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Exclusivo: A cena do som automotivo de Curitiba foi documentada pelo Renato Barreiros

O diretor paulista passou dois dias acompanhando as festas e as inúmeras equipes que customizam carros e organizam rolês regados de caixas de som e música eletrônica farofeira.

Depois de registrar o Funk Ostentação, o estouro dos fluxos em São Paulo e o Eletrofunk, o diretor Renato Barreiros está de volta com o documentário Auto Som Piá, mostrando o rolê do som automotivo em Curitiba.

Na região metropolitana da capital paranaense é onde o som automotivo encontra sua identidade mais marcante, reunindo centenas de pessoas em torno de carros tunadíssimos e equipadíssimos para escutar música eletrônica. Como o próprio Barreiros define, "é uma junção de uma galera que é apaixonada por carro e por som. Basicamente isso".

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Você pode fingir que não conhece, mas foi daí que saíram celebridades da música brasileira como a novinha feminista MC Mayara e a carioca e precursora do eletrofunk Dz Mc's. Aliás, engana-se quem acha que o funk é a atração central dos eventos. "O som automotivo incorpora tudo na música eletrônica. (…) O pessoal ouve sertanejo e joga a faixa dentro de uma base de música eletrônica. A mesma coisa com o funk. Se eles vão escutar um MC Rodolfinho, vão ouvir um remix eletrônico", explica o diretor.

Ao contrário da espontaneidade dos fluxos paulistanos, as festas automotivas são fortemente organizadas pelas equipes, munidas de carros e membros uniformizados para fortalecer o bonde. O som - que nos fluxos de São Paulo pode variar de carro para carro - é o mesmo em todos os veículos. Por meio de uma gambiarra, todos os carros sintonizam na mesma frequência do DJ, que toca desde techno até eletronejo nos rolês. "Eles não colocam a música que querem, eles tocam as músicas que o DJ toca."

Além de existir no Sul do país, a cena de som automotivo também é muito forte no resto do Brasil, em estados como Maranhão, Minas Gerais e Pará. "Varia mais ou menos o som, mas essa coisa do eletrônico permeia todos. O boyzão de São Paulo vai ouvir David Guetta, o pessoal que vai pra Rua Augusta vai escutar mais Skrillex, Diplo. Essa galera faz uma coisa meio farofa de pegar um hit do Luan Santana e transformar em uma faixa eletrônica", frisa Barreiros.

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No Maranhão, segundo Renato, os flyers dos eventos automotivos são praticamente centrados nos carros que marcam presença nos eventos. "Achei muito interessante isso de os carros terem uma personalidade por si só, vi um pouco disso também em Curitiba. No final de contas, não é só o som. É também a adesivagem do carro, que é supostamente um apenas um meio de transporte. De repente, você escolhe em qual balada que você vai na noite por onde estiver a 'Carretinha Estronda' ou o 'Palio Hulk'."

Sim, os carros são realmente o centro das atenções, que vão de objetos de desejo avaliados em mais de cem mil reais até Voyages simplonas que batem cartão nos rolês. "Não é uma paixão reservada exclusivamente para quem tem grana. Todo mundo tem seu lugar lá", conta. Com isso, o mercado de customização que gira em torno dos eventos automotivos é bastante consistente em Curitiba, chegando a contar com algumas lojas e empresas a assinando festas para atrair mais simpatizantes no mercado.

Um carro com uma parede de caixas de som que tocam uma mistureba bem brasileira de música eletrônica.

No documentário, uma Ducato pimpada, piscante e com som potente chama a atenção. A equipe responsável pelo charango chama Gustavo Brito, homenagem ao filho do dono do carro, morto em um acidente em uma festa de som automotivo. Emocionado, o pai de Gustavo conta que assumiu o posto do filho nos eventos e agora faz a frente dele com a Ducato, uma das paixões do falecido.

"Ele amava muito. O som automotivo era dele. Curitiba era dele e todo mundo o conhecia como Gustavo Brito", explica no documentário o pai, que investe pesado desde então em mais dois carros da equipe para se destacar nos eventos.

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Gustavo Brito, saudosa figura do som automotivo de Curitiba, foi homenageado pela equipe montada pelo seu pai.

Aos domingos, os eventos automotivos ganham ares familiares, onde os frequentadores e membros das equipes levam os filhos para prestigiar o rolê feitos em chácaras longe da região metropolitana de Curitiba. Mesmo longe da capital paranaense e com alvará de funcionamento, a polícia enche o saco. "Na festa aberta, a polícia chega acompanhada de vários órgãos de medição de som e de vigilância sanitária", conta Renato. "Eles pedem para baixar o som mesmo."

Mesmo com eventuais intervenções policiais, o som e os eventos automotivos atraem uma baciada de jovens, atrás do fetiche de carros (tipicamente brasileiro) e da possibilidade de uma música eletrônica que abrace todos os estilos musicais. A paquera, como mostrada por Barreiros, rola solta em volta dos carros. Inclusive as meninas colam em peso para dançar em cima das caixas ou dar apoio à família.

Galera reunida para curtir em uma das chácaras onde rolam os eventos automotivos.

"A cultura dos grupos é muito presente e ocupa um espaço muito importante na organização da sociedade, na minha opinião. Tem uma molecada muito jovem que fazem parte dessas famílias, que pode chegar a 200, 300 pessoas. Não é uma coisa pequena."

Bom, tá aí. Não deixe de assistir o documentário para sacar melhor como a organização de equipes funciona. Além disso, a trilha sonora ficou por conta do Carlos Nunes, o mesmo produtor que colaborou com Barreiros para a trilha sonora do documentário dos fluxos.

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