John Alexander Skelton

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Sustainability Week

John Alexander Skelton

A conta do estilista John Alexander Skelton no Instagram é o quarto das maravilhas de 2016.

Esqueça o minimalismo com filtro privilegiado pelos blogueiros de moda. A conta do estilista John Alexander Skelton no Instagram, @skeltonjohn, é o quarto das maravilhas de 2016. No perfil, ele faz uma busca pela história, construindo inspirações que atravessam o tempo e o espaço. Em uma imagem em sépia, um homem com as marcas do tempo fita o que está além do enquadramento. Com um olho fechado, a mão, preta de lodo industrial, segura um cigarro na altura dos lábios franzidos. Em outra imagem, corredores atravessam o quadro monocromático até a linha de chegada. Entre esses fragmentos do passado sem identificação pairam versões atuais da coleção do próprio John Alexander Skelton para o curso de mestrado na Central Saint Martins. Registradas em filme, essas imagens possuem a mesma qualidade etérea do resto do arquivo de @skeltonjohn — a mesma profundamente encontrada nos designs de Skelton.

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A premiada coleção de Skelton recuperou as descobertas de uma pesquisa de "Mass Observation", ou "Observação em Massa", meticulosamente conduzida por um grupo de antropólogos surrealistas de Bolton em 1936. Costurando os fantasmas de sua pesquisa na coleção, o estilista assumiu o compromisso de utilizar apenas tecidos artesanais, sustentáveis e reciclados. Lã, algodão, cânhamo e linho em tons neutros foram tecidos a mão e fiados artesanalmente para criar golas rulê, camisas, coletes, ternos, casacos, chapéus e calças largas que deixam à mostra o calcanhar. Skelton incluiu até mesmo uma gravata de seda no repertório.

A coleção pode parecer nostálgica, mas o estilista de Yorkshire está se tornando um dos novos nomes mais interessantes da moda de Londres. Liguei para ele para conversar sobre fast fashion, pegada ecológica e onde comprar roupas produzidas de forma sustentável a preços acessíveis.

Bryony: Qual foi o maior catalisador que motivou a sua decisão de criar uma coleção sustentável, ambientalmente correta e de longa durabilidade?
John: Acho que foram vários fatores. Mas o que mais se destaca é que eu trabalhava em uma empresa bem grande antes de começar o mestrado. O escritório recebia caixas e mais caixas de roupas que não eram nada. Eu via uma quantidade absurda de desperdício. Aquilo foi meio que me deixando repugnado com a descoberta, então foi um catalisador para mim, uma questão muito importante. Outra coisa foi que eu tinha interesse de descobrir as possibilidades que as roupas sustentáveis traziam, além das restrições.

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B: Como você equilibra o compromisso com a sustentabilidade e o bom design?
J: A parte da sustentabilidade é só uma das facetas do meu trabalho. Antes do meu desfile no mestrado, e ainda hoje, minha perspectiva era e é tomar uma coisa como certa, e isso é a sustentabilidade. O design quase prevaleceu. Era muito importante ser uma coisa ao mesmo tempo sustentável e fashion, porque um dos problemas que eu tinha com a moda sustentável do passado é que ela era sustentável, mas pecava muito pelo lado da moda, o que fez com que as pessoas pensassem que, se é sustentável, não é muito estiloso ou não pode ser fashion. E isso era uma coisa que eu queria desmistificar.

B: De que forma o seu processo é ambientalmente correto?
J: Bom, minha meta é criar roupas ou tecidos que sejam basicamente feitos no Reino Unido, da matéria-prima ao produto final. O processo todo.

B: E como está indo isso?
J: Muito bem em alguns aspectos. É bem difícil em outros, porque algumas partes da cadeia produtiva não existem atualmente. Então existem certas fibras no Reino Unido, mas não as máquinas de fiar para fazer o fio, então esse é um elemento importante. Estou trabalhando nisso hoje bem de perto com alguns fornecedores, tentando encontrar alguém que possa fazer isso para nós no Reino Unido.

B: Trazer o processo de volta para o Reino Unido permite que você reduza a pegada ecológica do processo produtivo também…
J: Sim, a pegada ecológica diminui drasticamente. Um tecido pode dar a volta ao mundo, e aí quando você compra, manda para uma confecção em outro país, e depois distribui para todo o planeta. Então quando o produto chega na loja e no consumidor, ele pode ter rodado o mundo cinco vezes, o que é uma loucura.

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Além disso, uma cadeia produtiva transparente faz com que os estilistas saibam exatamente onde o material do produto deles é feito. Hoje, muitas vezes esse é um processo anônimo. Se você encomenda um tecido, inicialmente não faz ideia de onde vem a matéria-prima, quem trabalhou no processamento nem onde isso foi feito.

B: Que passos você acredita que grandes marcas podem dar para se tornarem mais sustentáveis?
J: Fiz um projeto de sustentabilidade com a Nike e ele me abriu muito os olhos. Acho que isso deveria ser ensinado muito antes. Deveria ser ensinado nas escolas primárias ou secundárias. Não é só a moda que precisa mudar, é tudo, basicamente. Assim que alguém entra na escola de moda, se quiser ser estilista, precisa perceber que, se produzir qualquer coisa que não for sustentável, só estará contribuindo com o problema. Acho que seria até mais fácil para as marcas. É mais difícil mudar a mentalidade das pessoas, essa é a parte mais difícil. Mas, na prática, é muito mais fácil para uma grande empresa por causa dos recursos e do dinheiro que ela tem: ela pode bancar qualquer tecido. Então, na verdade, é uma questão de escolha. É a mesma coisa que não usar pele ou couro ou qualquer coisa assim.

B: E o seu guarda-roupa? Você compra — ou faz — as próprias roupas?
John: Compro e faço. Acho que compro principalmente muitas roupas vintage, mas também uso muitas roupas que eu mesmo faço. Tenho muitos mercados. Muitos mercados, mas nenhum específico. Viajo para ir a outros. Se vou à França, vou a vários bazares, e aonde quer que eu vá, tento procurar alguma coisa que geralmente está nos lugares mais inesperados, é onde você encontra as melhores coisas, na verdade. Sou meio caçador de pechinchas.

B: Suas roupas parecem ser de outra era — seu perfil no Instagram tem uma estética meio de outro mundo. Você pode falar um pouco sobre suas inspirações?
J: Na coleção que fiz para o mestrado, o ponto de partida foi uma pesquisa da Mass Observation. Os principais envolvidos nessa exploração eram todos surrealistas. Eles foram a Bolton e se estabeleceram lá. Tinha moinhos, minas, todo tipo de trabalho industrial e, na época, era o lugar com maior índice de desemprego da Inglaterra, motivo pelo qual eles decidiram ir para lá.

A individualidade era uma questão bem forte para as mulheres na cidade. Elas não tinham como comprar chapéu todo ano, então tinham uma base e todo ano iam ao armarinho para comprar plumas novas para enfeitar. Era uma forma muito aspiracional de se vestir, porque era uma ode à realeza da época.

Aquilo ficou comigo: querer que tudo seja individual, ter uma história e uma alma. A materialidade da minha coleção de mestrado foi influenciada pela classe operária. Utilizo tecidos rústicos e simples, mas na construção e na qualidade das fibras, é bastante laborioso. Então a última coisa muito importante para mim no meu trabalho é que a pessoa que for comprar possa apreciar e queira ter aquilo para sempre: isso, por si só, é sustentabilidade.

B: Que conselho você daria para as pessoas que querem usar roupas sustentáveis e ambientalmente corretas, mas não necessariamente têm um orçamento do tamanho do da Vivienne Westwood?
J: Não compre dez camisas, compre uma! Ou compre coisas vintage, vá a bazares beneficentes. Meu irmão só compra em bazar beneficente e tem um guarda-roupa incrível. Existe um estigma contra esses lugares. É esse tipo de mentalidade tacanha que precisamos mudar.