FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

O Que Acontece Quando os Oceanos Não Conseguem Respirar

“Todas as bacias oceânicas dos mares modernos estão perdendo oxigênio.”

Já não é mais segredo que as mudanças climáticas estão deixando os oceanos da Terra gravemente desestabilizados. Temperaturas crescentes, acidificação intensificada e perdas de habitats contribuem com uma perspectiva sombria para o futuro da biodiversidade marinha.

Agora, uma equipe de cientistas com sede na Universidade da Califórnia, em Davis, evidenciou outra ameaça eminente, impulsionada pelo clima: a perda de oxigênio em grandes faixas de habitats oceânicos. Os resultados da equipe foram publicados semana passada na revista científica PLOS ONE.

Publicidade

"O oxigênio é fundamental para a vida no oceano, assim como é fundamental para a vida fora do oceano", Sarah Moffitt, principal autora do artigo, me contou ao telefone. "Todas as bacias oceânicas dos mares modernos estão perdendo oxigênio."

Para antecipar o efeito que a desoxigenação global pode ter sobre a ecologia oceânica, Moffitt e seus colegas estudaram o período de aquecimento mais recente, de 17 mil a 10 mil anos atrás, aproximadamente.

Ela enfatizou que esse período pré-histórico de degelo e nossa crise moderna de clima antropogênico não são perfeitamente análogos. Mas, mesmo assim, os cientistas podem fazer amplas avaliações sobre o efeito de mudanças climáticas em níveis oceânicos de oxigênio.

"As mudanças climáticas modernas são tão bizarras", disse Moffitt. "É muito importante entendê-las, e agora é crucial analisar os eventos passados para compreender como os sistemas da Terra podem mudar."

A desoxigenação danificaria a biodiversidade do oceano. Créditos: NOAA

Para entender melhor o efeito do último periodo de aquecimento sobre os níveis de oxigênio nos oceanos, a equipe de Moffit estudou 36 amostras sedimentares, originárias de uma vasta gama de localizações geográficas do fundo do mar.

"São arquivos maravilhosos de mudanças ambientais", Moffitt disse a respeito das amostras do solo. "Podemos trabalhar com geoquímica, com paleoecologia, e a partir desses solos, podemos obter dados tão bons quanto o registro de um núlceo de gelo."

Publicidade

A ampla análise das amostras por parte da equipe revelou que as Zonas de Mínimo Oxigênio (ZOMs) se expandiram consideravelmente no último período de aquecimento. Embora ZOMs sejam uma parte natural dos ecossistemas, formadas pela respiração bacteriana na camada intermediária dos oceanos (entre outros processos), seu crescimento, impulsionado pelo clima, desestabilizou todo o mundo pleistoceno.

"Quando o planeta esquentou de repente, no período de degelo, as zonas de baixo oxigênio se expandiram muito rápido", Moffitt contou. "Elas expandiram sua presença geográfica do Pacífico Subártico à Corrente da Califórnia, à margem do México, descendo o Hemisfério Sul, à Corrente de Humboldt. Em alguns lugares, os oceanos perderem o oxigênio de 100 até 3.000 metros abaixo da superfície, nas profundezas abissais.

O esgotamento de oxigênio foi de tirar o fôlego, literalmente, e impactou a fauna, a flora e a biodiversidade do mar com severidade. Será igualmente devastador, agora, se as mudanças climáticas antropogênicas continuarem a esquentar o globo. Conforme Moffitt observa, os animais que vivem na parte superior e oxigenada dos oceanos são os que alimentam a humanidade, sem contar todas as espécies em perigo de extinção, que precisam das águas oxigenadas para combater o extermínio.

Uma repetição desse ciclo na nossa época poderia acabar com a ecologia marinha global e talvez já esteja a caminho. Espécies existentes não só serão eliminadas, como novos predadores emergirão para preencher os nichos abertos pelos níveis decrescentes de oxigênio. Moffitt mencionou que esse fênomeno já foi observado com a lula oportunista de Humboldt, que expandiu seu alcance significativamente nas últimas décadas.

Publicidade

A lula de Humboldt. Créditos: NOAA/MBARI 2006

"O que quero enfatizar é que a possível escala de perturbação ambiental, dadas as mudanças climáticas, arruinaria a maneira como pretendemos gerir nosso meio ambiente agora", ela disse. "Precisamos abrir os olhos para enxergar essa escala, a possibilidade desses sistemas serem perturbados abruptamente. Estamos falando de um transtorno de grande magnitude que alteraria todo o sistema da Terra."

"De uma perspectiva humana", ela acrescentou, "quero que meu filho possa crescer em um mundo com a abundância e a beleza que eu conheci. Acredito que nosso papel, como seres humanos, seja cuidar do lindo planeta que temos e passar a riqueza adiante, às próximas gerações. Estou muito preocupada com a possibilidade do meu filho não ter o mesmo tipo de planeta e meio ambiente que eu, e não desfrutar de experiências ricas."

Tradução: Stephanie Fernandes