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Trabalho de Domingo - Hora Extra

Antes de aqui baixar espírito errado, melhor já defumar. Dois mil e onze está sendo um ano místico pra mim, e digo isso a toda gente da qual eu considere mais afeto. É na magia que agora busco o sucesso, com a branca ou a negra.

Antes de aqui baixar espírito errado, melhor já defumar. Dois mil e onze está sendo um ano místico pra mim, e digo isso a toda gente da qual eu considere mais afeto. É na magia que agora busco o sucesso, com a branca ou a negra. Por isso valem ressonar mais alguns dos batuques da visita que fiz ao Vale dos Orixás. Não muitos, que há quem transe ou descarregue, quem seja de a hóstia queimar, de Torá e de não confessar. Só mesmo os suficientes pra encerrar o trabalho começado. Meu nome eu quero limpo, e com entidade de crédito a lida é na hora extra. Mas daí pra cavalo, aguenta quem tem tamanho. Eu dou o passe. Deixo pra falar quem tem a mensagem.

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O Santuário ficava depois daquela curva. Parecia peregrinação.

"O umbandista não precisa de uma catedral como só o gênio humano é capaz de fazer. Ele só precisa de um pouco de natureza como Deus é capaz de criar." A frase é do pai Ronaldo Liniares, e essa é a placa da entrada.

Passando a portaria, te dá as boas vindas o Caboclo Gira-Mundo.

Logo depois, vem te receber o Zé Pilintra.

Seguindo em frente, dá-se no Cruzeiro das Almas

Diz o site do Santuário: "No passado, era comum, ao caminhar por uma estrada, encontrar uma pequena cruz. Quase sempre marcando o local de um desencarne, uma morte súbita -- talvez acidental, talvez assassinato. Neste Cruzeiro das Almas os caminhantes oravam pelo falecido e pediam proteção para sua jornada. Com o passar do tempo, este local de orações foi transportado por padres católicos para frente de suas igrejas. Tornaram-se, logo, alvo da religiosidade popular. Por isso, e para que essa tradição religiosa não se apague, foi erguido na entrada do Vale dos Orixás um grande Cruzeiro das Almas Santas e Benditas, onde oram e fazem oferendas os irmãos mais fervorosos".

Alguns são tão fervorosos que deixam oferendas tipo essa, com cérebros de novilho. Mentira! Isso é pão.

Vice: Podemos tirar foto do seu adesivo?
Francisco Fernandes: Claro! Eu que mandei fazer, viu? Não se encontra adesivo assim pra vender.

Sóesqueci de perguntar se era pra algum exu em especial.

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Radar inteligente que fique esperto.

Vice: Oi! Qual seu nome?
(???): [sorriso] Laís Rodrigues.

Você vem sempre aqui?
A gente vem com o terreiro algumas vezes.

E veio fazer o que hoje?
Já fiz oferenda pra Ogum [foto] e Iemanjá. Meu orixá é Iemanjá. Se o dia ficar assim até o final da tarde, vamos na cachoeira ainda, pra terminar um trabalho.

Faz tempo que você é da Umbanda?
Tô faz uns 16 anos, ou seja, praticamente minha vida inteira. [risos]Minha avó era mãe de santo, tinha terreiro, aí foi passando de geração em geração.

Essa é a galera do Terreiro Caboclo Tupinambá, que você já viu reverenciando Oxóssi. O cacique é o pai Antônio de Angola.

Vice: Oi. Estamos fazendo uma reportagem sobre o Santuário. Quem é a senhora?
Josefa, 67, filha de Oxum: Eu sou médium, sou do terreiro Caboclo Tupinambá. Recebo todas as entidades.

E a Umbanda, a senhora acha que está crescendo?
Tá crescendo sim. Acredito que por causa da evolução. Hoje você vê muitos jovens seguindo. [Depois disso o pai Ronaldo me disse o seguinte: "Antes a Umbanda era tida como religião de pretos e pobres. Hoje você vê jovens e muitos universitários"].

Alguma mensagem pra 2011?
Para esse ano eu vejo que precisamos ter muita fé, tolerância, paciência, serenidade e harmonia para com os irmãos. Precisamos nos unir, porque estamos atravessando uma fase não muito fácil.

Isso é muito bonito ou só eu acho?

Acabado o ritual, o povo do terreiro seguiu em fila indiana pra tenda alugada.

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Essa era outra turma, do terreiro Caboclo Pedra Branca e Vovó Catarina de Angola. Quase todas estavam ocupadas. Imagina esse monte de batucada junta. O som ambiente era astral demais.

Candomblé e catolicismo, cocar e crocs -- essa é a dona Etelvina. Foi por aqui que a câmera da Autumn foi abençoada.

Tinha trilha pra todos os lados. Essa levava pra uma das cachoeiras, aquela do batismo que você já viu.

Só pra lembrar que elas estão por todos os lados.

Eles também. Esse a gente quase chutou sem querer.

Até que perto do Reino dos Exus eu encontrei esses dois, vestindo não exatamente o que se espera do look da umbanda.

Vice: Vocês são da Umbanda?
Marco Antônio Roque, 24: Eu não. Fui umas cinco vezes em festas no centro Guardiões da Luz, em Jundiaí. Comecei a ir porque ele [Marcelo, da esquerda da foto] é e fiquei curioso.
Marcelo Matsubashi, 26, filho de Inhansã: A gente se conheceu em barzinho e tal, aí minha avó frequenta, e sempre vou com ela. Acabei trazendo ele. Estamos procurando um lugar pra começar os trabalhos.

Perto do Reino dos Exus…

Rs, rs, rs! Relaxa.

A caminho da saída, encontrei essa família. São três gerações aí. O da esquerda é o Marcelo, 34. No meio, dona Ana de Freitas, 82, mãe de santo faz 42 anos. O da direita é o Rogério, 21.

Vice: Quando você incorporou pela primeira vez?
Rogério: Eu tinha mais ou menos uns oito anos. Foi o Caboclo Boiadeiro. Nas batidas do tambor minha cabeça começou a rodopiar, os sentidos foram sumindo… Minha mão começou a formigar, o pé também, queria conversar, abrir a boca, mas não conseguia. Até que se manifestou, minha primeira entidade. Depois de um apagão e, quando acordei, o pessoal tava em volta de mim, me chamando.

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Só que claro que não fui embora sem falar com o pai Ronaldo, administrador do lugar. Ele fez questão de me levar até a oficina onde eles hoje constroem as figuras que enfeitam o Santuário. Atrás dele é a figura de Oxalá, que vai ter ao todo 17 metros de altura. "Quase lá com o Cristo Redentor", contou, depois de me lembrar a aventura que foi quando, lá no início de tudo isso, tiveram que transportar São Jorge, com um caminhão, de Pirituba até a pedreira. "Aproveitei que um dos irmãos de fé era policial militar, então perguntei se poderíamos ter escolta. Foram duas motos e uma viatura. Só que a gente tinha que parar sempre que fosse passar debaixo de um túnel, porque a figura só tem 4,15m, ainda em cima do caminhão. Não passava, tinha de descarregar, arrastar e subir de novo. Minha mãe foi muito homenageada nesse dia. [risos]"

Claro que passei na lojinha antes. Gostei mais que a do Beto Carrero World, mesmo porque os preços são justos.

Enfim, era isso. Vamos almoçar em São Bernardo, agora. Só guenta um minutinho. Te encontro no carro, Autumn.