No verão de 2015 – o mais quente já registrado no Canadá na época – o calor começou a perturbar demais Meg Ruttan Walker, ex-professora de Kitchener, Ontário. “Os verões têm sido muito estressantes pra mim desde que tive meu filho”, disse Walker, que agora é ativista pelo meio ambiente. “É difícil aproveitar uma estação que é um lembrete constante de que o mundo está cada vez mais quente.”
“Acho que minha ansiedade atingiu um pico”, continuou Walker. Parecia que não havia mais para onde ir, e apesar dela ter conversado com seu clínico geral sobre ansiedade, ela não tinha procurado ajuda para sua saúde mental. De repente, ela estava pensando em se autoflagelar. “Mesmo achando que eu não ia realmente me machucar, eu não sabia como viver com o medo do… apocalipse, acho? Meu filho estava em casa comigo e tive que ligar para uma amiga para cuidar dele, porque eu não conseguia olhar pra ele sem começar a chorar”, disse Walker. Ela acabou se internando numa clínica psiquiátrica naquela noite.
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O caso dela é extremo, mas muitas pessoas estão sofrendo do que está sendo chamado de “desespero climático”, uma sensação de que as mudanças climáticas são uma força impossível de deter que vai extinguir a humanidade e tornar a vida antes disso fútil. Como David Wallace-Wells apontou no seu best-seller de 2019 The Uninhabitable Earth: “Para a maioria das pessoas que percebe que a crise climática já está acontecendo e tem a intuição de uma metamorfose completa no mundo em breve, a visão é sombria, geralmente tirada de imagens escatológicas perenes de textos como o Apocalipse da Bíblia, o livro inescapável para a ansiedade ocidental sobre o fim do mundo”.
“Desespero climático” é uma frase usada pelo menos desde o livro de 2010 de Eric Pooley The Climate War: True Believers, Power Brokers, and the Fight to Save Earth, mas vem circulando mais amplamente nos últimos dois anos. Na Suécia, o termo klimatångest é popular desde pelo menos 2011 (o ano em que um artigo da Wikipédia com o nome foi criado). Em The Uninhabitable Earth, Wallace-Wells aponta que a filósofa Wendy Lynne Lee chama esse fenômeno de “econiilismo”, e o político e ativista canadense Stuart Parker prefere “niilismo climático”, enquanto outros criaram termos como “futilitarismo humano”.
Seja lá como você chame, essa é uma condição inegável, mesmo ainda não tendo um critério de diagnóstico formal. (Mas ela pode alcançar esse status – levou décadas para “burnout” ser declarado oficialmente um “fenômeno ocupacional” pela Organização Mundial de Saúde.) É impossível saber quantas pessoas como Walker experimentaram desespero climático como uma crise de saúde mental, mas o desespero está ao nosso redor: na sua reação momentânea mais intensa à última notícia sobre o clima, nos memes e piadas sombrias sobre a extinção humana, e mesmo em trabalhos de filosofia e literatura. Agora existe um grupo de cientistas e escritores que não só acreditam na desgraça iminente, mas parecem recebê-la de braços abertos.
Esse desespero pode ser uma consequência das mudanças climáticas estarem na cabeça das pessoas mais do que nunca. Segundo a cientista social e psicóloga Renne Lertzman, autora de Environmental Melancholia de 2015, cada vez mais pessoas estão percebendo que as mudanças climáticas são reais, assustadoras e não estão sendo abordadas. “É uma experiência surreal porque ainda estamos no mesmo sistema, então você vê as pessoas andando de carro, todo mundo comendo muita carne, e todo mundo agindo como se isso fosse normal”, ela disse. Para algumas pessoas, esse sentimento é incompatível com viver normalmente.
Mas desespero climático vai muito além de uma preocupação razoável com um planeta cada vez mais quente, o que vai tornar a vida mais difícil e obrigar a humanidade a fazer uma escolha difícil. Em vez de nos motivar, desespero climático nos pede para desistir. Em um estudo de 2009 das pesquisadoras britânicas Saffron O’Neill e Sophie Nicholson-Cole, visualizações de dados relacionados ao clima foram apresentadas para participantes que eram incentivados, com base no medo, a tomar uma ação ou algo ruim poderia acontecer. Muitas vezes esses apelos produziam “negação, apatia, evitação e associações negativas”. No final, as pesquisadoras concluíram que “imagens das mudanças climáticas podem evocar sentimentos poderosos de questões importantes, mas isso não faz os participantes necessariamente se sentirem capazes de fazer algo sobre isso; na verdade, pode acontecer o contrário”. Em outras palavras, se você diz para as pessoas “algo precisa ser feito ou vamos todos morrer”, as pessoas tendem a escolher a porta número dois, por mais irracional que esse impulso pareça.
Especialistas dizem que agora é a hora errada para aceitar o fim do mundo. Segundo Andrew Dessler, professor de ciências atmosféricas da Texas A&M University, a certeza da extinção humana não é correta, nem é “um ponto de vista particularmente útil”. Dessler me explicou por e-mail que “ainda temos o controle (em maior parte) do nosso destino”.
“É doloroso”, disse Lertzman. “É muito doloroso ser humano neste ponto da história.” Mesmo assim, ela acrescentou que “Precisamos traduzir nossa preocupação – nosso desespero, raiva, nossos sentimentos – em ação”.
De longe, desespero climático pode ser visto como ansiedade e depressão comuns em pacientes que estão obcecados com o clima, mas é difícil negar o efeito único que as mudanças climáticas estão tendo na saúde mental. No dia 5 de maio, um grupo de psicólogos e psicoterapeutas na Suécia publicou uma carta aberta para seu governo, apontando o status quo perverso das mudanças climáticas – a preocupação não é tanto que o meio ambiente está desmoronando, mas que nada está sendo feito sobre isso.
Especificamente, a carta apontou que crianças estão conscientes de que os adultos estão deixando um mundo de merda para elas, e essa é uma coisa muito horrível para saber quando se é criança. “Uma crise ecológica continuada sem um foco de solução do mundo adulto e de quem toma as decisões, cria um grande risco de um aumento de jovens afetados por ansiedade e depressão”, diz a carta.
Greta Thunberg, a ativista do clima sueca de 16 anos que liderou protestos recentes em escolas do mundo todo, disse em sua palestra TED Talk em 2018 que saber mais sobre as mudanças climáticas foi um inferno para sua jovem psique. “Com 11 anos eu fiquei doente. Caí em depressão. Parei de falar e parei de comer. Em dois meses, perdi quase 10 quilos.” Mais tarde ela descobriu que tinha Asperge, TOC e era uma muda seletiva. Aí ela saiu de seu desespero e encontrou uma voz quando decidiu protestar – se recusando a ir para a escola até que o mundo demonstrasse que estava cuidando de seus problemas.
Simplesmente ler os fatos sobre as mudanças climáticas pode produzir reações não muito diferentes das de Thunberg. The Uninhabitable Earth chama as mudanças climáticas de “o fim do normal”, explicando que “Já saímos do estado das condições ambientais que permitiram que o animal humano evoluísse em primeiro lugar, numa aposta insegura e não planejada sobre o que esse animal pode aguentar”. O relatório do ano passado da ONU sobre o provável fracasso da humanidade em impedir o aquecimento antes do limite de 1,5 graus tinha uma mensagem similar, assim como o relatório de maio sobre como 1 milhão de espécies estão caminhando para a extinção devido a degradação ambiental causada pelos humanos, supondo que não mudemos nosso curso e paremos de gerar gases-estufa (além de outros tipos de degradação do meio ambiente). Também em maio, uma think tank australiana chamou as mudanças climáticas de “uma ameaça de curto a médio prazo para a civilização humana”.
Esses sinais de alerta sem dúvida ajudam a conscientizar, mas para algumas pessoas essa consciência pode acabar em desespero. Maisy Rohrer, uma pesquisadora de desenvolvimento de 22 anos da Universidade de Nova York, tem sofrido para lidar com as mudanças climáticas há anos. “Acho que o desespero começou quando eu tinha 18 anos, e comecei a aprender mais sobre quanto a Terra está mudando. Eu tinha ataques de pânico com as calotas polares derretendo, os ursos polares morrendo de fome, e ligava para minha mãe dizendo que a vida era inútil”, ela disse. Na época ela acreditava que a raça humana “deveria acabar”.
“Eu tinha pensamentos suicidas e uma grande parte da minha justificativa para sentir que estaria melhor morta era que os humanos estavam prejudicando muito a Terra, e eu como uma pessoa só não podia ter um impacto positivo suficiente, então era melhor não estar aqui para causar mais danos”, disse Rohrer.
Mesmo quem não tem pensamentos suicidas pode ser afetado de maneiras profundas pelo desespero climático. Brooke Morrison é uma radialista de 26 anos da Carolina do Norte que conversa entusiasmadamente sobre música pop quando está no ar. Fora do ar, o mundo dela não é tão brilhante. “Sinto que já estou de luto pela minha vida e meu futuro”, ela disse. Mesmo seus planos de vida – ela quer se mudar para Los Angeles – são coloridos por seu pessimismo. “Acredito 100% que a Costa Oeste estará embaixo d’água em breve, e gostaria de morar lá enquanto ainda há tempo”, ela disse.
Há vários “níveis”, como ela chama, em que ela sofre com os horrores ecológicos próximos: “Sentir como se já tivesse perdido. Sentir que tudo está fora do controle. Sentir que não posso começar uma família, então tento me convencer a não querer uma ou mesmo me casar. Só desistir. Aí ainda tentar manter um desejo de continuar seguindo em frente. Tentar se agarrar a alguma forma de esperança”.
Mas quando diz “esperança”, ela não quer dizer esperança para o planeta. Ela me disse em termos claros que não acredita no valor das tentativas da humanidade de mitigar as mudanças climáticas: “Acho que é tarde demais”.
Esses sentimentos podem ser poderosos, mas não são baseados em ciência dura. Michael Mann, o climatologista da Penn State que geralmente recebe o crédito por ajudar a chamar atenção do público para as tendências históricas que são centrais para nosso entendimento das mudanças climáticas, chama essa perspectiva de “catastrofismo”, e quer deixar claro que as evidências não apoiam isso. “Infelizmente há alguma ciência ruim por trás de muito desse ‘catastrofismo’”, ele disse. “Não há necessidade de exagerar ou distorcer o que a ciência tem a dizer.”
E aqui vai o que a ciência tem a dizer: Modelos que usam o status quo – ou seja, “não mudar nada” como base – mostram que estamos caminhando para um penhasco em termos da habitabilidade planetária. Mas esses modelos provavelmente estão exagerando a inação da humanidade. Países (pequenos) inteiros têm planos sérios para derrubar sua pegada de carbono rapidamente, e países maiores estão fazendo progressos sérios, só que não rápido o suficiente. Segundo essas tendências, é possível imaginar que a humanidade vai atingir uma estabilidade climática relativa, mesmo enquanto os efeitos das nossas emissões de gases-estufa – alguns deles terríveis – continuam, talvez por milhares de anos. Isso seria melhor que nunca descarbonizar, e nunca mais atingir nenhuma aparência de estabilidade.
Dessler coloca a coisa da seguinte maneira: “Acho que está claro que as emissões vão chegar a zero e estabilizar o clima em algum ponto deste século. Mas levar 50 anos para fazer isso vai render um mundo diferente do que se fizermos em 20 anos. Depende de nós decidir em qual desses mundos queremos viver”.
A humanidade claramente precisa tratar as mudanças climáticas como um problema urgente, e como Wallace Wells aponta em Uninhabitable Earth, é importante discutir possibilidades extremamente pessimistas desde que elas sejam de fato possíveis, porque “quando descartamos as possibilidades de pior caso, isso distorce nosso senso de resultados prováveis, que então consideramos como cenários extremos para os quais não precisamos planejar com tanto cuidado”. Mas o ímpeto intelectual do desespero climático leva isso além, insistindo que apenas os cenários de pior caso valem consideração séria.
Essa é uma visão de mundo que desabrochou em lugares como o subreddit /r/collapse, que tem uma curadoria de notícias para demonstrar que o mundo está chegando ao fim. Os autores Paul Kingsnorth e Dougald Hine colocam o termo “soluções” em citações assustadoras de seu Dark Mountain Manifesto de 2014, que, mesmo sendo praticamente um chamado para a guerra, também abraça a sociedade “se desfazendo”. E há cientistas que se vendem como profetas do fim do mundo, só para que suas profecias sejam refutadas. Entre eles está o notório exagerador do derretimento das calotas polares Peter Wadhams, e o ecologista e fabulista do “fim está próximo” Guy McPherson.
Mas nada se compara ao texto viral intensamente sombrio Deep Adaptation: A Map for Navigating Climate Tragedy, do professor da University of Cumbria Jem Bendell, um artigo de 2018 que Bendell autopublicou depois que um jornal acadêmico se recusou a publicar. O artigo argumenta que o colapso total da sociedade está a caminho, e descreve a vida no meio desse colapso com frases fortes como “Você terá medo de ser violentamente assassinado antes de morrer de fome”. O artigo foi tão poderoso que fez pessoas buscarem terapia e até largar seus empregos para morar mais perto da natureza.
Mas Deep Adaptation vem sendo criticado como um trabalho tosco e exagerado pelos padrões acadêmicos. Mostrei Deep Adaptation para o antropólogo Joseph Tainter, o maior estudioso que encontrei no tópico colapso da sociedade, e ele me disse o seguinte: “Achei o artigo de Bendell simplista e superficial. Como ele também é alarmista, vou chamá-lo de irresponsável. Depois de revisar tendências ambientais relacionadas com as mudanças climáticas, ele não conseguiu demonstrar como isso pode levar a ‘fome, destruição, migração, doenças e guerra’. As mudanças climáticas podem levar a alguma ou todas essas coisas, mas num trabalho assim a pessoa precisa demonstrar como”. (Em resposta a Tainter, Bendell me disse que seu artigo não explicava o mecanismo do colapso porque “já estava longo demais, considerando o resumo da ciência climática e dos processos de negação”, e disse que o artigo “estava falando com meu campo profissional de gerenciamento de sustentabilidade e não com outros campos, como aquele que estuda a história de colapsos da sociedade”.)
Qualquer um que acompanha as mudanças climáticas sabe quão devastadoras serão suas consequências. Mas há preocupação entre acadêmicos e ativistas de que perspectivas como de Bendell mais atrapalham que ajudam. Mann, o climatologista, acha que mesmo Wallace-Wells vai longe demais. Em resposta ao artigo da revista New York de 2017 em que o livro de Wallace-Wells foi baseado, Mann escreveu: “Medo não motiva, e apelar pra ele é contraprodutivo, já que tende a distanciar as pessoas do problema, as levando a não se envolver, duvidar ou até descartar a questão”.
Indo um passo além, o escritor e ativista do clima britânico George Monbiot vê sucumbir ao desespero como uma falha moral. “Jogando nossas mãos pra cima sobre as calamidades que podem um dia nos afetar nós as disfarçamos e nos distanciamos delas, convertendo escolhas concretas em pavor indecifrável”, Monbiot escreveu em abril. “Queremos nos livrar da agência moral dizendo que já é tarde demais para agir, mas fazendo isso, condenamos outras pessoas à destituição ou morte.”
Se desespero gera inação, isso obviamente é um problema. Mas outros acham que um certo pavor pode ser útil. Num ensaio de quatro sociólogos (Kasia Paprocki, Daniel Aldana Cohen, Rebecca Elliott e Liz Koslov) publicado em maio, os autores defendem algo chamado “desconforto útil”. Eles escrevem que não puderam deixar de notar que seus colegas em ciências físicas estão tendo dificuldade para lidar com “as evidências devastadoras de um apocalipse”, e que eles “estão se desesperando por causa do que sabem e com como estão sendo ignorados, descartados ou até mesmo ameaçados”. No entanto, eles escreveram, que “Acreditamos que nossos desconfortos são produtivos. Eles nos permitem rejeitar o catastrofismo e esclarecer possibilidade para um futuro melhor”.
De fato, enquanto o desespero cresce, a visão dos americanos das mudanças climáticas parece ter mudado. Em fevereiro, Yale publicou uma pesquisa de atitudes sobre mudanças climáticas, e apontou um aumento de 8% em americanos se dizendo “alarmados” com as mudanças climáticas em apenas um ano. Essa pesquisa foi conduzida logo depois do lançamento do relatório especial da ONU de 2018 (na mesma época que o artigo da New York de Wallace-Wells também estava circulando). A pesquisa de Yale não liga esses pontos, e correlação não significa causa, mas é tentador pensar que alguma coisa chacoalhou muitas pessoas de sua complacência – pelo menos momentaneamente. Políticos também estão cada vez mais falando sobre as mudanças climáticas, com a esquerda se alinhando atrás do enquadramento do Green New Deal, e até republicanos dispostos a considerar políticas climáticas.
Isso provavelmente não é um grande conforto para quem já está sofrendo com as questões de saúde mental que o diálogo cercando as mudanças climáticas pode piorar.
“Eu sentia que cada refeição e cada bebida que eu tomava com um canudo seria mais prejudicial do que provavelmente era, e isso me levou a parar de comer o suficiente e tomar outras decisões que prejudicavam minha saúde no geral”, disse Rohrer. “E isso por sua vez alimentou minha depressão com a falta de nutrição e sono, o que aumentou minha paranoia e pânico com o clima. É um ciclo vicioso.”
Katerina Georgiou, uma terapeuta de Londres, me disse por e-mail que esse desespero climático é “geralmente ligado a clientes que já apresentam um diagnóstico de ansiedade (generalizada, de saúde ou TOC)”. Georgiou explicou que esses pacientes estão sofrendo “muito”, mas que pela avaliação dela, isso “tem menos a ver com o tópico em si e mais com um padrão de como a ansiedade funciona. Mudanças climáticas por acaso é onde a fixação está, mas é a fixação que é o sintoma”.
Quando perguntei que estratégias para lidar com isso ela sugeria, a resposta de Georgiou foi simples: “Reduzir o tempo assistindo as notícias e nas redes sociais”.
Mas muitas pessoas com quem falei que sofrem de desespero climático não queriam que sua fixação com o futuro do planeta fosse tratada como um sintoma. Para esses pacientes, um primeiro passo importante é simplesmente encontrar um terapeuta que reconheça que as mudanças climáticas não são uma manifestação de problema mental.
Rohrer ficou aliviada quando eventualmente encontrou alguém assim. “Ela me ouviu, me deixou falar por duas horas na nossa primeira consulta, e basicamente me disse que eu precisava colocar coisas como meu desespero específico com o clima em segundo plano, e questionar minha tendência de catastrofizar tudo… No começo, fiquei muito irritada”, me disse Rohrer. “Mas quando ela explicou por quê, e fizemos um plano que incluía voltar a isso, me senti compreendida, o que ajudou.”
Segundo Walker, a ativista que teve a crise em 2015, o terapeuta perfeito reconheceria que sim, saúde mental é o problema em primeiro plano, mas também reconhecer a “enormidade da crise climática”. Ela me disse que também precisaria “de alguém com quem eu pudesse trabalhar a longo prazo, porque ainda tenho que viver num mundo onde a crise climática não vai desaparecer. Ficar presa no desespero não é uma opção para mim como mãe ou ativista”.
Lertzman acha que os terapeutas precisam mudar, porque “estamos falando de um fato novo e sem precedentes, e precisamos de novas práticas para abordar esse problema”, mas ela acrescentou que “isso não significa começar do zero”. Ela disse que de um jeito ou outro, precisamos ter muitas conversas sem barreiras sobre como nos sentimos com as mudanças climática, onde nenhuma emoção é errada.
“Quando há uma crise em nossas vidas – como perder o emprego, perder alguém, um divórcio, revoltas, ou agora pessoas sendo deslocadas cada vez mais por desastres naturais, enchentes e incêndios – precisamos se capazes de processar nossa experiência, geralmente falando com outras pessoas”, disse Lertzman. “Aí podemos ser mais capazes de realmente seguir em frente. Esse contexto não é diferente.”
Para os terapeutas, Lertzman sugere uma prática chamada entrevista motivacional (EM), criada pelos psicólogos William Miller e Stephen Rollnick. Entrevista motivacional visa orientar pessoas para mudanças comportamentais difíceis mas necessária através de perguntas. “É preciso uma conversa de 10 a 15 minutos usando EM versus uma interação de cinco minutos onde você simplesmente diz ‘Aqui, você precisa comer isso’ ou ‘Você precisa fazer mais exercício’”, disse Lertzman. Ela acrescentou que “respeitar nossa experiência como valiosa e cheia de sabedoria” é a parte mais importante da terapia derivada de EM para desespero climático, e que técnicas específicas tiradas da EM incluem “conversar sentado num círculo, criar espaços seguros para ser honesto e vulnerável, e compartilhar nossas histórias”.
Mesmo que terapias como essa possam transformar o desespero das pessoas em ação útil, parece que esse é um processo lento para se passar num momento em que, como Bill Nye apontou recentemente, o mundo está pegando fogo. Ainda assim, Lertzman me disse, às vezes temos que ir devagar com as coisas para poder seguir em frente. “Há uma frase em EM: ‘Não temos tempo para não dar um tempo’”, ela disse.
Mas se aprender a motivar as pessoas parece demorado, tem outro jeito, muito mais antigo e simples, de processar o desespero. Se entregar a ele por um momento. Chorar. Se permitir reconhecer quão ruim é tudo isso, e como muito disso nunca, nunca vai melhorar. Resumindo: passar pelo luto.
Walker me disse que ela usa o luto como um jeito de processar suas emoções sobre o clima. “Temos que reconhecer que mudamos nosso planeta. Nós o tornamos mais perigoso e mais quente”, ela disse.
Lertzman concorda com essa abordagem. “É saudável passar pelo luto”, ela disse. “Precisamos realmente parar. Precisamos honrar e se envolver com o que estamos sentindo. Não é a mesma coisa que chafurdar no desespero. Não é a mesma coisa que entrar num buraco e nunca mais sair.”
“Luto é um processo. Um reconhecimento”, explicou Walker. “Mas você ainda pode seguir em frente.”
Mike Peal é o autor do livro The Day It Finally Happens Alien Contact, Dinosaur Parks, Immortal Humans – and Other Possible Phenomena. Siga o cara no Twitter.
Matéria originalmente publicada na VICE EUA.
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