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Conversamos com o MPL Sobre Seus Integrantes Intimados Pela Polícia

Alguns integrantes do Movimento Passe Livre têm recebido a visita constante da polícia na porta de casa. Um inquérito aberto no ano passado investiga uma provável e ingênua ligação direta com os black blocs.

Foto por Felipe Larozza.

Não é de hoje a tentativa insistente da polícia em criminalizar o Movimento Passe Livre (MPL) e conectar o grupo aos black blocs. Em outubro do ano passado, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo instaurou o inquérito 1º/2013 para investigar atos de violência e vandalismo ocorridos durante os protestos de junho.

Integrantes do MPL chegaram a receber cinco intimações para depor no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), mas não compareceram em nenhuma das vezes. Inclusive, no mês passado, eles se acorrentaram ao prédio da SSP, na tentativa de encontrar o secretário Fernando Grella Vieira – o que não aconteceu.

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Liguei para o Matheus Preis, integrante do Passe Livre, para conversarmos sobre o que tem acontecido na vida de quem está recebendo a visita constante da polícia na porta de casa.

“Consideramos esse inquérito completamente ilegal porque ele não apura crimes, ele apura pessoas”, diz. O objetivo da abertura de um inquérito policial é, basicamente, apurar e investigar um crime, consolidando provas. E o MPL contesta o objetivo e o modus operandi da coisa. “A gente não sabe direito o que está sendo investigado.” Procurada pela VICE, a SSP se defende: “É importante lembrar que os procedimentos investigatórios da polícia judiciária seguem os princípios da legalidade e são realizados em parceria com o Ministério Público”.

Matheus reitera o discurso do MPL e fala em perseguição política. “Após a terceira intimação, se a pessoa for encontrada em casa, ela pode ser levada coercitivamente para a delegacia para depor. E os métodos de abordagem são muito variados. Tem investigador que foi em casa de militante e deu esporro nos pais, dizendo que é um absurdo deixarem a filha ir à manifestação. Tem um elemento de pressão na própria família.” Ele conta que familiares também foram intimados a participar da investigação e a depor na delegacia.

Foto por Raphael Tognini.

Antes das Jornadas de Junho do ano passado, a VICE já cobria atos do MPL. E, para quem acompanha de perto as manifestações relativas ao transporte coletivo e o trabalho de base feito por essa molecada – que é esperta e articulada –, acusar o MPL de conchavo com os black blocs chega a ser ingênuo. Matheus é incisivo: “O MPL tem uma relação com todos que vão para a rua. Nossa ligação com o black bloc é só essa. Não vamos deixar de falar com manifestante só porque ele decidiu preservar sua identidade cobrindo o rosto”.

Os advogados do MPL impetraram habeas corpus solicitando que o inquérito seja trancado, mas, até o fechamento desta matéria, não havia nenhuma resposta oficial da Justiça.

Na última segunda-feira, o ato "Não Vai Ter Copa" que rolou na Avenida Paulista acabou com dois caras presos, Fabio Hideki e Rafael Marques, acusados de associação criminosa, incitação de violência, resistência à prisão e desacato à autoridade. Ativistas acusam a polícia de forjar flagrante de objetos explosivos com ambos. Grella teria dito que essa foi a "primeira apreensão de black blocs em São Paulo" – mesmo com fotos e vídeos pipocando por aí em que Rafael é visto pelo ato sem o rosto coberto, muito menos com roupas pretas, e Hideki sendo revistado no metrô sem portar nada ilícito.

Forçar os militantes a depor é um recurso, e parece que Grella está disposto, sim, a usá-lo. Em resposta, o Passe Livre fará um debate na semana que vem em frente ao Tribunal de Justiça, convidando mais uma vez o secretário para uma conversa.

Siga a Débora Lopes no Twitter: @deboralopes