizar o consumo da planta com fins terapêuticos. Desde então, pelo menos 21 estados, para além de Washington DC conseguiram que se legalize também o consumo recreativo. E há um bom punhado de estados que pretendem seguir-lhes os passos.

A libertação de Mizanskey dá-se depois que o senador republicano Shamed Dogan ajudasse a conseguir as assinaturas necessárias de cerca de 130 senadores e representantes políticos. Estas foram enviadas ao Governador Nixon, juntamente com a petição de clemência.

"A atitude respeito à marijuana está a mudar há já bastante tempo", declarou o senador à VICE News na passada terça-feira. "As pessoas entenderam que era uma grande injustiça condenar alguém a prisão perpétua e privá-lo da liberdade condicional por um delito de marijuana. Medidas tão severas deveriam ser aplicadas apenas aos piores casos de piores delinquentes".

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— Whaxy (@whaxyapp)September 1, 2015

Apesar do seu papel decisivo na libertação de Mizanskey, Dogan ainda deve discutir oficialmente a aprovação de duas iniciativas para legalizar a cannabis, que serão submetidas à votação popular, em 2016. Apesar de ter expressado as suas dúvidas acerca do êxito da votação, Dogan mostrou o seu apoio incondicional para obter um resultado positivo.

"Missouri é um estado muito conservador e não legalizará a marijuana a curto prazo", assinalou. "No entanto, quando a gente fala [a favor] há que permitir que as suas vozes sejam a lei da terra. Essa é, sem lugar a dúvidas, a direcção que tomaram os outros estados".

Uma das primeiras coisas que Mizanskey fez quando saiu da prisão foi comer um bife com ovo, na companhia da sua família. Agora que está fora, Mizanskey, que antes trabalhava na construção civil, disse aos jornalistas que planeia dedicar a sua liberdade à luta pela legalização da marijuana em todo o país, como também à defesa dos direitos dos prisioneiros - e que voltará a fumar, se legalizarem a erva.

The Associated Press contribuiu para esta reportagem.

Segue a Liz Fields no Twitter: @lianzifields