Do avião de Campos aos novos memes de Temer, um resumo da política brasileira da semana passada
Foto: Agência Brasil

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Do avião de Campos aos novos memes de Temer, um resumo da política brasileira da semana passada

Cunha barrado no baile, Bolsonaro foi pro banco dos réus, PF pra cima do PT e Serra quer o Brexit brasileiro - teve pra todos.

A Inglaterra sai, a Bolsa cai, o dólar sobe, mas a política brasileira continua numa gostosa dança de quadrilha onde ninguém tá salvo e todo mundo segue com o bumbum de fora. Enquanto Renan Calheiros descumpria o prometido pedido de impeachment do Procurador Geral da República – estava prometido para esta semana, mas não se ouviu nem um pio – a Polícia Federal desencadeou duas operações mais que polêmicas.

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A primeira foi a divulgação dos primeiros resultados da Operação Turbulência, que nasceu da investigação da queda do jato que matou o presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE) em 2014. Na terça-feira a Polícia Federal prendeu quarto pessoas ligadas a uma quadrilha especializada em lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 600 milhões. A "Lava Jato do PSB" implicou o ex-presidente do partido no recebimento de verbas ilícitas para a sua campanha de reeleição a governador em 2010, através de desvios do dinheiro das obras de construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.

O Ministério Público Federal indica que o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), pai do atual ministro de Minas e Energia Bezerra Filho (PSB-PE) e então ministro da Integração Nacional no governo Dilma, teria também recebido parte dos desvios. A operação prendeu quatro empresários, além de apreender barcos, aviões e R$ 3,6 milhões em espécie. Um quinto empresário que teve mandado de prisão expedido, Paulo César de Barros Morato, foi encontrado morto sem sinais de violência em um motel em Olinda na noite de quarta-feira (22). A Polícia Civil pernambucana investiga a morte, mas já considera de antemão um caso de infarto, o que deixa os conspiracionistas em polvorosa internet afora. Ainda assim a polícia afirma ter encontrado com ele materiais, incluindo cheques em branco e pendrives, que devem ajudar nas investigações. Sobrou até para Marina Silva (Rede), candidata no lugar de Campos à presidência em 2014, suspeita de receber caixa 2 no esquema. Ela não se pronunciou sobre a questão, mas as investigações ainda estão longe de acabar.

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Mal deu tempo da Turbulência ser digerida, e a Polícia Federal realizou outra grande operação, dessa vez contra um de seus alvos favoritos, o PT. Com direito a agentes camuflados postados à frente do diretório nacional do partido em São Paulo, a Operação Custo Brasil prendeu nesta quinta-feira (23) Paulo Bernardo, ex-ministro do Planejamento no governo Lula e ex-ministro das Comunicações no governo Dilma, além do secretário de Gestão da Prefeitura de São Paulo Valter Correia. Além deles, Carlos Gabas, ex-ministro da previdência de Dilma, foi agraciado com mandados de busca e apreensão, e Leonardo Attuch, responsável pelo site Brasil 247, foi alvo de condução coercitiva pela PF.

Desdobramento da Lava Jato, a operação afirma que Bernardo operava um esquema de fraude no Ministério do Planejamento. Nele a empresa de software Consist desviaria o custo de operação de pedidos de empréstimos consignados de funcionários da União. A empresa ficava com 30% do valor (era cobrado R$ 1 por operação. Isso, um real), e o resto iria para diferentes agentes. Segundo o MPF, Bernardo teria recebido R$ 7 milhões em propina no esquema. A prisão, alegadamente realizada por "risco à ordem pública", foi considerada arbitrária por inúmeros parlamentares. Além disso, o Senado questionou formalmente o STF sobre o mandado de busca e apreensão no apartamento de Bernardo, uma vez que ele é casado com a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) e o mandado poderia apenas ser determinado pelo STF, e não pela 6ª Vara Criminal de São Paulo – aliás, o juiz Paulo Bruno de Azevedo, que ordenou a prisão, é orientando de Janaína Paschoal, autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff.

Enquanto o PT se desdobra com mais problemas legais, o governo interino tenta ficar na moita, mas Michel Temer deu uma bela ajuda ao escorregar na sua entrevista ao jornalista Roberto D'Ávila da GloboNews e usar a palavra "golpe" para falar do processo de impeachment. Trechos da entrevista foram divulgados pela competente equipe de comunicação do interino, que gerou uma avalanche de memes ao defender que muitos dos eleitores de Dilma na verdade votaram nela apenas porque ele era o vice da chapa.

Na campanha do "Brexit brasileiro", o notívago chanceler José Serra (PSDB-SP) está sugerindo que o Brasil deixe de fazer acordos internacionais em bloco com o Mercosul para realizar acordos bilaterais. A decisão causa chiadeira, porque permite, por exemplo, a Argentina a fazer acordos com a China que prejudiquem a indústria brasileira. Além disso, ao lado de Paraguai e Argentina, Serra e Temer anunciam que não devem participar da posse da nova presidência do Mercosul, que agora será da Venezuela.

No Congresso a vida é mais branda, e já começa a movimentação para decidir quem assume a presidência da Câmara com a cada vez mais provável queda de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O interino Waldir Maranhão (PP-MA) já mandou demitir parte da equipe da presidência e avisa que vai assumir o posto de vez até a realização de novas eleições. Cada vez mais carta fora do baralho, Cunha ainda levou uma rasteira do STF: o ministro Luís Barroso proibiu o suspenso parlamentar de circular pela Câmara para pedir votos contra a sua cassação.

Para fechar a tampa, vale lembrar que a intolerância que cada vez mais abre suas asinhas Brasil afora levou dois revezes na semana. O grupo de extrema-direita que achou de boa colar agressivamente no Instituto Central de Ciências da UNB sendo extremamente racista e homofóbico vai ser investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal. E, para a felicidade geral da nação, finalmente o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) vira réu por apologia ao crime e injúria anos depois de ter dito que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela "não merecia". Luiz Fux, ministro relator do caso no STF, disse que a fala de Bolsonaro revelava seu desprezo por vítimas de estupro. Novidade?