Música

A Desmonta celebra 10 anos de existência ranqueando os 11 discos mais importantes do selo

O selo Desmonta completou em 2017 dez anos de serviços prestados à música alternativa. Para marcar a data, temos aqui a première digital de uma coletânea que serve de aperitivo para os lançamentos comemorativos em k7. No formato físico, são, ao todo, cinco splits, com somente dez cópias cada. Nos splits figuram as seguintes parcerias: Kiko Dinucci vs Valério’s, Mundotigre vs MNTH, Paulo Dandrea vs Psilosamples, Toti vs Leila e Edgar vs Tildaflipers. Os encontros dão uma boa amostra do perfil da Desmonta para quem está conhecendo o trabalho do Luciano Valério, o responsável pela iniciativa, somente agora, ao mesmo tempo em que celebra o fechamento de um ciclo repleto de ótimos frutos sonoros.

“A maneira como eu encaro o selo é praticamente a mesma”, diz Luciano, como que fazendo um balanço de tudo o que rolou. “Ainda curto muito a ideia de trazer músicos que admiro. Pessoas ou projetos que não conseguia imaginar um dia estando por aqui, compartilhando do meu dia a dia, família, amigos, etc. Foi assim com o pessoal do Lungfish (Daniel Higgs, Asa Osborne e Nathan Bell), do Sonic Youth (Lee Ranaldo e Steve Shelley), Fugazi (Joe Lally), entre muitos outros que vieram e virão.”

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Além de trabalhar com artistas nacionais, a Desmonta lança algumas coisas de fora com passagem pelo Brasil, tipo Why Should I Get Used to It, do Joe Lally, em parceria com a Dischord Records (EUA); Variations, do Zomes (Asa Osborne, do Lungfish); Viv, do Daniel Higgs (Lungfish); Rain Music, do Nathan Bell (Lungfish); e Zony W Pracy, do LXMP. “Um lance legal de trabalhar com lançamentos do pessoal de fora é que boa parte desses discos também acaba ficando por lá para ser distribuída na Dischord, Thrill Jockey (EUA) e Lado ABC (Polônia)”, comenta Lu.

A história da negociação para lançar e trazer o Joe Lally, do Fugazi, ao Brasil, em novembro de 2006, tem a ver com a própria origem do selo. O Lu acabara de voltar de um longo período em terras estrangeiras no intuito de fazer virar por aqui um projeto similar às coisas com as quais ele esteve envolvido na gringa. Na época em que morei em Amsterdã eu acompanhava bastante o circuito de shows e turnês que passavam por lá”, conta ele. “Eu estava sempre atento à agenda de bandas ligadas a selos como Touch and Go, Thrill Jockey, e, principalmente, a Dischord. Pouco depois de chegar a São Paulo, eu vi no site da Dischord que o Joe Lally estava lançando seu primeiro disco solo, There to Here. Mandei um email pra Dischord e consegui entrar em contato direto com o Joe.”

A partir daí, foi um caminho sem volta. O Lu chamou o Mauricio Takara pra tocar bateria e percussão na turnê do Joe, e o Takara, por sua vez, convidou o Chankas (Hurtmold) pra tocar guitarra. “O rolê foi intenso e muito legal. Vários shows em várias cidades e estados. Com certeza foram alguns dos eventos mais marcantes e divertidos que eu já fiz”, relembra. Ao final da turnê, o Takara propôs ao Lu a prensagem de seu terceiro disco (Conta, de 2007), e assim nasceu a Desmonta, que na sequência apostou em artistas como Kiko Dinucci, Psilosamples e HAB, entre outros.

Desde que o selo começou a rolar, vem realizando esporadicamente também algumas festas e festivais. Caso da Engasga Gato, no extinto Tapas, na Rua Augusta. Depois, a Desmonta preencheu ao longo de 2014 a programação de shows aos sábados na Casa Nam. O evento mais recente, e na real o primeiro em que o Luciano conseguiu juntar quase todos os músicos — 16 nomes — do selo, foi o Festival Desmonta 10 anos, que aconteceu nos dias 4 e 5 de março no Disjuntor, na Moóca.

O selo fecha sua primeira década com 19 artistas no catálogo e um total de 29 álbuns, lançados como Desmonta, mais dez, lançados como Bafo Quente, subselo dedicado a gravações e projetos mais “despretensiosos”.

Ouça no player abaixo a coletânea Desmonta 10 Anos:

Além de liberar em primeira mão a playlist Desmonta 10 Anos, Luciano Valério aceitou o convite do Noisey para ranquear e comentar os dez lançamentos mais importantes da Desmonta nesse tempo de atividade (daí ele mandou 11, e deixamos assim). Se liga aí:

1. M.Takara – Conta (2007)
“Além de ser o primeiro disco do selo. eu também acho um dos melhores discos do M.Takara. Foi o disco que abriu o caminho do selo e levou minhas ideias adiante.”

2. Joe Lally – Why Should I Get Used to It (2011)
“Coloco esse disco na lista em razão daquilo que o Joe Lally representa na história do selo. Foi com a vinda do Joe que começamos. Foi um lançamos em parceria com a Dischord Records, acho que um dos poucos que eles já dividiram com outro selo.”

3. M.Takara 3 – Sobre Todas e Qualquer Coisa (2010)
“Fase mais ‘banda’ do M.Takara, que contava com o Rogério Martins na percussão e Guilherme Valério na guitarra. É dançante, percussivo e torto do começo ao fim. É a fase em que o trio tocou muito, excurcionou pelos Estados Unidos, a música “antelope” saiu uma porrada de de videos de skate…”.

4. Duo Moviola – O Retrato do Artista Quando Pede (2009)
“Este é um disco do duo formado pelo Kiko Dinucci e Douglas Germano, na época ambos do Bando Afromacarrônico. Ótimas letras sobre lendas urbanas, trágico, cinematográfico. Disco com poucos elementos (violão, voz e percussão).”

5. HAB – Pessoas Não (2017)
“Sem dúvida o melhor registro do HAB. É um disco mais cantado. A kalimba aqui fica em primeiro plano. Explosão de energia na gravação e ao vivo.”

6. metá metá (2014)
“Primeiro álbum do metá metá, ainda em trio e soando mais acústico.”

7. mundotigre (2014)
“Acho que esse foi o álbum mais baixado do selo. mundotigre é um projeto live de música eletrônica do M.Takara.”

8. Psilosamples – Recloop (2015)
“Esse é uma daquelas obras que entram na ideia de pegar pequenos elementos e transformar em linguagem. É um repertório todo gravado com ambiência de sons captados no mato usando o gravador de um celular.”

9. Daniel Higgs – Viv (2015)
“Trabalho gravado no Rio de Janeiro (Audio Rebel) durante a turnê do Higgs. Milhões de histórias e risadas ao lado desse cara. Disco carregado de lembranças.”

10. Kiko Dinucci e Bando Afromacarrônico – Pastiche Nagô (2008)
“Segundo lançamento do selo, e, de certa forma, uma aposta bem ousada pra época. Tanto que foi pouco aceito pelo o pessoal da música experimental que nos acompanhava por causa do M.Takara e do Joe Lally, por exemplo, e também pelo meio do samba e da música brasileira.”

11. LXMP – Zony W Pracy (2016)
“O Lado ABC (selo de Varsóvia – Polônia) fez uma edição limitada dos primeiros discos do HAB e do M.Takara, Puro Osso. Retribuímos com esta edição especial para a turnê que eles armaram pro final de 2016. Foram somente 40 cópias em vinil com capa em serigrafia numerada uma a uma. Um dos projetos mais insanos de se assistir ao vivo.”